Segundo pesquisa da CNI um terço das empresas renovaram suas linhas de crédito “em condições piores ou muito piores”
Empresas enfrentam dificuldades no acesso ao crédito em meio ao atual cenário econômico, com as taxas de juros sendo apontadas como o principal obstáculo para o setor industrial. De acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 71% dos empresários do ramo que relataram dificuldades para obter crédito apontaram os juros como o principal entrave.
Acompanhando o movimento da taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% desde agosto do ano passado, as operações de crédito se tornaram mais caras e, consequentemente, mais restritivas. Além de desestimular os investimentos, o arrocho monetário também gera um problema de insolvência, uma vez que as empresas que contraíram empréstimos estão enfrentando dificuldades para pagá-los, resultando em um aumento no número de falências e pedidos de recuperação judicial.
A pesquisa Sondagem Especial Condições de Acesso ao Crédito ouviu 2.022 empresários entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023. Os empresários também criticaram as exigências de garantias dos bancos (25%) como um sério problema para o acesso ao crédito. Outros 16% dos entrevistados relataram que a falta de linhas de crédito adequadas para suas empresas foi o principal fator restritivo durante o período.
De acordo com o gerente de Política Econômica da CNI, Fábio Guerra, o crédito está mais caro e restrito, tanto para as empresas como para os consumidores.
“Observamos um cenário mais seletivo e exigente para quem busca recursos financeiros. Isso também explica o fato de cerca de metade das empresas não terem tentado renovar ou buscar novos empréstimos e uma parcela significativa ter renovado em condições piores ou muito piores. Também deve-se destacar que uma parte relevante das empresas que tentou renovar ou contratar crédito não conseguiu”, resume o economista.
Os números revelam que, diante das dificuldades, 47% das empresas não buscaram contratar nem renovar crédito de curto ou médio prazo, enquanto 6% não conseguiram fazer nem uma coisa nem outra, e apenas 28% conseguiram contratar ou renovar. No caso do crédito de longo prazo, 58% não procuraram contratar nem renovar, e somente 14% conseguiram.
“A pesquisa mostra que o crédito pode ser um elemento essencial para impulsionar o consumo, os investimentos e fazer a economia girar, mas a disponibilidade e as condições de acesso ao crédito não estão proporcionais à sua importância”, destaca a CNI em nota.
Para ilustrar a importância do crédito, a CNI ressalta que 60% das empresas que buscaram financiamento tinham como objetivo pagar fornecedores e despesas com funcionários, além de adquirir matéria-prima, no caso de operações de curto e médio prazo. Após o capital de giro, 21% das empresas apontaram a necessidade do recurso para investir, seja em máquinas e equipamentos, instalações ou pesquisa e desenvolvimento.