Aposentadorias muito baixas, quase ridículas, as tarifas elétricas nas nuvens, aluguéis astronômicos, o preço da cesta básica disparando. A equação da conta neoliberal deixa um resultado trágico para quem trabalhou ao longo de toda uma vida para garantir um mínimo de segurança e dignidade na velhice: sete de cada dez aposentados espanhóis não conseguem cobrir os gastos mínimos para sobreviver.
Conforme o levantamento da Defensoria Pública da Terceira Idade, a situação dos idosos é ainda mais grave devido aos reiterados aumentos dos preços dos alimentos e medicamentos, além dos gastos com a moradia, particularmente nas grandes cidades, onde estão concentrados os adultos mais velhos.
Em relação ao levantamento anterior, realizado no final de abril, o aumento da cesta básica do idoso foi de 8,67% e de 20,6% em relação a novembro do ano passado. Os números estampam uma enorme defasagem com os proventos dos aposentados, que recebem um mínimo de 623,40 euros se não possuem cônjuge sob sua responsabilidade ou 656.90 se tiverem cônjuge dependente. De acordo com a Defensoria, “os aposentados fazem peripécias, pois na Espanha se naturalizou que envelhecer é ser pobre”.
Diante da rápida degradação das condições de vida, a Defensoria realizou uma medição de emergência que apontou um aumento de 3,1% na inflação em julho, o que equivale a uma alta de 19,6% em 2018. “Com 328 euros por cônjuge ninguém pode viver e estamos falando de um universo de 7 milhões de espanhóis. A Cesta Básica do Aposentado se mede semestralmente em maio e dezembro, mas em virtude do desmedido aumento inflacionário incorporamos uma medição extra em agosto, como já havia ocorrido em 2014 e 2016, anos com elevados níveis de inflação”, aponta o documento. Dentro deste grupo, há 1,3 milhão de pessoas que recebem pensões não-contributivas, a maioria deficientes que enfrentam “condições de subconsumo”.
Para agravar ainda mais a situação, nos últimos seis meses, houve um aumento de até 30% no preço dos fármacos que não estão cobertos pela cesta de medicamentos subsidiados.
Na avaliação da Defensoria, é preciso que o governo deixe de “maquiar” o problema e adote medidas concretas, com um reajuste expressivo nos valores das aposentadorias, até que cubram a cesta básica. “O que precisamos é de uma recomposição imediata do poder de compra”, destaca a entidade, defendendo que o aumento seja bancado pelo dinheiro do Fundo de Garantia, que vem sendo manipulado pelo governo, e cujos ativos tornaram-se ferramentas de liquidez para cumprir acordos assinados com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “O Fundo de Garantia, em vez de estar à disposição de organismos multilaterais, deve estar no único lugar seguro: o bolso dos aposentados, que gera impostos e trabalho”, enfatizou.