“Década atual será a terceira ‘década perdida’ dos investimentos (formação bruta de capital fixo) dos últimos 120 anos, com uma queda média de 2,2% ao ano”, diz Ibre/FGV
“A década que este ano finda (2011-20) será a pior década, em termos de crescimento econômico, dos últimos 120 anos, com um crescimento nulo neste período“, afirmam pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas.
“No seu início, a ‘década perdida atual’ apresentou uma taxa média de crescimento de 3% a.a., entre 2011 e 2013. De 2014 a 2016 a economia entrou em recessão e quando saiu ficou praticamente estagnada com um crescimento médio de 1% a.a. de 2017 a 2019. Diante deste quadro, os últimos sete anos (2020, inclusive) foram desastrosos do ponto de vista de crescimento econômico”, ressaltam os pesquisadores Marcel Balassiano, Juliana Trece e Claudio Considera.
Eles consideram também que a década atual será “a terceira ‘década perdida’ dos investimentos (formação bruta de capital fixo), nos últimos 120 anos, com uma queda média de 2,2% ao ano”. São investimentos em bens de capital das empresas, em bens que produzem outros bens, como máquinas, equipamentos e material de construção.
Os pesquisadores destacam que um dos principais componentes do Produto Interno Bruto (PIB) pelo lado da demanda e “motor do crescimento” são os investimentos, que “na década atual estão, em média, em 17,6% do PIB”.
“Na segunda metade dos anos 2010, as taxas de investimentos (% PIB) do Brasil apresentaram o menor nível dos últimos 50 anos. E tem sido o fraco desempenho desse componente um dos principais responsáveis pela fraqueza da atividade econômica dos últimos anos”, afirmam.
Segundo o Monitor do PIB-FGV, em doze meses, até agosto deste ano, a formação bruta de capital fixo era de -3,0%. O Banco Central, no Relatório de Inflação de setembro, prevê um recuo nos investimentos de 6,6% em 2020. Considerando que de 2011 a 2013 os investimentos cresceram, em média, 4,4%, a queda média de 2014 a 2020, de acordo com dados do BC, será de 5,0% ao ano. “Ou seja, os últimos sete anos da década 2011-20 foram desastrosos“, destacam os pesquisadores do Ibre.
“E, caso em 2020 não tivesse tido o coronavírus, e o crescimento real dos investimentos neste ano fosse 4,1% (projeção no Relatório de Inflação do BCB, de dezembro de 2019), mesmo assim seria uma “década perdida” dos investimentos. A taxa média de variação entre 2011-2020 seria negativa, de -1,2% ao ano, ao invés de -2,2%. Ou seja, a crise do coronavírus agravou a já crítica situação brasileira, de baixo crescimento e investimentos fracos, pois o Brasil entrou numa nova recessão, sem ter se recuperado totalmente das perdas da recessão anterior”, afirmam os pesquisadores no texto “Mais uma década perdida de investimentos”, publicado no dia 26 de outubro no Blog do Ibre.
DESEMPREGO
Para os pesquisadores, “a pior consequência deste período de fraqueza da atividade econômica e dos investimentos no Brasil é o alto desemprego e a crítica situação do mercado de trabalho, com dezenas de milhões de brasileiros numa situação mais vulnerável do mercado de trabalho, considerando-se desempregados, desalentados, subocupados e informais. Esta situação já era anterior à crise do coronavírus, e se agravou com a recessão deste ano”.
Eles apontam que se não fosse o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional e, diga-se, contra a vontade do governo, que beneficiou mais de 65 milhões de brasileiros, “a queda do PIB seria mais forte ainda, e a situação desses milhões de brasileiros, seria muito pior”.
Com o fim do auxílio emergencial, o desemprego explodindo por todo o país e sem investimentos públicos, o resultado da economia poderá ser ainda mais desastroso do que simula os pesquisadores.
A “agenda de reformas no pós-crise”, as “PECs estruturantes” de Bolsonaro e Guedes, trazem na sua essência a política que levou o país à recessão e à estagnação nesses “sete anos desastrosos”: arrocho salarial, cortes nos investimentos públicos, juros na lua, desindustrialização, desnacionalização, assalto às aposentadorias e aos direitos trabalhistas e privatizações.