Enquanto o número de vítimas fatais dos desabamentos de dois prédios na comunidade de Muzema, no Itanhangá, zona oeste do Rio de Jeneiro, já chega a 17, moradores evitam prestar depoimento sobre o ocorrido por medo de represálias, já que a milícia que atua na região é responsável pela construção dos prédios.
Nesta terça-feira (16) os bombeiros encontraram mais cinco corpos no meio dos escombros dos dois prédios que desabaram na última sexta-feira (12). Durante a madrugada, as equipes já tinham encontrado o corpo de uma mulher, por volta das 4h30. Com isso, sobe para 17 o total de mortos.
De acordo com informações iniciais do Corpo de Bombeiros, entre os últimos corpos encontrados, havia uma mulher grávida. Os outros dois eram uma mãe e um filho.
Os corpos ainda não foram identificados. Sete pessoas permanecem desaparecidas. As buscas nos escombros entraram no quinto dia na manhã desta terça.
INTIMAÇÃO
Após ninguém comparecer para prestar depoimento voluntariamente na 16ª DP (Barra da Tijuca) e tentar esclarecer quem construiu os dois prédios que desabaram, a delegada responsável pelo caso, então, decidiu intimar pessoas ligadas à comunidade para conseguir explicações. O primeiro intimado foi o presidente da Associação de Moradores da Muzema, Marcelo Diniz.
Os investigadores estiveram nesta manhã na associação para entregar a intimação. Em uma operação da polícia realizada em janeiro, os agentes descobriram que milicianos que dominam a comunidade da Muzema usam as associações de moradores na compra e venda de imóveis construídos ilegalmente.
Sem se identificar, moradores afirmaram que os milicianos são responsáveis pelas construções e vendas dos imóveis no local.
A comunidade da Muzema, onde ficam os dois prédios que desabaram na manhã desta sexta-feira, 12, era controlada pelo grupo miliciano liderado pelo major da Polícia Militar Ronald Alves Pereira e pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega. Os dois são apontados como chefes do “Escritório do Crime”, grupo armado que realizou o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março do ano passado. De acordo com a polícia, o executor de Marille, Ronnie Lessa, atuava em conjunto com os chefes da milícia. Ele foi preso em sua mansão no condomínio “Vivendas da Barra”, o mesmo residencial onde mora Jair Bolsonaro.