
Desfile dos 80 anos da Vitória sobre a Agressão Japonesa e o nazifascismo levou destacadas lideranças e combatentes veteranos antifascistas à praça Tianmen
No desfile dos 80 anos da vitória na Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa e do fim da Guerra Mundial Antifascista na Praça Tianmen, em Pequim, nesta quarta-feira (3), o presidente chinês Xi Jinping – tendo ao lado o presidente russo Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong-un – saudou os heróis tombados nessa luta e todos os veteranos, lembrou do papel da China na derrota do nazifascismo, afirmou que o renascimento da China é imparável, advertiu que, novamente, a humanidade se encontra diante da encruzilhada, guerra ou paz, diálogo ou confronto, mas concluiu dizendo que “a nobre causa da paz e desenvolvimento da humanidade prevalecerá!”
No desfile de comemoração, pela primeira vez a China expos sua Tríade nuclear – forças estratégicas baseadas em terra, mar e ar — composta pelos mísseis JingLei-1 (aéreo), JuLang-3 (lançado por submarinos) e DongFeng-61 (terrestre), além de uma nova versão do DongFeng-31. Chamaram também a atenção os mísseis hipersônicos, drones subaquáticos, armas de energia dirigida, equipamentos anti enxame de drones e sistemas de guerra eletrônica.
Entre os convidados, também o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic; o Brasil estava representado por Celso Amorim e pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Xi, Putin e Kim, no caminho para a sacada do palácio, cumprimentaram os veteranos, alguns deles já centenários. Representantes estrangeiros e familiares de combatentes que apoiaram a resistência chinesa — vindos de países como Rússia, EUA, Reino Unido, França e Canadá — também marcaram presença.

Xi Jinping, Putin e Kim Jong-UN a caminho da tribuna de honra para dar início ao desfile (Ria Novosti)
A cerimônia começou com uma salva de 80 tiros de canhão, seguido pelo hino nacional, a “Marcha dos Voluntários”, composta em 1935 nos anos iniciais da resistência ao invasor japonês. Helicópteros com a bandeira da China sobrevoaram a área e aviões desenharam no ar “80”, em homenagem à data.
O presidente Xi, que também encabeça a Comissão Militar Central, passou em revista as formações de tropas, que respondiam com “servimos ao povo”. O desfile chamou a atenção pela sincronização e ânimo elevado dos cerca de 10 mil militares.
“Sob a bandeira da frente nacional única contra a agressão japonesa iniciada e estabelecida pelo Partido Comunista da China, o povo chinês combateu inimigos formidáveis com vontade férrea e forjou uma grande muralha com sua própria carne e sangue, conseguindo a primeira vitória total em resistência contra agressões estrangeiras nos tempos modernos”, apontou Xi.
“O povo chinês fez grandes contribuições para salvar as civilizações humanas e defender a paz mundial com enormes sacrifícios nacionais”, disse o presidente chinês, cujo povo, ao lado dos soviéticos, foram quem suportou as maiores perdas de vidas humanas contra o fascismo, respectivamente 35 milhões e 27 milhões. Também foi especialmente pesada a luta dos coreanos, com o país tornado em colônia desde 1910.
HUMANIDADE ENFRENTA ESCOLHA
Dirigindo-se aos povos do mundo inteiro nessa hora de “mudanças tectônicas”, o presidente Xi salientou que a “nação chinesa é uma grande nação que nunca cede à violência e sempre valoriza a independência e o autofortalecimento. No passado, perante a luta decisiva entre a justiça e o mal, a luz e a escuridão, o progresso e a reação, o povo chinês, unido e determinado, lutou pela sobrevivência do país, revitalização da nação e justiça de toda a humanidade. Hoje, a humanidade está enfrentando mais uma vez a escolha entre paz e guerra, diálogo e confronto, ganhos compartilhados e jogo de soma zero. O povo chinês está firmemente do lado certo da história e do lado do progresso da civilização humana. Vamos continuar comprometidos com o caminho de desenvolvimento pacífico, formando, junto com o povo do resto do mundo, uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”.

Há dois dias, na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, Xi apresentara ao mundo sua proposta de “Iniciativa de Governança Global”, chamando a construir um sistema mais justo em oposição ao “hegemonismo e à política de poder”.
Xi também convocou o Exército de Libertação Popular a acelerar sua transformação para uma força de classe mundial para “salvaguardar firmemente a soberania, a reunificação e a integridade territorial da pátria, dando um suporte estratégico para a grande revitalização da nação chinesa e uma maior contribuição para a paz e o desenvolvimento do mundo”.
Ao povo chinês, ele chamou a trilhar a passos firmes o caminho do socialismo com características chinesas, herdar e promover o grande espírito da Guerra de Resistência, trabalhar duro com espírito empreendedor e avançar com coragem e perseverança, lutando com união pela construção de um grande país e a revitalização nacional em todas as frentes por meio de modernização chinesa.
TRUMP ENCIUMADO
O majestoso desfile cívico-militar chinês deixou o presidente Donald Trump com certo ciúme, já que tentou imitar o desfile de Moscou com uma parada militar no dia do seu próprio aniversário em Washington, mas foi um fiasco, como até a imprensa norte-americana registrou. Assim, acusou o presidente Putin e Kim Jong-um de estarem “tramando contra os EUA” e reclamou que, supostamente, a China não estaria sendo grata à ajuda norte-americana na guerra antijaponesa.
A primeira questão já foi respondida por Putin, que disse que Trump é “um cara humorado” e que nas conversações bilaterais que manteve em Pequim “ninguém falou mal do mandatário americano”.
Mas a acusação de ingratidão serve para reativar o estudo da história e é o Ocidente que subestima o papel da China, cuja resistência imobilizou centenas de milhares de soldados japoneses no continente, e costuma só falar da guerra no Pacífico.
A primeira agressão japonesa em 1931, usando um incidente, levou à ocupação da Manchúria e sua transformação em um Estado fantoche japonês. Em 1937, outra provocação serviu de pretexto à invasão japonesa, cuja barbárie vai do repugnante massacre de Nanquim (em que 300 mil civis foram mortos, depois de tortura e estupro) até a guerra bacteriológica, o trabalho forçado e as escravas sexuais.
Até 1941, a China contou principalmente com a ajuda soviética; os EUA só formalizaram ajuda após Pearl Harbour. Antes, as formações voluntárias dos Tigres Voadores granjearam enorme respeito, que perdura até hoje. E depois da vitória da revolução em 1949, foi através da agressão à Coreia que os EUA tentaram abafar o processo chinês, que precisou vir em socorro dos coreanos para expulsar os ianques para além do paralelo 38, luta que transcorreu apesar das ameaças de Washington de usar armas nucleares, e gerou o armistício de 1953, a primeira derrota dos EUA em uma guerra. Só em 1979, depois da reaproximação sob Nixon, foi que os EUA estabeleceram relações com a República Popular da China, no governo Carter.