Terceira cúpula faz declaração pela paz, decide religar estradas e ferrovias; fecha campo de teste de Tongshang-ri e anuncia candidatura comum para sediar Jogos Olimpícos de 2032
A busca da paz permanente e da reunificação está mais forte na península coreana, após a cúpula de três dias de Pyongyang, reunindo o líder do Norte, Kim Jong Un, e o presidente do Sul, Moon Jae-in, e encerrada nesta quinta-feira (20), em que estes foram saudados, por mais de 100 mil pessoas nas ruas, aos brados de “Pátria, reunificação!” e acenos com flores e bandeiras.
Moon estava acompanhado da primeira-dama, Kim Jung-sook, de vários ministros – entre esses, Unificação e Defesa – e de uma grande comitiva de empresários do sul, inclusive os executivos-chefes dos maiores chaebols. Na chegada, Moon foi afetuosamente recepcionado pelo próprio Kim e homenageado com honras militares.
Kim agradeceu a Moon pelos esforços pela realização da cúpula com Trump “que estabilizou a situação na região”. Em resposta, Moon saudou a “audaz decisão de Kim de abrir uma nova era”. Falando sobre o quadro no norte, sob brutais sanções, Kim disse a Moon que “o nível de acomodação e programação que estamos lhe proporcionando pode ser modesto, mas é com a maior sinceridade e de todo coração”.
Na véspera da viagem, Moon havia afirmado que seu objetivo era “a paz”, acrescentando que “isso não significa uma paz temporária que pode variar com a situação internacional, mas uma paz irreversível e permanente que permanece inabalável, não importa o que aconteça internacionalmente”.
Em outro momento de emoção incontida, no Estádio 1º de Maio, 150 mil pessoas aplaudiram de pé a chegada de Kim e Moon para a apresentação ali dos Jogos de Massa. De surpresa, Kim pediu a Moon que fizesse um discurso, e foi atendido.
“Proponho que devemos terminar completamente os últimos 70 anos de hostilidade e dar um grande passo de paz para nos tornarmos um só novamente”, afirmou Moon, que ele próprio é filho de uma família separada pela guerra, em discurso transmitido ao vivo.
“Cidadãos, compatriotas, os coreanos são excelentes. Nossa nação é forte. Nossa nação ama a paz. E nosso povo deve viver junto. Vivemos 5.000 anos juntos e 70 anos separados”, afirmou Moon. “O presidente Kim Jong Un e eu firmemente daremos as mãos a 80 milhões de coreanos no norte e no sul e faremos uma nova pátria”. “Vamos avançar juntos para um novo futuro”, conclamou.
Culminando a cúpula, foi assinada a Declaração de Pyongyang, que foi seguida por uma conferência de imprensa. O presidente do sul assinalou que “pela primeira vez” as duas partes da Coreia haviam concordado com “medidas concretas de desnuclearização”, o que considerou um resultado “muito significativo”.
Entre essas medidas, ele destacou o fechamento permanente do local de testes de motores de mísseis e da plataforma de lançamento de Tongshang-ri, sob supervisão de inspetores internacionais. Moon acrescentou que a Coreia do Norte concordou com o “desmantelamento permanente de sua instalação nuclear de Yongbyon, na dependência de medidas correspondentes de parte dos EUA”.
Kim afirmou na coletiva que, junto com o presidente Moon, “vamos acabar com a tragédia da nossa divisão o mais rápido possível e ingressar em uma jornada sagrada em direção à paz permanente e à prosperidade, de modo a aliviar até a menor das feridas causadas pela divisão da Coreia”. “A estrada nem sempre será suave”, acrescentou Kim, “mas sempre caminharemos lado a lado nesta jornada sagrada, assim como estamos fazendo hoje”.
A Declaração estabelece, ainda, decisão de religar ferrovias e estradas, a próxima retomada das atividades do complexo conjunto de Kaesong e o anúncio de que as duas partes da nação coreana vão se candidatar para sediar conjuntamente os Jogos Olímpicos de 2032 e que terão, nos jogos de 2020, equipes conjuntas. O documento também decide que o Norte e o Sul irão impulsionar “seu intercâmbio e cooperação sobre uma base de reciprocidade e interesses compartilhados”, assim como propor “medidas substanciais para desenvolver a economia nacional”.
Também foi criado um sistema permanente para contatos, por videoconferência, entre familiares separados pela guerra. Kim se comprometeu em visitar Seul no ano que vem. Nas vésperas da cúpula, havia sido inaugurado o escritório intercoreano em Kaesong, apontado como embrião de uma confederação intercoreana.
Novos mecanismos de distensão na área militar foram assinados pelos respectivos ministros da Defesa. Serão retirados todos os postos de observação do Sul e do Norte a uma distância de mais de um quilômetro da divisa na zona desmilitarizada. Estão proibidas manobras militares em um raio de 80 km a partir da linha de divisa no mar Amarelo. Nas zonas-tampão, estarão proibidos exercícios e vôos militares a partir de 1º de novembro. As partes se dispõem a criar uma comissão militar conjunta e uma ligação direta norte-sul.
MONTE BEKTU
Em seu último evento no norte, Moon visitou o Monte Bektu, símbolo da nação coreana, e local de nascimento, durante a guerra de libertação, do pai de Jong Un, Kim Jong Il. Manchetes dos jornais sul-coreanos retrataram a repercussão no sul da cúpula. “Coreias abrem nova era de paz e prosperidade (Korea Times); “Península coreana livre de guerras e armas nucleares: as Coreias fazem declaração de fato do fim da guerra” (Hankyoreh); “Kim Jong-un sugere declaração de fim da guerra para desmantelamento de Yongbyon” (Donga Ilbo).
Após a Declaração, o presidente Trump chamou os avanços de “estimulantes” e de “boas notícias”, enquanto China e Rússia comemoraram o sucesso da cúpula. O que pode significar que esta cumpriu o objetivo de isolar os setores mais belicistas de Washington, que vinham exigindo um “desarmamento nuclear unilateral” do norte e se recusando a assinar o fim da guerra e instauração da paz permanente.
ANTONIO PIMENTA
Isso prova que sem a influência interesseira dos EUA, os povos tendem a se acertarem, de forma sincera e justa. Quando os EUA forçam essas situações, sempre é de forma a defenderem os seus interesses e não os dos povos envolvidos diretamente. Yankees, GO home!