No Dia da Enfermagem, Brasil registrou 14 mil profissionais infectados por coronavírus e 108 mortes
Nesta terça-feira, 12 de maio, é comemorado mundialmente o Dia do Enfermeiro ou Dia da Enfermagem. Durante o período da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) a importância do trabalho desses profissionais pelo mundo não poderia estar mais evidente. São eles que recebem os infectados, os acolhem e checam diariamente suas condições físicas, emocionais e psicológicas. Também, são os mesmos que muitas vezes, são as últimas pessoas que têm contato com aqueles que não resistem à doença.
No entanto, durante o processo da pandemia, os riscos desses profissionais aumentaram. Até agora, no Brasil, há mais de 160 mil infectados. Destes, segundo informa o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) por meio do Observatório da Enfermagem, cerca de 14 mil são enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem entre infectados e suspeitos de terem contraído a doença. Todos foram afastados com suspeita ou confirmação de terem contraído o novo coronavírus. Infelizmente, 108 já perderam a própria vida. Os dados são atualizados em tempo real.
Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN em inglês), no último dia 6 de maio, cerca de 260 enfermeiros vieram a óbito por conta do Covid-19. Esse número pode ser ainda muito maior, pois só no Brasil, o número cresce exponencialmente. No dia 6 de maio, foram registradas 28 mortes de enfermeiros, segundo os dados do Observatório da Enfermagem.
Com isso, o Brasil hoje é o primeiro país do mundo em mortes de profissionais de enfermagem, superando os Estados Unidos, Espanha e Itália juntas.
PREOCUPAÇÃO
Para o enfermeiro Eduardo Fernando de Souza, coordenador nacional de emergência e urgência do Cofen e membro do gabinete Gestor de Crise da Covid-19 do Conselho, é um dia para lembrar dos profissionais da enfermagem que estão lidando com a pandemia e para termos preocupação com a saúde e a importância destes, que estão cuidando para melhorar a saúde do país. “Proteger a enfermagem é proteger a saúde do Brasil”.
Veja mensagem do Cofen:
“12 de maio, dia do enfermeiro, dia esse que eu convido a população brasileira a refletir sobre a importância da enfermagem na saúde pública brasileira. Estou no comitê de gestão de crise, onde nós monitoramos a ação dos nossos 27 conselhos de enfermagem e dos mais de 2 milhões de profissionais em todo o Brasil, dentre estes, 550 mil enfermeiros. Hoje, nós temos que comemorar com muita garra e muita vitória, a importância da nossa categoria, frente à pandemia da Covid-19, cenário esse, que já afastou cerca de 14 mil profissionais, sendo enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e já levou a óbito mais de 108 profissionais de todo o país”.
“Existe uma grande preocupação do gabinete de crise da falta de equipamentos de proteção individuais (EPIs) e a qualidade desses materiais que estão sendo oferecidas nas unidades hospitalares, hospitais de campanha, unidades de pronto atendimento entre outros”, disse.
“Outra preocupação é com os gestores seguirem as recomendações do Ministério da Saúde e do próprio Cofen, afastando os profissionais que possuem uma idade avançada, acima de 60 anos ou com doenças que os classificam como grupo de risco, o que não vem acontecendo. Estes profissionais devem ser afastados ou remanejados de suas atividades atuais, que cuidam diretamente dos pacientes com o Covid-19”, ressalta.
“Outra grande preocupação do nosso conselho é cuidar da saúde mental dos nossos profissionais que estão na linha de frente, que trabalham sobre pressão. Estes profissionais não podem se contaminar, pois se retornarem às suas residências, podem contaminar suas famílias e de seus amigos. Então nós precisamos sim, nos preocupar! Proteger a enfermagem é proteger a saúde do Brasil”, conclui Eduardo.
LUTA
A presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), Francisca Valda da Silva, descreve esse 12 de maio como “um dia de luta” desses profissionais.
“Nós estamos lutando pela vida dessas pessoas”, destaca em entrevista. “Os profissionais estão em condições adversas, sem condições de trabalho, sem equipamento de proteção individual, sem capacitação suficiente. E há profissionais de enfermagem do grupo de risco, por doença ou por idade, sendo colocados no cuidado direto de pacientes infectados. Isso não pode continuar. São mortes evitáveis, não são mortes naturais.”
Ainda, com todas as adversidades que a categoria enfrenta, a presidente da Aben chamou de “irresponsabilidade” o decreto do presidente Jair Bolsonaro no qual amplia a lista de atividades essenciais, incluindo academias, salões e barbearias, durante a pandemia.
“A situação é tão grave que a média nacional é de 21% dos profissionais de enfermagem infectados e nos lugares onde não se segue a quarentena, sobe para 35 a 50%. Os profissionais que estão comprometidos na linha de frente, tentando ajudar as pessoas a recuperar sua saúde e a evitar óbitos, salvar vidas, precisam da solidariedade do povo brasileiro em cumprir o distanciamento social. E eles precisam da responsabilidade de seus governantes em proteger esses profissionais da saúde”, adverte.
“É lamentável que nós estejamos passando por essa situação. É uma irresponsabilidade do presidente da República flexibilizar, sem levar em conta o seu dever de salvar vidas. O Reino Unido seguiu essa cartilha e abandonou, os Estados Unidos também… Então, não sei porque o governo brasileiro insiste em ser o responsável por um genocídio dos brasileiros”, finaliza Francisca.
Há anos, as enfermeiras e enfermeiros lutam por uma jornada de trabalho de 30 horas semanais, reivindicando também mais investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), bem como a fila única dos leitos e a valorização da profissão e dos profissionais como um todo. O Projeto de Lei 2295/2000, que dispõe sobre a jornada de trabalho de 30 horas para Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, está pronto para ser votado em plenário.
THIAGO CÉSAR