Entoando “Pessoas primeiro”, duzentas mil pessoas tomaram as ruas de Milão sábado para condenar “a política de medo e a cultura da discriminação” adotadas pelo governo do ministro do interior, Matteo Salvini. Por trás do falso uso do lema “Prima gli Italiani” (primeiro os italianos), denunciou a multidão, está a defesa dos interesses de uma elite que deu as costas ao país.
Condenando a política de perseguição e racismo, os manifestantes sublinharam que a luta coletiva diz não à exclusão, estando comprometida com “inclusão, igualdade de oportunidades e uma democracia real para um país sem discriminação, sem muros e sem barreiras”.
Reunindo pessoas de todas as idades e credos, a marcha cobriu de festa a capital financeira da Itália, envolvida com os mais variados ritmos, em meio a centenas de bandeiras da sociedade civil cheias de compromisso com um novo tempo. Símbolo da resistência italiana contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, a canção Bella ciao empolgou a todos e fez pulsar combatentes “pela liberdade”.
Para o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, a manifestação representou “um testemunho político poderoso de que a Itália não é somente o país como se tem descrito atualmente”. “É um momento de grande mudança para o país, e esta é a nossa visão de Itália”, sublinhou Sala, que participou do ato.
Os dirigentes da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), Maurizio Landini; da Confederação dos Sindicatos Italianos (CISL), Annamaria Furlan; da União Trabalhista Italina (UIL) Carmelo Barbagallo se somaram contra o retrocesso. “CGIL, CISL e UIL sempre se envolveram em todos os locais de trabalho, nas categorias e territórios pelo respeito à pessoa e pela afirmação dos direitos humanos, sociais e civis. Precisamos construir uma sociedade mais inclusiva,para lutar com convicção contra todas as formas de discriminação, racismo, exploração e precariedade”, enfatizaram.
“Somos a Itália que diz ‘basta’”, escreveu o assessor da cidade para políticas sociais, Pierfrancesco Majorino, comemorando o êxito de uma “marcha alegre, festiva e pacífica, de todas as cores”.
O dirigente da região do Lácio e um dos fundadores do Partido Democrata, Nicola Zingaretti, também se solidarizou aos imigrantes e condenou as medidas do governo por trazerem “tanto ódio, rancor e divisão”.
A manifestação foi encerrada em frente ao Duomo, a catedral gótica da cidade, num ambiente festivo animado com tambores, bongôs e trompetes, anunciando o fortalecimento da luta contra a exclusão e o racismo.
O partido de Salvini, a ultradireitista Liga, passou a integrar o governo italiano ao lado do Movimento Cinco Estrelas em 2018. Abertamente contrário a imigrantes, Salvini assumiu o cargo de ministro do Interior, e um dos postos chaves de vice-primeiro-ministro da Itália.
Desde então, tem continuamente impedido até mesmo que navios de ajuda humanitária que resgatam migrantes no Mar Mediterrâneo atraquem em seus portos.