O papa Francisco canonizou, no último domingo, Monsenhor Óscar Romero, sacerdote de El Salvador assassinado em 1980 por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado na Escola das Américas. “Voz dos sem voz”, Romero foi abatido em pleno altar, enquanto rezava uma missa, quando denunciava os atropelos aos direitos humanos e a violência provocada pelo exército, representante dos interesses estadunidenses.
A canonização do “Padre Mártir” foi comemorada por todo país com a cerimônia sendo transmitida ao vivo e, na capital, San Salvador, com uma concentração reunindo milhares de pessoas, em meio a cartazes e faixas exaltando seu martírio.
Conhecido por defender a “opção preferencial pelos pobres”, ele havia sido nomeado arcebispo da capital do país, San Salvador, em fevereiro de 1977. Logo depois, em março, ocorreu o assassinato do padre Rutilio Grande, junto com dois camponeses. O arcebispo então eleva o tom da denúncia às injustiças por meio da rádio católica Ysax e da revista Orientación.
Na véspera de sua morte, fez um pronunciamento contundente, desnudando a barbárie governamental: “Em nome de Deus e desse povo sofredor, cujos lamentos sobem ao céu todos os dias, peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão”.
BANHO DE SANGUE
A guerra civil em que o pequeno território – então com cerca de 5 milhões de habitantes – foi mergulhado pela intervenção ianque, entre 1979 e 1992, deixou cerca de 80 mil mortos, 8 mil desaparecidos, 550 mil desalojados internamente e fez com que mais de meio milhão de salvadorenhos tivessem de fugir do país.
Na avaliação do Papa, “o martírio de Dom Romero não foi pontual no momento da sua morte: foi um martírio-testemunho, sofrimento anterior, perseguição anterior, até a morte. Ele foi difamado, caluniado, sujado, já que o seu martírio foi continuado inclusive por irmãos dele no sacerdócio, no episcopado”. “Não digo isso por ter ouvido falar. Eu escutei essas coisas. Eu era sacerdote jovem e fui testemunha disso. Agora acredito que quase mais ninguém se atreva, mas, depois de ter dado a vida, ele continuou a dá-la, deixando-se açoitar por todas essas incompreensões e calúnias. Isso me dá forças, só Deus sabe. Só Deus sabe as histórias das pessoas e, quantas vezes, pessoas que já deram a vida ou que morreram continuam sendo apedrejadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a língua!”, acrescentou.
Para Francisco, a canonização faz justiça a “um pastor bom, cheio de amor de Deus e próximo dos seus irmãos, que, vivendo o dinamismo das bem-aventuranças, chegou até a entrega da sua vida de maneira violenta, enquanto celebrava a Eucaristia, Sacrifício do amor supremo, selando com o próprio sangue o Evangelho que anunciava”.
A história do religioso salvadorenho e sua árdua batalha contra as injustiças, colocando em risco a própria vida, foi popularizada no filme “Romero”, com Raul Julia, direção de John Duigan e roteiro de John Sacret Young.
LEONARDO SEVERO
A trajetória do Padre Mártir também foi enaltecida pelo cantor panamenho Rubén Blades com a canção “O pai Antônio e o coroinha Andrés”. A música recria o assassinato de um religioso espanhol chamado Antonio Tejeira, homem que honrava a sua comunidade, levantando a voz contra os abusos das autoridades, e que foi morto ao lado do seu coroinha enquanto celebrava uma missa
De Rubén Vlades
El Padre Antonio Xejeira vino de España, buscando nuevas
promesas en ésta tierra. Llegó a la selva sin la esperanza de ser
Obispo, y entre el calor y entre los mosquitos habló de Cristo.
El padre no funcionaba en el Vaticano, ente papeles y sueños
de aire acondicionado; y fue a un pueblito, en medio e’ la nada
a dar su sermón, cada semana, pa’ los que busquen la salvación.
El niño Andrés Eloy Pérez tiene 10 años. Estudia en la elementaria
“Simón Bolívar”. Todavía no sabe decir el Credo correctamente;
le gusta el río, jugar al fútbol y estar ausente. Le han dado el puesto
en la Iglesia de monaguillo a ver si la conexión compone al chiquillo;
y su familia está muy orgullosa, porque a su vez piensan que
con Dios conectando a uno, conecta a diez. Suena la campana,
un, dos, tres, del Padre Antonio y su monaguillo Andrés.
El Padre condena la violencia. Sabe por experiencia que no es
la solución. Les habla de amor y de justicia, de Dios va la noticia
vibrando en su sermón; pero suenan las campanas, un, dos, tres,
del Padre Antonio y su monaguillo Andrés.
Al Padre lo halló la guerra un Domingo de misa, dando la Comunión
en manga de camisa. En medio de un Padre Nuestro entró el Matador
y sin confesar su culpa le disparó. Antonio cayo, ostia en mano
y sin saber por qué Andrés se murío a su lado sin conocer a Pelé;
y entre el grito y la sorpresa, agonizando otra vez estaba el Cristo
de palo pegado a la pared. Y nunca se supo el criminal quién fue
del Padre Antonio y su monaguillo Andrés. Doblan las campanas,
un, dos, tres, del Padre Antonio y su monaguillo Andrés.