Cerca de sete mil pessoas vivem em condições subumanas, dormindo sobre bancos, largados nos parques e debaixo de pontes da Cidade do México. Expostas à violência extrema, às drogas, à escravidão, exploração sexual e ao tráfico de órgãos, muito poucas conseguem sobreviver mais de sete anos depois que começam a pernoitar e perambular nas ruas da capital mexicana.
A face mais evidente da devastação econômica provocada pela dependência dos Estados Unidos, da degeneração social e da degradação moral de uma elite completamente colonizada, milhares de homens, mulheres, idosos e crianças desfilam como num filme de terror. Muitas pessoas que moram na rua desde os primeiros anos de vida, outras que sofreram a desintegração das suas famílias ou foram expulsas delas, que preferiram enfrentar a dor, a fome e o frio às agressões. Um tanto de gente que, diante do agravamento da crise, se viu sem teto e sem recursos.
Edwin Alberto, de 23 anos, é um destes jovens que vivem drogados, inalando o solvente químico PVC para inibir a sensação de fome e frio. Uma lata rende 40 doses e custa somente um dólar. O uso do solvente provoca a desidratação do cérebro e rapidamente afeta a coordenação motora, os pulmões, a vista e o fígado. Sem família há mais de dez anos, o jovem vive fugindo dos policiais, “que são os que mais nos maltratam” e diz que “gostaria de aprender a cozinhar e viajar pelo mundo”. Diferente do sonho, aguarda a morte em algum canto.
O professor de direito civil Héctor Maldonado, do Instituto de Assistência e Integração Sociais (Iasis), órgão responsável pela população de rua da capital, disse que há um empenho de inúmeros psicólogos, psiquiatras, trabalhadores sociais e de toda espécie de especialistas “para o tratamento dos milhares de abandonados”. De acordo com Maldonado, a Cidade do México tem a terceira geração que vive na rua e que por isso “há pessoas de mais de 80 anos nesta situação”.