
O escritório de imprensa das autoridades palestinas da Faixa de Gaza lança um grave alerta de que mais de 100,000 crianças, na idade de até dois anos, enfrentam “morte iminente nos próximos dias” se não receberem imediato suplemento alimentar, na ausência de nutrição por amamentação devido à desnutrição das mães:
O jornal Middle East Eye relata o caso recente da bebê Zainab Abu Haleeb, cuja mãe expressou sua revolta ao lado da filha morta: “Tenho certeza de a mídia a viu, o mundo inteiro a enxergou, mas ninguém atendeu ao nosso apelo”.
“Minha mensagem para o mundo, que não nos ouviu no começo, será que vão nos ouvir agora que ela se foi?”, diz ainda a mãe de Zainab.
A tragédia adquire dimensões similares ao ocorrido em Auschwitz, e mobiliza entidades e personalidades judaicas como os mil rabinos e entidades israelenses. Relatório publicado pela entidade israelense “Médicos pelos Direitos Humanos” acompanha informe da entidade “B’Tselem” para dar a dimensão dos crimes cometidos pelas forças genocidas do regime de Netanyahu.
“Israel está cometendo genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza” é a conclusão dos dois grupos B’Tselem e do Médicos pelos Direitos Humanos.
Em seu relatório, a B’Tselem examinou as políticas e as declarações de altos políticos e comandantes militares das foroças agressoras chegando à “conclusão inequívoca de que Israel está tomando medidas coordenadas para destruir intencionalmente a sociedade palestina em Gaza”.
Repleto de análises estatísticas, depoimentos pessoais e documentação de crimes e incitação a execuções, o relatório do B’Tselem convoca à ação contra a barbárie, diante dos cerca de 60 mil mortos e 145 mil feridos.
“Nada nos prepara para a percepção de que fazemos parte de uma sociedade que comete genocídio. Este é um momento profundamente doloroso para nós. Mas, como israelenses e palestinos que vivem aqui e testemunham a realidade todos os dias, temos o dever de dizer a verdade o mais claramente possível: Israel está cometendo genocídio contra os palestinos”, declarou Yuli Novak, diretora executiva do grupo.
EXTREMA DIREITA PROMOVE AGENDA DE DESTRUIÇÃO E EXPULSÃO
“O governo messiânico extremista e de extrema direita faz campanha para promover uma agenda de destruição e expulsão”, apontou.
O que está evidente, como nos mostram as imagens todos os dias, é que “as vidas de todos os palestinos, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, estão sendo tratadas como inúteis. Eles podem morrer de fome, ser mortos, deslocados – e a situação continua piorando”.
Da mesma forma que no território palestino à beira do Mediterrâneo, observou a B’Tselem, os padrões de “destruição e aniquilação” vêm sendo repetidos na Cisjordânia ocupada, levando a um “risco real de que o genocídio se espalhe para além da Faixa de Gaza”.
Veja no link um resumo do relatório da B’Tselem:
https://www.btselem.org/sites/default/files/publications/202507_our_genocide_summary_eng.pdf
Com estrutura em 105 países, o Médicos Pelos Direitos Humanos (PHR, na sigla em inglês) apresentou uma análise jurídica detalhada sobre a agressão israelense, com foco no “desmantelamento deliberado e sistemático do sistema de saúde de Gaza e de outros sistemas vitais necessários à sobrevivência da população”.
Com base nos horrores impostos, frisou, atende aos critérios de genocídio previstos na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, da qual Israel é signatário. Isso incluiu ataques israelenses diretos a hospitais, o bloqueio deliberado de ajuda médica e de evacuações de doentes para fora do território, bem como a morte e o sequestro de profissionais da área da saúde. “Não se trata de danos incidentais de guerra – é uma política deliberada que visa prejudicar a população palestina como um grupo”, o relatório.
“Como pessoas que acreditam na santidade da vida, somos obrigados a dizer a verdade: isso é genocídio e devemos combatê-lo”, enfatizou Guy Shalev, diretor executivo do PHR, lembrando que “por 22 meses, hospital após hospital foi atacado, pacientes tiveram negado tratamento que poderia salvar suas vidas e a ajuda foi bloqueada. Este é um padrão claro e consistente de destruição”.
Em nome dos profissionais médicos, Shalev fez ecoar a denúncia das “condições impossíveis” em que se encontram em Gaza, e que é preciso “encarar a verdade e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para protegê-los”.
Ambos os grupos criticaram duramente a comunidade internacional, acusando-a de cumplicidade com a covaração criminosa, seja por meio de apoio ativo ou inação, e apelaram para que sejam usados todos os meios previstos no direito internacional para barrar o massacre.
Em dezembro de 2024, a Anistia Internacional foi a primeira grande organização a concluir que Israel havia cometido genocídio em Gaza, enquanto a Human Rights Watch concluiu que “atos genocidas” haviam sido cometidos.
Francesca Albanese, a principal especialista da ONU em Palestina, reiterou com dois relatórios no ano passado que um genocídio estava em curso e agora os EUA pedem o afastmento da comissária da ONU.
No início de julho, Omer Bartov, renomado professor israelense de estudos sobre Holocausto chamou a guerra de Israel em Gaza de um caso “inevitável de genocídio”. “Tendo crescido em um lar sionista, vivido a primeira metade da minha vida em Israel, servido nas Forças de Defesa de Israel como soldado e oficial e passado a maior parte da minha carreira pesquisando e escrevendo sobre crimes de guerra e o Holocausto, essa foi uma conclusão dolorosa de se chegar, à qual resisti o máximo que pude. Mas dou aulas sobre genocídio há um quarto de século. Reconheço um quando o vejo”, concluiu.
Em junho, uma Comissão de Inquérito da ONU constatou que ataques aéreos, bombardeios, incêndios e demolições por israelenses danificaram ou destruíram mais de 90% das escolas e prédios universitários em toda a Faixa de Gaza. Um estudo realizado no início deste ano constatou que 80% da infraestrutura de água e saneamento de Gaza foi destruída, em meio a uma população de “cadáveres ambulantes” em meio ao esgoto a céu aberto.