Hoje, 70% dos trabalhadores ganham menos do que recebiam antes da pandemia, em 2019, quadro que se agrava ainda mais com a inflação oficial batendo em 10,25%, em 12 meses, corroendo o poder de compra da população.
Na avaliação do economista Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que cruzou dados estatísticos de vários indicadores, antes da inflação oficial ultrapassar os dois dígitos, isto em junho, quando o indicador IPCA ainda estava em 8,35%, em 12 meses, o peso da alta de preços na desigualdade, que tem sido recorde nos últimos tempos, triplicou desde o terceiro trimestre do ano passado.
Nos últimos dois anos, aqueles que estão no topo da pirâmide social conseguiram preservar ou elevar a renda. Segundo o economista, entre os 10% mais ricos, o ganho real chegou a 8%. No entanto, a camada mais pobre, que representam 30% e 40%, a perda no poder de compra recuou 28%.
“Os mais ricos consomem mais serviços e menos alimentos e acabam tendo uma inflação menor. Infelizmente, a tendência é só piorar com a aceleração da inflação, com grande perda de consumo das camadas mais vulneráveis”, explicou Duque.
Na prática, esse violento rebaixamento da renda levou milhões de brasileiros a entrarem em situação de extrema miséria. Nos últimos meses têm sido comum correrem pelas redes sociais e em veículos de imprensa, notícias com vídeos de famílias em busca de restos de alimentos, de sebos e ossos de boi, doada por açougues, restaurantes ou supermercados, ou deixados em caçambas de lixos.
Segundo uma pesquisa realizada pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mais de 100 milhões de famílias vivem a insegurança alimentar no Brasil. Deste contingente, cerca de 20 milhões passam fome na pandemia.
De acordo com o IBGE, diante de uma economia estagnada e uma inflação galopante, em doze meses a informalidade – o emprego sem carteira assinada, sem qualquer proteção trabalhista e com salários mais baixos – bateu recorde atingindo 37 milhões de pessoas e o trabalho por conta própria também é recorde: 25,4 milhões de brasileiros. No período, o rendimento real dos brasileiros desabou 10,2%.