Milhões nas ruas em todo o mundo neste Dia Internacional do Trabalho levantaram a voz em defesa de salários justos e contra o desmonte da legislação trabalhista e o arrocho das pensões
Milhões de pessoas foram às ruas nos cinco continentes neste 1º de Maio, em manifestações, greves e comemorações, no feriado que no mundo inteiro representa a luta dos trabalhadores por seus direitos, salários dignos e empregos e contra o assalto às aposentadorias, sucateamento da educação e saúde e a desigualdade. Em várias manifestações, o repúdio à agressão à Síria e ao rufar dos tambores de guerra em Washington se fez presente.
Mesmo nos EUA – onde os heróis de Chicago homenageados no mundo inteiro são mantidos nos porões do esquecimento pelo império -, a data não passou em branco. Pelo quarto dia, dezenas de milhares de professores se mantiveram em greve, contra o salário irrisório e os cortes das verbas da educação no Arizona. Ocorreram atos em defesa dos imigrantes e caminhadas em Nova Iorque e outras cidades.
Na Cuba que não se rende, quase 1 milhão em Havana para celebrar a data, o camarada Raúl e a posse do presidente Miguel Díaz-Canel. Na ilha inteira, seis milhões de pessoas.
Greve em Porto Rico e atos em Honduras e Nicarágua – que acaba de derrubar uma estúpida genuflexão ao FMI sob a forma de “reforma previdenciária”. No Peru, o 1º de Maio se tornou uma preparação para a greve geral marcada para o dia 17.
AMERICA LATINA
A principal central peruana, a CGTP, exigiu a prisão dos “corruptos e traidores da pátria” Alejandro Toledo, Alan Garcia, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski, e a volta ao cárcere de Fujimori.
Na Bolívia, o presidente Evo Morales encabeçou o principal ato, em Oruro. Repúdio no Chile ao neoliberalismo, assim como na Argentina, Brasil e México.
Dez anos após o crash de 2008, os trabalhadores e aposentados continuam sendo intimados a pagarem a conta pela salvação dos banqueiros ladrões pelo erário público. É assim que, como se fosse do nada, surge num país após o outro as tais ‘reformas’ ‘trabalhista’ e ‘previdenciária’ que estiveram no centro dos protestos na França, Itália e Espanha, mas também no Japão, na Coreia do Sul e na América Latina. Na Grécia, sob o garrote vil da dívida impagável e imoral, 10 mil trabalhadores voltaram a protestar diante do parlamento.
São manifestações massivas, que expressam toda a indignação que já não pode mais ser contida. 20 mil em Paris e 300 mil por toda a França, em meio à luta dos trabalhadores das ferrovias contra a privatização e o arrocho de salários e direitos, e o confronto de todos contra a reforma trabalhista que Macron tenta piorar. Também estão nas ruas os estudantes, contra a igualmente daninha ‘reforma da educação’.
Na Alemanha, foram 340 mil, com servidores públicos e metalúrgicos tendo arrancado aumentos depois de greves vitoriosas. “O maior 1º de Maio em uma década” em Portugal, comunicou a CGTP. Na Espanha, ecoou a consigna das mulheres trabalhadoras de “salário igual para trabalho igual”. Exigência ainda por atender no mundo inteiro
Na Rússia, onde a auto-estima está em alta, depois de barrar a agressão do império aos irmãos da Síria, foram 3 milhões, e as comemorações, mesmo, só vão acabar no 9 de Maio, Dia da Vitória sobre o nazifascismo.
Na Coreia do Sul, cuja população ainda vive a euforia da cúpula entre os líderes Kim Jong Un e Moon Jae-in, 16 mil pessoas se manifestaram na capital Seul para exigir salário-mínimo de 10.000 wons por hora. Na Indonésia, os trabalhadores protestaram contra a terceirização e o arrocho. Atos contra o trabalho quase escravo nas confecções a soldo das corporações da moda em Bangladesh e no Camboja.
No Japão, a luta é contra a reforma trabalhista de Abe e por medidas efetivas contra a terceirização desvairada e o korashi – sim, no Japão, a morte por exaustão no trabalho, de tão freqüente, recebeu uma designação. Em Tóquio, diante de quase 30 mil pessoas, Yoshkazu Odagawa, presidente da principal central sindical, a Zenroren, reivindicou a exigência central dos Oito de Chicago: “que a jornada de 8 horas diárias seja o normal”.
Na África do Sul, o presidente Cyril Ramaphosa reconheceu que o valor do salário-minimo, que acaba de ser criado, no valor de 20 Rands a hora, ainda é insuficiente, mas irá beneficiar seis milhões de trabalhadores. O salário-mínimo, concretizado depois de três anos de negociações, foi saudado pela principal central sindical, a Cosatu, mas repelido por uma central menor.
Também os jovens, que são atingidos em cheio pelo desemprego, que chega a ser duas a três vezes mais elevado nessa faixa etária do que a taxa geral, estiveram nas ruas neste 1º de Maio, cobrando soluções e denunciando a precarização, que os afeta especialmente. Muitos jamais viram contratação por mais de três meses. Nos EUA, os “millennials” [a geração do novo milênio] têm como perspectiva uma vida pior que a dos seus pais; os jovens negros são caçados pela polícia racista. Em muitos países, há uma geração perdida – os ni-ni (nem estuda e nem trabalha).
AÇOITE
Sob o açoite do FMI, Banco Mundial, agências de classificação de ‘risco’ e Wall Street – além do mel das propinas e do contágio da dolce vida -, governantes no mundo inteiro têm se apressado a endossar – a “correlação de forças” não permitiria a resistência – ou aderir entusiasticamente à revogação dos entraves às demissões (para empregar mais…).
Também à substituição das leis trabalhistas pela ‘livre negociação’ entre o pescoço [dos trabalhadores] e a corda [na mão dos monopólios]. E, “o que se há de fazer”, ao trabalho insalubre para grávidas, à uberização, walmartização, terceirização e até trabalho escravo.
Enquanto, como diz o economista grego Yanis Varoufakis, o lema dos bancos é perguntar se “os fracos já sofreram o bastante?” – na verdade, “dá pra arrochar mais?”, relatório sobre a concentração de riqueza da Oxfam aponta que oito bilionários detêm tanta riqueza quanto 3,6 bilhões de pessoas, metade da humanidade.
Mas, garantem os arautos dos bancos, precisa encher as arcas dos magnatas para escorrer [algumas gotas] até os plebeus. Previdência? Corta. Saúde? Corta? Educação? Enxuga. Estado? Mínimo. Já imposto para bancos, sobre dividendos, sobre especulação, sobre exportação, nem pensar, é contra a ordem natural das coisas. Ah, os juros. Ganância é bom, e rouba quem pode. O que as ruas mostraram nesse 1º de Maio foi que a paciência diante disso está cada vez mais curta.
ANTONIO PIMENTA