O ato, no dia 1º, em Curitiba, foi, na prática, uma definição – ou condenação – política, por suas estreitas dimensões. O que estava programado para ser, segundo os organizadores, “o maior 1º de Maio de todos os tempos”, ou “o maior ato da história do movimento sindical” (com uma única reivindicação: a soltura de Lula), foi uma manifestação pífia.
A causa não atraiu muita gente.
A Polícia Militar do Paraná estimou o número de pessoas entre dois e cinco mil.
Os organizadores, em 40 mil, o que já seria um fracasso, se comparado às declarações anteriores à realização do ato.
No entanto, no testemunho insuspeito de um de seus apoiadores, o professor e chargista Gilberto Maringoni, presente em Curitiba, “seguramente [o número de pessoas] não passava de oito mil”:
“O ato de 1º de Maio, no centro da cidade – praça Santos Andrade – foi ruim. A direção das centrais decidiu começar com um longo show, que foi de 14:30 a 17:30. Apesar de terminar com Beth Carvalho, parecia um espetáculo normal para tempos normais. Ato sem rumo. A única palavra de ordem era ‘Lula Livre’. OK, é essencial. Mas quase nada havia sobre a vida concreta das pessoas. Este é o primeiro Dia do Trabalhador após a reforma trabalhista. Também acontece em uma semana em que o desemprego bate recordes, em que o investimento desaba, em que se dá seguimento a privatização de refinarias da Petrobrás e da Eletrobras. Nada disso fazia parte da cena. As falas dos dirigentes começaram as 18h00, quando o ato se esvaziava. Não sei precisar o número de pessoas. Seguramente não passava de oito mil”.
As fotos confirmam a impressão de que o número de pessoas esteve mais próximo do cálculo da PM que do anúncio feito pelos organizadores.
Aliás, as fotos confirmam, também, outra coisa: quem compareceu foi o PT, e, mesmo assim, não muito maciçamente. A quase ausência de outra cor, que não o vermelho, nas fotos, mostra um progressivo isolamento – que já era evidente na manifestação, em São Bernardo, antes da prisão de Lula.
Só três pré-candidatos a presidente da República foram ao ato: Guilherme Boulos, do Psol, Manuela D’Ávila, do PCdoB, e Aldo Rebelo, do Solidariedade, partido que votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
Segundo a CUT, Ciro Gomes foi convidado, mas não compareceu.
Contrariando a tradição de atos de Primeiro de Maio, que são suprapartidários, o de Curitiba vaiou Aldo Rebelo. Ele tentou elevar o tom da fala, mas as vaias também subiram.
A atriz Lucélia Santos, conhecida petista, também discursou para os petistas presentes ao ato, sendo aplaudida.
Boulos defendeu Lula, condenado e preso por roubo de dinheiro do povo, e também a democracia. “Mesmo essa democracia precária e limitada que está sendo destruída”, disse ele, e incentivou os militantes a seguir “firmes na luta, nas ruas, ocupando praças como essa”.
A pré-candidata do PCdoB, depois de participar do ato da Força Sindical em SP, fez, em Curitiba, uma defesa enfática do ex-presidente Lula.
A senadora e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, recém denunciada pela Procuradoria Geral da República por ter recebido R$ 3 milhões da Odebrecht, falou a seguir. Voltou a dizer que Lula será candidato a presidente da República. Mais cedo, o ex-governador Jaques Wagner disse o contrário, que o PT pode aceitar ser vice de Ciro Gomes, do PDT.
“Não tem plano B, primeiro turno é Lula do PT”, cantava um grupo de petistas, o mesmo que puxou as vaias a Rebelo. O juiz Sergio Moro foi outro alvo constante das músicas e gritos de guerra entoados em Curitiba. Moro condenou Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá.
A Força Sindical enviou João Carlos Gonçalves, o Juruna, como representante da Central. Em entrevista, ele também foi questionado pelo apoio ao impeachment de Dilma Rousseff. Ricardo Patah, da UGT, disse que o ato é “somatório”. Estavam presentes também representantes da CTB e da CSB.
Quanto à CUT, foi a única central que realmente levou gente ao ato. O que não é exatamente uma novidade ou uma vantagem. Notável foi a dificuldade da central do PT em mobilizar sua base para a causa da soltura de Lula.
Falaram também alguns parlamentares – e teve o show, referido acima, em que um rapper denominado Renegado foi uma das atrações. Mas também estavam lá Beth Carvalho e Ana Cañas, e, provavelmente, Maria Gadu, ainda que, talvez por distração (ninguém é perfeito), o nosso enviado especial não a tenha registrado.