“Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero?”, indagou o espalha-vírus, em entrevista nesta quinta-feira (6)
Jair Bolsonaro vociferou, mais uma vez, nesta quinta-feira (6) contra a vacinação infantil para a Covid.
Em entrevista à TV Nova Nordeste, o mandatário minimizou o número de mortes pela doença nesta faixa etária, dizendo que é quase zero. A fala herodiana (Herodes, rei da Judéia, ordenou a morte de todos os bebês do sexo masculino, com até dois anos de idade, em Belém, na tentativa de acabar com a vida de Jesus) revela total desinformação a respeito do assunto já que o Ministério da Saúde contabiliza 308 mortes de crianças entre 5 e 11 anos, desde o início da pandemia. Entre zero e 19 anos, foram 2,5 mil mortes.
Num desrespeito afrontoso aos servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a quem ele chegou a ameaçar, o “capitão cloroquina” chamou quem aprovou a imunização de crianças de “tarados por vacinas”. “Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?”, declarou Bolsonaro na entrevista.
Epidemiologistas brasileiros afirmam que, embora a Covid seja mais perigosa para adultos, nenhuma doença para a qual existe vacina mata mais crianças do que a Covid-19, como atestou a Sociedade Brasileira de Pediatria durante a consulta pública sobre vacinação infantil, aberta pelo próprio governo.
“Trouxe a vocês uma comparação do que representa a Covid-19 em crianças perto de outras doenças passíveis de prevenção por vacinas. Nenhuma dessas doenças, todas elas passíveis de prevenção por vacinas, vitimaram tantas crianças como a Covid-19”, afirmou Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Para a epidemiologista Carla Dominguez, “os números são assustadores. Estamos falando de 2,5 mil óbitos na população abaixo de 19 anos e em torno de 300 óbitos entre 5 e 11 anos”. “Nenhuma doença imunoprevinível hoje que está no calendário de imunização matou esse número de pessoas. Então, a gente não pode banalizar as mortes por Covid. Poderemos proteger um maior número de crianças e evitar que novos óbitos aconteçam”, acrescentou.
A insistência de Bolsonaro em combater a imunização infantil e a sua intenção de deixar as crianças brasileiras desprotegidas contra as novas variantes do vírus reforçam a visão de que Bolsonaro não tem nenhuma identificação com os seus semelhantes, sejam eles adultos ou crianças. Não se preocupa com a saúde e com o sofrimento de ninguém, nem das crianças e nem dos mais crescidos. Dá gargalhadas e zomba do povo em plena tragédia, como fez no fim do ano, durante suas férias, ao ser informado das enchentes que desabrigaram milhares na Bahia e Minas Gerais.
Já há atualmente na sociedade uma polêmica sobre qual é a principal característica do governo Bolsonaro no que diz respeito à sua conduta diante da pandemia de Covid-19. Durante as investigações conduzidas pela CPI da Pandemia, a população tomou conhecimento de que o mandatário tentou emplacar a ideia de imunidade de rebanho. Queria deixar que a população se infectasse rápida e amplamente. Demitiu ministros, montou um gabinete paralelo e combateu as vacinas para viabilizar sua intenção macabra.
Essa ideia genocida foi repudiada por especialistas de vários países e foi condenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela causaria um número assustador de mortes. Ou seja, no mundo inteiro chegou-se a conclusão que essa atitude poderia provocar um verdadeiro morticínio. Mas, Bolsonaro não a abandonou até hoje.
Especialistas de todos os cantos do planeta alertaram para os riscos dessa tese. Chefes de Estado, como Boris Johnson, da Inglaterra, abandonaram a ideia e passaram a defender a vacinação em massa. Até o guru de Bolsonaro, Donald Trump, teve que se render às pressas ao desastre de seu negacionismo fascista, mas não deu tempo. O estrago já estava feito. Com os EUA recebendo o título de campeão mundial de mortes – hoje mais de 800 mil -, ele foi defenestrado pelo povo americano.
A atitude doentia de Bolsonaro, de atacar vacinas, espalhar fake news e promover aglomerações, levou o Brasil a ocupar o segundo lugar em numero absoluto de mortes por Covid-19. Cresceu nas ruas e nas manifestações realizadas por todo o país naqueles dias a quantidade de faixas e cartazes apontando Bolsonaro como “genocida”. Naquela altura, a sua sabotagem às vacinas já havia provocado mais de quinhentas mil mortes, muitas delas, segundo os especialistas, poderiam ter sido evitadas.
Agora ele aponta o seu ódio para a vacinação de crianças. Diz que 2,5 mil mortes – 300 entre 5 e 11 anos – desses pequeninos não é nada. Por uma só vida, valeria a pena lutar pela vacina nessa fase infantil. E mais: Bolsonaro, agora, ameaça os servidores da Anvisa para impedir a vacinação. Posterga o quanto pode, através de seu ministro da Saúde de estimação, o início da imunização.
Já há quem esteja em dúvida se este comportamento é compatível apenas com genocídio ou é também um estado patológico ainda mais deteriorado, o infanticídio. Não foi à toa que Marcelo Queiroga reclamou aos jornalistas que ele e Bolsonaro estavam sendo comparados a Herodes, o rei, que para evitar a sobrevivência de Cristo, mandou matar todas as crianças do reino.