É o que denuncia Hector de la Cueva, diretor do Centro de Investigação Laboral e Assessoria Sindical (Cilas) do México
“O México está há 35 anos sob o domínio da direita neoliberal, o que representou um retrocesso enorme para os trabalhadores, especialmente nos salários que perderam mais de 70% do seu poder aquisitivo. Mais da metade da População Economicamente Ativa (PEA) está na informalidade e os que não estão vivem de forma cada vez mais precária, sem seguridade social, contratação coletiva ou sindicatos que os representem. Há uma perda crescente de direitos, uma redução nas aposentadorias e pensões, uma deterioração nas condições de trabalho e de vida”, denunciou o mexicano Hector de la Cueva, diretor do Centro de Investigação Laboral e Assessoria Sindical (Cilas), em visita ao Brasil.
O estudioso lembrou que a reforma trabalhista realizada em seu país no ano de 2012 “piorou a situação, porque facilitou para os patrões demitirem, degradando ainda mais a qualidade dos emprego”. Segundo Hector, é isso o que o governo de Michel Temer busca fazer no Brasil, “só que aqui ele está tentando tudo de uma só vez”.
“Oficialmente temos hoje no México 12% de sindicalizados, trabalhadores vinculados à economia formal. O problema é que destes 12%, mais de 70% são Sindicatos de Proteção Patronal, ou seja, sindicatos que não são sindicatos, pois têm muito pouco de contratação coletiva e sua única parte autêntica é a do retrocesso”, condenou.
Ex-integrante da Coalizão Pró-Justiça nas Maquiladoras (CJM), Hector ressaltou que estas são “indústrias de exportação, fábricas criadas pelas transnacionais para montar e exportar diretamente para as suas matrizes nos Estados Unidos, no Canadá e na Coreia do Sul, explorando a mão de obra barata”. “Este fenômeno das maquilas cresceu muito nos anos 80 e se espraiou ainda mais com o Tratado de Livre Comércio (TLC) assinado com os EUA e o Canadá em 1994. Foi algo iniciado na fronteira norte, quando o governo deu grandes facilidades, terrenos e incentivos fiscais para o capital transnacional, que também se aproveitou das péssimas condições laborais e da não existência de sindicatos”, assinalou. Havia inicialmente 1,5 milhão de trabalhadores nestas maquiladoras, recordou, “mas logo, o que era um segmento se expandiu feito um câncer para o sul, o fenômeno da maquilização”. “Este é o perigo de permitir o abrandamento de regras. A suposta exceção virou regra”, frisou.
Conforme o estudioso, o grande problema é que “mais de 95% dos componentes das maquiladoras são importados, não alimentam cadeias produtivas nem a indústria nacional, só empregos precários”. Estes “empregos” criados, apontou, “apenas contribuíram para deteriorar as condições laborais”.
Do ponto de vista econômico e da soberania, condenou Hector, “o governo ampliou a desnacionalização, que cresceu com as políticas neoliberais potencializadas pelo TLC”. “Houve uma onda de privatizações, que alcançou a 95% das estatais. Faltava o setor energético e os serviços públicos, que foram abertos para as transnacionais. Agora somos cada vez menos uma nação e cada vez mais um território de onde as maquiladoras importam e exportam a si mesmas”, concluiu.
LEONARDO W. SEVERO