O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não pode ver um corrupto investigado, processado ou preso que sai imediatamente em sua defesa. Se dependesse dele, a Lava Jato estaria morta e a corrupção estaria imperando impunemente por todo o país. Desta vez o ‘socorrido’ do Gilmar foi o santo senador Aécio Neves, que, convenhamos, nem o PSDB, defende mais.
O soltador de ladrões do STF arquivou o inquérito que apurava o envolvimento de Aécio no caso Furnas, subsidiária da Eletrobras em Minas Gerais, que gera energia elétrica. A Procuradoria Geral da República havia pedido que caso fosse enviado à primeira instância judicial, mas o ministro do Supremo decidiu pelo arquivamento. Aécio era investigado por recebimento de propina.
A investigação sobre o parlamentar tucano era um desdobramento da Operação Lava Jato. Em sua colaboração premiada, o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT) contou ao Ministério Público que Aécio foi beneficiário de um “grande esquema de corrupção” na estatal Furnas. Segundo Delcício, o esquema era operacionalizado por Dimas Toledo, ex-diretor de Engenharia da empresa que teria “vínculo muito forte” com Aécio. “Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente diz se que não sabe precisar, mas sabe que Dimas operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves, assim como também o PP, através de José Janene; que também o próprio PT recebeu valores”, diz o texto do depoimento.
Em outro trecho, o senador Delcídio afirmou que, durante uma viagem com Lula em 2005, o ex-presidente perguntou quem era Toledo, e Delcídio, então, o apresentou como “um companheiro do setor elétrico, muito competente”.
Lula, então, teria dito, segundo Delcídio, que, ao assumir, José Janene pediu a ele que Toledo permanecesse no cargo, assim como Aécio e o PT.
“Pelo jeito, ele [Dimas] está roubando muito!”, teria dito Lula a Delcídio, segundo o senador afirmou em seu depoimento. Delcídio acrescentou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também havia pedido a Lula que Dimas Toledo ficasse no cargo. Como se vê, não era só Aécio que recebia propina de Dimas Toledo. E não é à toa que Gilmar hoje inclui em seu rol de protegidos, além de Aécio, o ex-presidente Lula.
Gilmar ofende a opinião pública ao dizer que não há indícios mínimos de autoria por parte do desmoralizado senador Aécio Neves. Para o ministro amigo dos corruptos, “o regimento do STF prevê que o relator determine o arquivamento do inquérito quando verificar a ausência de indícios mínimos de autoria ou quando os prazos forem descumpridos”. Em seu cinismo costumeiro, Gilmar disse que a PGR estava ofendendo a dignidade de Aécio. “A pendência de investigação, por prazo irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o direito à razoável duração do processo e a dignidade da pessoa humana”, disse Mendes.
Gilmar Mendes esqueceu da dignidade de toda a nação, que assistiu o vídeo feito pela Polícia Federal, do senador mineiro mandando seu primo receber R$ 500 mil dentro da sede da JBS. Além disso, Aécio Neves não responde somente a esse inquérito que Mendes arquivou. Ele responde a mais sete procedimentos no STF. Ele é réu sob acusação de ter recebido propina de R$ 2 milhões da J&F e é investigado em mais seis inquéritos abertos a partir de depoimentos do senador Delcídio do Amaral e de ex-executivos da Odebrecht e da J&F.
Só para lembrar alguns fatos sobre Aécio Neves, o senador que, segundo, Gilmar Mendes, estaria sendo “humilhado” pela investigação feita pela PF e pela PGR.
Numa conversa entre Aécio e Josley, datada de 24 de março, em um luxuoso hotel de São Paulo, eles acertam como seria feita a entrega de propina do frigorífico para ele Aécio. O diálogo gravado durou cerca de 30 minutos. Aécio e Joesley se encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. Aécio teria dito o nome de Alberto Toron, como o criminalista que o defenderia. A menção ao advogado já havia sido feita pela irmã e braço-direito do senador, Andréa Neves. Foi ela a responsável pela primeira abordagem ao empresário, por telefone e via WhatsApp (as trocas de mensagens foram parar nas mãos dos procuradores). As investigações, contudo, mostrariam para a PGR que esse não era o verdadeiro objetivo de Aécio.
Joesley: “Se for você pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança.
Aécio: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho..
O Fred a que Aécio se referia era seu primo Frederico Medeiros. O escolhido por Joesley para entregar o dinheiro a Frederico, em quatro remessas, foi o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud. A Polícia Federal filmou um dos encontros.
A investigação da PGR mostrou que o dinheiro não foi parar nas contas do advogado Alberto Toron, que foi citado por Aécio como seu defensor na Lava Jato. Segundo as gravações, o primo do tucano repassou malas para um secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG), que é aliado de Aécio. Esse assessor teria transferido o recurso para uma empresa de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.
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