O presidente da Bolívia, Evo Morales, agradeceu à multidão que tomou as ruas de La Paz na última terça em apoio ao direito à reeleição. Convocados pelos movimentos sociais, camponeses, trabalhadores e estudantes marcharam de El Alto até a praça São Francisco, no centro da capital, pela continuidade do projeto que mantém o país como o que mais cresce na América do Sul pelo quarto ano consecutivo.
“Com muito respeito e admiração, agradeço ao povo de La Paz pela massiva concentração para a postulação à candidatura. Historicamente pacenhos revolucionários”, frisou Evo, que está no seu terceiro mandato. Conforme o ministro da Presidência, René Martínez, foram “100 mil corações” que pulsaram forte para manter o processo de transformações.
“Presidente Evo sim e adiante pela integração da Pátria Grande” estampava um dos cartazes erguidos ao lado de um mar de bandeiras bolivianas, da whipala, símbolo andino, e estandartes do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do governo.
O vice-presidente Álvaro García Linera disse que parlamentares do MAS entraram com uma solicitação no Tribunal Constitucional a fim de possibilitar uma nova candidatura de Evo em 2019. Mas independente disso, esclareceu Linera, “restam outras quatro vias que, de maneira democrática e constitucional podem pôr em debate a questão: um novo referendo, interpretação constitucional, renúncia antecipada e a própria Constituinte”. “Todas elas são vias possíveis, legais, constitucionais e fundamentalmente democráticas que podemos usar como recursos para habilitar a candidatura. Neste momento, esperamos o pronunciamento do Tribunal”, declarou.
Para Linera, as atuais marchas de respaldo a Evo demonstram que o MAS tem dupla governabilidade, porque conta com uma estrutura política que governa desde o parlamento, com 68% dos votos, e desde as ruas, com as organizações sociais.
Em abril do ano passado, uma mudança constitucional que permitiria nova reeleição do presidente acabou sendo rejeitada nas urnas por 51,3% contra e 48,7% a favor, graças a uma campanha de difamação que se utilizou de uma ex-namorada do presidente, Gabriela Zapata. Ela mentiu sobre a suposta existência de um filho comum, desconhecido da população, e sustentou que “Evo era um monstro”. Gabriela havia sido gerente da filial boliviana da empresa chinesa CAMC, com a qual o Estado assinou contratos no valor de US$ 573 milhões, e vinha respondendo por crimes de corrupção. Com o apoio dos meios de comunicação e de técnicos de propaganda dos EUA, a mentira ganhou ares de verdade e o referendo foi ganho pela direita.
Nos últimos 11 anos – período em que se encontra à frente do governo – Evo reduziu os níveis de pobreza pela metade com crescentes investimentos na área social, mantendo uma taxa de crescimento do PIB na média dos 5%. A extrema pobreza, que era de 38,2%, baixou para 16,8% e vem sendo reduzida paulatinamente com o avanço da política de redistribuição de renda adotada. O índice de analfabetismo que era de 13% despencou para 2,8%, com o país sendo reconhecido já em 2014 pela Unesco, livre desta chaga. Também na área da saúde houve uma redução drástica nas taxas de mortalidade infantil e desnutrição crônica. Do ponto de vista das conquistas democráticas, mais de 50% de seus 166 parlamentares são mulheres, com 41 vagas ocupadas por representantes dos povos indígenas e 29 por jovens.
LEONARDO SEVERO