
Cinco dias após o início do apagão, a população da periferia de São Paulo ainda sofre as consequências do completo descaso da concessionária privada Enel com a prestação de serviço aos seus consumidores.
Na noite desta terça-feira (7), ainda há bairros na capital paulista, em que a distribuidora privatizada não restabeleceu o fornecimento de energia. Bairros como Parelheiros, Jardim Colombo, Guarapiranga, Jardim Marilda, entre outros ainda estão sem luz. Ao menos 141 mil imóveis da Grande São Paulo ainda estão sem energia nesta terça-feira (7), segundo balanço da própria Enel.
Keila Pereira, vice-presidente do Instituto Kamusi e Relações Públicas do Restaurante da Marlene, tradicional restaurante de Parelheiros denunciou nas redes sociais que até final do expediente de hoje o estabelecimento permanecia sem luz. A energia só foi restabelecida por volta das 21h.
“Desde sábado o serviço só se manteve por conta de ‘malabarismos’, porque a gente não tem acesso a gerador de energia que suportasse a nossa operação. Ficar sem servir almoço não era uma opção quando a gente tem mais de 10 colaboradores que dependem totalmente dessa renda junto aos 13ºs salários que começam a ser pagos ainda esse mês”, afirmou Keila.
À Hora do Povo, Keila contou que para manter o funcionamento do Restaurante da Marlene, não pode contar em nada com Enel. Ela recorreu aos vizinhos e amigos. “no sábado as bebidas ficaram no posto de gasolina vizinho, todos os itens congelados foram pra casa da minha mãe (Marlene, que dá nome ao restaurante e é proprietária do estabelecimento), durante o serviço os motoboys ajudam comprando gelo e transportando o que for preciso além dos almoços e como era impossível utilizar o buffet, porque é o item que precisa da maior potência, todo o serviço foi remanejado pra ser a lá carte, coisa difícil também porque não temos nem equipe, nem estrutura pra isso”, apontou.

DESCASO
“Já é inadmissível a cidade mais rica do país ficar tanto tempo sem energia elétrica, com uma distribuidora estrangeira que só fez reduzir equipe e aumentar a margem de lucro. Mas se torna ainda mais revoltante quando os responsáveis se colocam no lugar de não dever nem mesmo desculpas à população. O Tarcísio já disparou em falar que a privatização da Sabesp vai ser diferente, e é verdade: em uma a gente ficou sem luz, na outra vamos ficar sem água”, destacou Keila que nasceu em Parelheiros e é ativista em causas sociais no bairro.
Enquanto alguns bairros nobres e centros empresariais já contam com a rede elétrica subterrânea, “a periferia continua sofrendo com o descaso de quem não tem razão alguma pra priorizar a dignidade das pessoas em vez do próprio lucro. Os prejuízos foram muitos, desde alimentos a compromissos importantes como o ENEM, que também teve que ser aplicado em locais sem luz, prejudicando o desempenho de diversos participantes”, afirmou a ativista.
PROTESTOS
Pelas redes sociais, moradores do Jardim Marilda, também relataram falta de energia no bairro ainda hoje. O vizinho do Restaurante da Marlene ainda está sem energia.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um protesto na Avenida Guarapiranga, na altura do 4900, onde moradores cobram providencias da Enel e do poder público.
Moradores atearam fogo em pneus e objetos para travar a avenida e chamar atenção da Enel e das autoridades. A polícia e os bombeiros foram acionados e já tão no local, mas as pessoas continuam lá protestando revoltados com tamanho descaso.
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Além do Guarapiranga, no Jardim Colombo, também na Zona Sul, da capital paulista, também houve protesto dos moradores. Eles ocuparam dois sentidos da Avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi. O grupo fechou a rua e colocou fogo em entulho como protesto pelos quatro dias no escuro.
A comunidade do Jardim Colombo fica a cerca de 15 minutos do Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador de São Paulo.
Meia hora depois, a Polícia Militar e os Bombeiros chegaram ao local, dispersaram os manifestantes e apagaram o fogo. A via continuou fechada por conta do material queimado.
O descaso é tanto que a Enel até o momento não garantiu quando a energia será reestabelecida na totalidade em São Paulo.