660 mil sofrem com dois apagões em Buenos Aires em menos de 24 horas

Mais de 250 semáforos ficaram sem funcionar, causando caos na capital (Página12)

Falta de energia ocorreu com a temperatura chegando a 44 graus Celsius

Ex-auditor da Entidade Reguladora Nacional de Energia Elétrica (Enre), Walter Martello, denuncia que as tarifas de luz na capital argentina receberam reajuste exponencial de 268% em 2024, contra uma inflação de 117,8%. No período não foram feitos nem investimentos nem manutenções essenciais pela empresa elétrica Edesur, pertencente ao Grupo Enel, cujas ações majoritárias estão nas mãos do Estado italiano

A falta de manutenção e o atraso de investimentos fundamentais no serviço foram as principais causas dos dois apagões que deixaram 660 mil pessoas sem energia elétrica em Buenos Aires nesta quarta-feira (5), em meio a onda de calor que elevou a sensação térmica acima dos 44 graus Celsius. Na manhã, a falta de luz pesou durante horas e às 13 horas voltou a acontecer.

Além de afetar a saúde dos idosos que ficaram sem ventilação, os apagões paralisaram linhas do metrô e mais de 250 semáforos da capital argentina, trazendo o caos para a circulação de veículos no centro e o horror para os subúrbios. Mesmo instituições como o Congresso Nacional, a sede da Suprema Corte de Justiça e a Casa Rosada foram afetadas pelos cortes de eletricidade, que demorou a ser restabelecido.

A empresa elétrica Edesur – pertencente ao Grupo Enel, cujas ações maioritárias estão nas mãos do Estado italiano – atende o sul de Buenos Aires, informou que “ocorreu uma falha em uma linha de alta tensão”, afetando várias subestações.

Para Walter Martello, ex-auditor da Entidade Reguladora Nacional de Energia Elétrica (Enre), “o famoso clichê de que as empresas não têm dinheiro para investimentos é descartado com o aumento que tiveram em 2024”. Com Milei as tarifas de luz na capital argentina receberam um reajuste exponencial de 268% em 2024, contra uma inflação de 117,8%, apontou um relatório da Universidade de Buenos Aires e do instituto científico Conicet. Também houve concursos lançados que foram interrompidos, acrescentou.
“Quando o Estado foge e não controla, acontecem este tipo de coisas”, declarou Martello, para quem “o pior que se pode fazer é não controlar e emitir resoluções em benefício da empresa”, uma transnacional italiana. O ex-auditor da ENRE lembrou que durante o seu mandato na gestão de Alberto Fernández (2019-2023) propôs a nacionalização do serviço, que está concessionado até 2087.

De acordo com Darío Martínez, atual deputado nacional da União pela Pátria e secretário de Energia durante o governo de Alberto Fernández, a resposta está na falta de investimentos no setor, que se beneficiou no último ano de aumentos estratosféricos, conforme atestado pelo Instituto Interdisciplinar de Economia Política (IIEP).

“FALTA DE INVESTIMENTO E MANUTENÇÃO”

“Não bastava aumentar a tarifa, deram uma tarifa desnecessária, porque o que é preciso fazer é manutenção e obras”, defendeu Martínez, denunciando que o apagão massivo foi causado por um aquecimento das linhas de alta tensão “por falta de investimento e manutenção”. A manutenção e o investimento, reiterou, “devem ser permanentes” e “sem um Estado que controle, estas consequências ocorrem”. “Se o setor privado souber que na discussão das tarifas vocês lhes deram tudo o que eles pediram e não há controle, será difícil para eles fazerem investimentos”, ressaltou.

O deputado da União pela Pátria assinalou que é inaceitável ver o “Estado sendo utilizado para fazer negócios e não para administrar”, e sustentou que “antes o princípio que movia a Argentina era o autoabastecimento energético enquanto agora é a máxima rentabilidade do setor”. “Milei disse que iria dolarizar a economia e converter o custo de vida em dólares. Dolarizou as taxas, dolarizou a gasolina, dolarizou o custo de vida e não a renda. As empresas estão ganhando mais do que nunca”, repudiou o deputado e ex-secretário de Energia.

Apesar dos protestos, 10.000 usuários permaneciam às escuras e amargando o calor nesta quinta-feira.

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