Em um ano de pandemia, país fecha 3,9 milhões de vagas com carteira assinada
O número de desempregados no país alcançou recorde histórico no trimestre encerrado em fevereiro de 2021, atingindo 14,4 milhões de brasileiros, o maior contingente desde 2012. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad – Contínua) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (30).
A taxa de desocupação medida pela pesquisa, que há um ano era de 11,7%, chegou a 14,4%. Este resultado é o segundo maior da série histórica da Pnad, perdendo apenas para a taxa de setembro, quando chegou a 14,6%. Neste um ano de pandemia, o número de desempregados no Brasil aumentou 16,9%, com um acréscimo de 2,1 milhões de pessoas na busca por um trabalho.
Além do crescimento significativo do desemprego desde fevereiro do ano passado, houve aumento na desocupação da taxa também em relação ao trimestre anterior (14,1%). “O resultado representa uma alta de 2,9%, ou de mais 400 mil pessoas desocupadas frente ao trimestre anterior (setembro a novembro de 2020)”, informou o IBGE.
É importante registrar que a Pnad Contínua considera para a conta de desempregados apenas aqueles que efetivamente buscaram ocupação nos 30 dias antecedentes à pesquisa.
32,641 MILHÕES DE PESSOAS SUBUTILIZADOS
No período de um ano, ao contrário das afirmações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a economia está crescendo em V – quando o Produto Interno Bruto despencou 4,1% – e de que o Brasil gerou empregos formais na pandemia, nesse período, 7,8 milhões de postos de trabalho foram fechados, 6 milhões de pessoas desistiram de procurar emprego e um total de 32,641 milhões de brasileiros estão subutilizados, um aumento de 5,9 milhões de pessoas, diz o IBGE. São os desempregados, os que trabalham menos horas do que gostariam de trabalhar ou que não estavam procurando emprego nos dias antecedentes à pesquisa, mas gostariam de trabalhar.
MENOS DE 50% DOS BRASILEIROS EM IDADE DE TRABALHAR ESTÃO EMREGADOS
A Pnad registra que a população ocupada, identificada em 85,9 milhões de pessoas, caiu 8,3% neste um ano – o que representa 7,8 milhões de pessoas a menos. Assim, o nível de ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) em fevereiro era de 48,6%, ficando estável frente ao trimestre móvel anterior (48,6%), mas com recuo de 5,9 pontos percentuais em relação a igual trimestre do ano anterior (54,5%). Ou seja, menos de 50% dos brasileiros em idade de trabalhar estavam trabalhando entre o final do ano passado e o início deste.
Os resultados de março e abril, quando a pandemia se mostrou mais grave, com mais mortes este ano do que em todo o ano 2020, obrigando as autoridades estaduais e municipais a promoverem o isolamento e suspensão de atividades comerciais de forma mais radical, ainda não foram computados pelo IBGE.
O fim dos programas emergenciais, como o auxílio emergencial e as medidas de proteção ao emprego e às empresas, quando a pandemia já dava sinais de recrudescimento só agravou o desemprego e a situação das empresas. Os programas, aprovados pelo Congresso Nacional no ano passado e cortados por Bolsonaro na virada do ano, só retornaram em abril por pressão da sociedade.
“Não houve, nesse trimestre, uma geração significativa de postos de trabalho, o que também foi observado na estabilidade de todas as atividades econômicas, muitas ainda retendo trabalhadores, mas outras já apontando um processo de dispensa como o comércio, a indústria e alojamentos e alimentação. O trimestre volta a repetir a preponderância do trabalho informal, reforçando movimentos que já vimos em outras divulgações – a importância do trabalhador por conta própria para a manutenção da ocupação”, comenta a pesquisadora do IBGE Adriana Beringuy.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, 8 dos 10 ramos de atividades profissionais tiveram queda no número de ocupados. A indústria perdeu 1,319 milhão de trabalhadores; o comércio 1,984 milhão; o setor de serviços 1,288 milhão e o setor de alojamento e alimentação menos 1,536 milhão, por exemplo.
DESALENTO
O universo de pessoas que desistiu de procurar trabalho por diversas razões, incluindo falta de oportunidades na sua região, fica em uma conta diferente da taxa de desocupação e também atingiu patamar recorde, reunindo 6 milhões de pessoas. A população desalentada cresceu 26,8% ante o mesmo período de 2020, atingindo percentual em relação ao número total de pessoas na força de trabalho de 5,6%.
A população fora da força de trabalho também cresceu: foram 76,4 milhões de brasileiros em fevereiro, um aumento de 15,9% (10,5 milhões de pessoas) frente ao trimestre do ano passado.
34 MILHÕES NA INFORMALIDADE
A taxa de informalidade foi medida em 39,6% entre a população ocupada, o que significa que 34 milhões de brasileiros trabalhavam em situações precárias em estabilidade e rendimentos. Esse número caiu em relação aos informais do trimestre encerrado em fevereiro de 2020 dada as medidas de restrição de circulação necessárias para conter a pandemia.
Contudo, com o corte do auxílio emergencial pago no ano passado – que só voltou, pela metade, neste mês abril – o número de trabalhadores em atividades informais voltou a crescer em relação ao trimestre anterior, encerrado em novembro, quando a taxa era de 39,1%.
EMPREGO FORMAL
O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 29,7 milhões de pessoas, menos 3,9 milhões de pessoas frente ao mesmo período de 2020.
Já os trabalhadores sem carteira assinada no setor privado (9,8 milhões de pessoas) em relação ao trimestre anterior caiu 15,9%, menos 1,8 milhão de pessoas frente a igual trimestre de 2020.
O número de trabalhadores por conta própria (23,7 milhões) teve alta de 3,1% frente ao trimestre móvel anterior (mais 716 mil de pessoas) e caiu 3,4% ante o mesmo período de 2020 (menos 824 mil pessoas).
RENDIMENTO MÉDIO EM QUEDA
A massa de rendimento real habitual – de todas as pessoas ocupadas em todos os trabalhos- foi estimada em R$ 211,2 bilhões de reais. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi de 7,4%, representando uma redução de R$ 16,8 bilhões na massa de rendimentos.
O rendimento médio habitualmente recebido – rendimento bruto real médio habitualmente recebido em todos os trabalhos que as pessoas ocupadas com rendimento tinham na semana referência – caiu 2,5% no trimestre de dezembro de 2020 a fevereiro de 2021 frente ao trimestre encerrado em novembro de 2020 e foi estimado em R$ 2.520. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve estabilidade.