Apesar da fome, da exaustão e das ameaças de Donald Trump de que mobilizaria as forças armadas e fecharia os 3.200 quilômetros de fronteira com o México para deter sua passagem, mais de 7 mil imigrantes hondurenhos continuam sua marcha para entrar nos Estados Unidos.
Em Honduras, a tragédia econômica e social provocada pela guerra suja do Pentágono, pela política de submissão ao Consenso de Washington e o golpe contra o presidente Manuel Zelaya, que Hillary apoiou, cobra um preço bastante elevado. A penúria salta aos olhos: sete de cada dez hondurenhos estão mergulhados na pobreza, de acordo com o próprio Banco Mundial.
Para completar, é uma das nações mais violentas do mundo, com uma taxa de homicídios de 43 por cada 100 mil habitantes, percentual que supera amplamente a média de países em guerra. A selvageria é resultado direto das “maras”, gangues que se vitaminaram com a barbárie estadunidense, enquanto o país serviu de base durante os anos 80 para o treinamento de mercenários contra a revolução sandinista na Nicarágua. Uma vez aprendida a lição de casa, capacitados tecnicamente para explodir pontes e casas, torturar e matar inocentes, começaram a aplicar os sangrentos conhecimentos em seu país, contra seu próprio povo.
Sem uma condução política consequente contra o desgoverno entreguista e neoliberal de Juan Orlando Hernández, o desespero tomou o posto de comando de uma multidão que ruma em direção aos Estados Unidos, precisamente o país responsável pela desgraça em que se vê mergulhada.
BEBÊS E GRÁVIDAS
Após ter caminhado 700 quilômetros desde a cidade hondurenha de San Pedro Sula, uma parte dos migrantes – com bebês e crianças, mulheres grávidas, pessoas deficientes e em cadeiras de rodas – chegou até a pequena cidade de Tapachula, no Estado mexicano de Chiapas.
Conforme as organizações humanitárias, muitos destes migrantes põem em risco as suas vidas, já que por não portarem documentos – e sem vistos de ingresso – precisam enfrentar caminhos, trilhas e rios extremamente perigosos para tentar burlar o controle das autoridades fronteiriças estadunidenses, que os detêm e os mandam de volta. Quando não os metem presos por longos períodos ou são assassinados pela Guarda Nacional.
“Em busca de emprego e segurança”, Antonio Garcia disse que decidiu abandonar seu país por já não ter esperança. “Em Honduras, temos medo de morrer de fome ou assassinados pelas gangues. Por isso, quando ouvi sobre a caravana de migrantes, decidi deixar tudo e me juntar a ela”, explicou.
Depoimentos dados à BBC explicam a dimensão do horror: Francisca, uma vendedora ambulante que viaja com um dos cinco filhos, disse ser viúva porque membros de uma gangue mataram seu marido a pedradas. “Eu quero chegar aos EUA para trabalhar e poder comprar o marca-passo de que meu pai precisa”, conta entre lágrimas outro migrante.
PENÚRIA
Imitando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, seu homólogo hondurenho, Hernández, lançou o plano “Retorno Seguro”, para hipoteticamente facilitar a volta ao país dos que não quiserem mais continuar com a viagem. No entanto, sem garantir que haja qualquer melhoria na penúria que os fez migrar.
Igualmente servil aos estadunidenses, o presidente da Guatemala, Jimmy Morales, anunciou que irá colocar uma aeronave à disposição dos que queiram voltar para a sua vida miserável em um país que também lidera os índices de criminalidade e miserabilidade. Segundo Hernández e Morales, a culpa de tudo não está na política econômica que vêm adotando, que submete seus povos a uma superexploração, mas de quem convocou a marcha, “usada para fins políticos”.
Anteriormente, Trump havia advertido que cortaria a ajuda econômica a Honduras, Guatemala e El Salvador, se não detiverem o avanço da caravana nem evitem que seus cidadãos tentem entrar nos Estados Unidos. “Devo, nos termos mais enérgicos, pedir ao México que detenha esta arremetida, e se não puder fazê-lo, chamarei os militares e fecharei nossa fronteira Sul”, disse. A entrada não será permitida, reiterou Trump, porque “muitas destas pessoas, uma porcentagem bastante grande destas pessoas são delinquentes. E isso não ocorrerá no meu mandato. Não ocorrerá”.
LEONARDO WEXELL SEVERO