Parcela de desempregados de longa duração passou de 30,6% no início da pandemia para 41,2%
Enquanto o desemprego atinge níveis históricos, também cresce a parcela de brasileiros que procuram trabalho por longos períodos sem encontrar. São 6 milhões de pessoas que buscam por emprego há mais de um ano. Do total, 3,8 milhões procuram por trabalho há mais de dois anos e não encontram. Chamado de desemprego de longa duração, a proporção dos que não conseguem ocupação há mais de dois anos subiu 23,9% no primeiro trimestre de 2020 para 26,1% no mesmo período desse ano. No grupo dos desempregados, entre 1 a 2 anos, a proporção subiu de 6,7% para 15,1%.
Os dados foram levantados pela consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. De acordo com o IBGE, eram 14,4 milhões de desocupados no país no segundo trimestre desse ano, sendo que 41,2% desses procuram trabalho há mais de um ou dois anos. No início de 2020, eram 30,6% do total dos trabalhadores sem ocupação no país.
Com a crise econômica agravada pela pandemia o desemprego atingiu recorde. A retomada lenta das atividades econômicas, por conta do boicote de Bolsonaro à vacinação, contribuiu não só para que o número de desempregado crescesse, como desorganizou toda a economia. dificultando a recolocação de trabalhadores no mercado de trabalho.
“O que se vê é um aumento da parcela dos que estão desempregados há muito tempo. E quanto mais tempo no desemprego, é mais tempo sem renda e mais prejuízos para a família. Além disso, fica cada vez mais difícil voltar ao mercado”, afirmou o professor Bruno Otoni, da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador da IDados, à reportagem do Valor Econômico.
Situação que é agravada com a explosão da carestia nos preços dos alimentos, da conta de luz, no gás de cozinha, que tem levado milhões de brasileiros para miséria.
O desemprego de longa duração também contribui para o aumento dos trabalhadores que, para conseguir alguma renda, passam para a informalidade, sem qualquer direito trabalhista e com salários ainda mais baixos. Ou ainda se virando por conta própria, realizando os chamados “bicos”. Ainda segundo a Pnad, a taxa de informalidade no Brasil foi de 40,6% da população ocupada no segundo trimestre de 2021, o que representa 34,7 milhões de pessoas. Outros 25 milhões se viram por conta própria.
“É o fenômeno da ‘viração’, o sujeito se vira porque precisa de renda. Faz trabalho de pintor de manhã e de segurança à noite, por exemplo. Historicamente, há no país uma estratégia de sobrevivência, que se exacerba com o avanço dessa parcela de desempregados há mais tempo”, pontua o pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), Denis Maracci Gimenez.