450 mil pessoas foram às ruas de Barcelona no sábado (21) para repudiar o anúncio, pelo governo de Mariano Rajoy, da imposição do artigo 155 da constituição espanhola na Catalunha, para destituir a Generalitat [governo autônomo], instaurar uma junta e intervir por seis meses na região, ação que irá jogar gasolina na fogueira e levar a crise para nova e mais acirrada fase. Nesta sexta-feira, o Senado espanhol deverá carimbar a medida, com apoio do PSOE (socialistas).
O presidente catalão, Carles Puigdemont, havia na semana passada decretado por oito segundos a “independência”, para imediatamente colocá-la em suspenso para a abertura de negociações com Madri, ato que se seguiu à aprovação por 90% em referendo em que quase a metade do eleitorado participou e foi duramente reprimido pela polícia de Rajoy.
O separatismo foi insuflado pelo arrocho brutal da Troika, sob o anterior governo Rajoy, para socorrer a banca, e a supressão, por uma corte constitucional, de avanços na autonomia aprovados em 2006. Manifestações em muitas cidades haviam apoiado a realização do diálogo, ao mesmo tempo que ocorreram também protestos contra a separação daquela que é a segunda mais rica região da Espanha, logo após Madrid. Também ocorreu a prisão de dois líderes pró-separação, acusados de “sedição”.
Agora Puigdemont compara Rajoy ao ditador Franco e se disse pronto para convocar o parlamento regional para reagir. Ele afirmou ainda que o governo Rajoy “quer nomear uma junta para que teledirija de Madrid a autonomia catalã”. Já a presidente da Câmara catalã, Carme Forcadell, se comprometeu a “defender a soberania” da instituição regional”.
Apesar dos apelos da Generalitat à União Europeia, a primeira-ministra alemã Ângela Merkel tem sido clara em expressar seu respaldo a Rajoy e “à constituição espanhola”, ao contrário do que Berlim fez, quando deu início ao esquartejamento da Iugoslávia, “reconhecendo” imediatamente o separatismo esloveno e croata e, depois, ajudando a abrir a caixa de pandora da “independência de Kosovo” unilateral.