A entidade prevê ainda que 35,9% da renda das famílias brasileiras estarão comprometidos, em média, com dívidas no decorrer de 2022, o que se agrava com o desemprego elevado, inflação crescente e o juros altos
As dívidas das famílias devem consumir 26% do valor do Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família), segundo uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada na terça-feira (18). Para 2022, a CNC projeta que, em média, 35,9% da renda das famílias brasileiras estarão comprometidos com dívidas na média.
Segundo a CNC, dos R$ 84 bilhões que serão liberados pelo programa a aproximadamente 17,5 milhões de pessoas ao longo de 2022 (considerando o benefício mensal de R$ 400), 70,43% serão revertidos em consumo imediato, cerca de 59,16 bilhões: R$ 28,04 bilhões serão gastos no varejo e outros R$ 31,12 bilhões consumidos pelo setor de serviços.
A entidade estima que 25,74% do total de recursos liberados pelo Auxílio Brasil, ou R$ 21,62 bilhões, serão destinados ao pagamento de dívidas. O restante, R$ 3,21 bilhões irão para a poupança, segundo a pesquisa feita a pedido do ‘Estadão/Broadcast’.
Porém, o “consumo imediato” depende de muitos fatores, como o rendimento, que caiu 11,1% na última pesquisa do IBGE (Pnad-Contínua/out/2021), da inflação, que continua corroendo o orçamento das famílias, particularmente das famílias de mais baixa renda, alavancada pelos seguidos aumentos dos combustíveis, das tarifas de energia, dos alimentos e do gás de cozinha, entre outros produtos de primeira necessidade, numa situação em que o endividamento das famílias brasileira não só bateu recorde no ano passado, como acelerou no final do ano.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC, em 2021 o índice alcançou a média de 70,9% das famílias brasileiras, a maior proporção em 11 anos. A cada 10 famílias, sete contraíram algum tipo de dívida com o sistema financeiro no ano passado. Em dezembro, a proporção de endividados alcançou o patamar máximo histórico para os meses consecutivos, 76,3% do total de famílias.
O economista Fabio Bentes, responsável pelo estudo da CNC, diz que quanto maior o grau de endividamento das famílias, maior tende a ser a parcela do orçamento doméstico destinada ao pagamento de dívidas.
“A cada 1 ponto porcentual de comprometimento da renda, o estímulo ao consumo é reduzido em 0,71%. O último dado divulgado pelo Banco Central, referente a setembro de 2021, mostrava 30,33% da renda das famílias comprometidos com dívidas. No pré-covid, na média do ano de 2019, esse porcentual era de 24,7%. Em quase dois anos, avançou mais de 5 pontos porcentuais”, apontou Bentes.
A confederação prevê. ainda. que 35,9% da renda das famílias brasileiras estarão comprometidos com dívidas na média do ano de 2022. A sondagem leva em consideração todas as contas a pagar, tanto as que estão ainda por vencer como as que já estão em atraso. A projeção de piora leva em conta os quadros altos de desemprego e inflação, além da alta na taxa básica de juros (Selic), que encareceu o crédito para pessoas físicas.