De acordo com o IBGE, cerca de 40 milhões de trabalhadores estão no trabalho precário, sem direitos trabalhistas
No primeiro trimestre deste ano, 67,7% dos trabalhadores autônomos do país queriam trabalhar com carteira assinada, é o que aponta um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Isso significa que 7 em cada 10 trabalhadores por conta própria desejam migrar para o trabalho formal, com garantia de proteção e direitos.
A carteira assinada é almejada mesmo entre os formalizados com CNPJ (54,6%). Entre os informais, sem CNPJ, o percentual sobe para 72,1%.
A pesquisa revela um movimento contrário aos que defendem que os trabalhadores não querem as leis trabalhistas (CLT), os chamados defensores da “uberização”, da pejotização – que propõem, na prática, o aumento das jornadas e reduções dos salários via desresponsabilização dos patrões frente aos direitos de seus empregados.
O coordenador das Sondagens Empresariais e de Indicadores de Mercado de Trabalho do Ibre/FGV, Rodolpho Tobler, explica que “as pessoas que estão mais na informalidade, muitas vezes, estão lá muito mais pela necessidade do que pela vontade”.
“Tem um grupo que está lá porque quer flexibilidade, porque quer independência, porque acha que esse método de trabalho é mais favorável. Mas o que a gente vê é que boa parte ainda está lá mais por uma necessidade, porque precisava de alguma ocupação, porque estava desempregado há algum tempo, e foi para esse tipo de trabalho porque era o que precisava naquele momento para ter alguma renda”, declarou Tobler.
Dados do IBGE apontam que desde o ano de 2023, o contingente de pessoas no país exercendo atividades de trabalho com carteira assinada vem crescendo. No total, no trimestre encerrado em maio foram registradas 38,326 milhões de pessoas no trabalho formal.
Por outro lado, o nível de informalidade do trabalho segue muito elevado no Brasil, 38,6% da população ocupada (101,3 milhões). Ao todo, são 39,1 milhões de trabalhadores informais no país, pessoas descalças de direitos trabalhistas, que na sua maioria vivem dos chamados “bicos”, com jornadas de trabalho e salários miseráveis.
“Geralmente”, destacou ainda Rodolpho Tobler , “o trabalho formal com carteira tem uma renda maior, mas, além disso, tem um pouco mais de estabilidade. Você tem uma previsibilidade de renda. Porque os trabalhadores por conta própria têm dificuldade de prever sua renda no próximo mês e, mesmo quando preveem, às vezes a renda varia muito. Então tem realmente alguns fatores que o trabalho com carteira traz como uma possibilidade que atrai essas pessoas, especialmente aquelas que estão no trabalho informal, com uma renda mais baixa”, completou.
No trimestre encerrado em maio, o número de trabalhadores atuando por conta própria chegou a 25,5 milhões de pessoas. Os classificados como empregadores – com e sem CNPJs – são 4,2 milhões de pessoas. Já a categoria dos empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada ficou em 13,7 milhões de pessoas no mesmo período – um recorde da série histórica.
Os dados fazem parte da Sondagem do Mercado de Trabalho do Ibre/FGV e divulgado pelo Estadão em reportagem nesta segunda-feira (15).