A “Lei do Estado-Nação”, recentemente aprovada no Knesset, parlamento israelense, já denominada de lei do apartheid e que deixa a nu o caráter supremacista e discriminatório do regime israelense, ao afirmar entre outros aspectos segregacionistas, que – em Israel – somente aos judeus cabe reivindicar o direito nacional e à autodeterminação. Também tira o status de língua oficial do árabe, deixando somente ao hebraico tal condição.
Depois da lei ser aprovada por 62 votos contra 55 e duas abstenções, foi rechaçada por ato de judeus e árabes em Tel Aviv e, agora, no sábado, dia 4, a mesma cidade foi palco de um protesto que reuniu 50 mil drusos portando uma faixa gigantesca com a cara de Netanyahu e a frase: “Ministro do Crime”.
Os drusos, uma vertente religiosa de origem islâmica que incorporou aspectos do cristianismo, participaram da revolta palestina, de 1936 a 1939, contra a ocupação sionista e que foi aplastrada com apoio das tropas inglesas então acontonadas na Palestina.
Depois disso, os sionistas adotaram a tática de se aproximarem das etnias e religiões minoritárias para afastá-las da corrente principal árabe palestina, que é sunita. Dessa forma, os sionistas conseguiram atrair, para apoiar o seu plano de implantação de um Estado Judeu na Palestina, os drusos, os beduínos e os circassianos. Os drusos receberam o status de “minoria especial” e através de um acordo entre os sionistas e 16 líderes drusos, ao final dos anos 1940, estes participam do serviço militar.
Agora os drusos, que tinham status de minoria nacional reconhecida e que, segundo seus líderes, verteram sangue por Israel, repudiam essa monstruosidade. As principais lideranças drusas se declararam ‘traídas’ pela lei definida como “Lei Básica”.
Um dos líderes drusos da campanha contra a lei, Dr. Amir Kneifas, encontrou o deputado autor da lei, ex-agente Avi Dichter, em um evento na cidade de Carmiel, na Galiléia. Kneifas, indignado, chamou Dichter de “cachorro, racista e nazista”.
Ao que Dichter repondeu, “não me chamarão de nazista, os nazistas assassinaram minha família”. O que não se entende é que Dichter proponha legislação similar à que discriminava os judeus logo após a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
Netanyahu fez uma visita de cortesia a uma aldeia drusa para pedir aos líderes que não realizassem a manifestação de sábado. O brigadeiro druso, Amal Assad, um dos organizadores da manifestação, presente ao encontro, denunciou Israel como “um estado de apartheid”, na cara do premiê.
Netanyahu redarguiu que não “aceitará este desrespeito a um primeiro-ministro de Israel e ao Estado quando chama Israel de Estado de Apartheid”. Disse isso, e interrompeu abruptamente a reunião.
Sem dúvida, o ato gigantesco dos drusos em Tel Aviv, mostra o buraco que parlamentares da ultradireita israelense – 70 anos após a limpeza étnica na Palestina e pouco mais de 50 anos de ocupação dos territórios palestinos da Cisjordânia e Gaza, com a sistemática prática de usurpação paulatina e constante de terras palestinas – escancara agora sob os pés dos israelenses.
NATHANIEL BRAIA