Não funcionou dizer que a culpa pelos aumentos da gasolina, da luz e dos alimentos é do ICMS, dos governadores, da guerra e até de São Pedro
De nada adiantou Jair Bolsonaro tentar culpar “Deus e o mundo” pela crise e a explosão da inflação no Brasil. Não funcionou dizer que a culpa pelos aumentos de preços é do ICMS, dos governadores, da guerra e, até, de São Pedro. O Instituto Datafolha acaba de mostrar que 75% dos brasileiros responsabilizam o governo Bolsonaro por alta da inflação.
E, realmente, a população tem toda razão. Foi decisão dele acabar com os estoques reguladores e largar o povo à própria sorte. Deixar os preços serem dolarizados. Não controlar o abastecimento. Permitir que os produtores preferissem exportar, provocando a falta e a elevação dos preços dentro do país. Foi ele e Guedes que atrelaram vários preços de produtos brasileiros, como a gasolina, o óleo diesel e o gás de cozinha ao dólar. A moeda americana disparou e os preços também.
Até os que se dizem seguidores do “mito” estão insatisfeitos com o seu comportamento irresponsável diante de mais essa tragédia, diz o instituto. 75% dos eleitores de Bolsonaro acreditam que o governo tem responsabilidade pelo descontrole dos preços. 72% dos evangélicos, 75% dos moradores do Centro-Oeste, região que concentra o agronegócio, e 79% dos moradores da Região Sul, que votaram em Bolsonaro, não estão satisfeitos.
A inflação começou a subir durante a pandemia, mas disparou mesmo no ano passado. Em 2019, o IPCA fechou ano com alta de 4,31%. Em 2020, passou para 4,52%. Mas, em 2021, começou a explodir e acumulou uma alta de 10,06%.
Os preços estão em disparada e a renda do trabalho não para de cair. O IBGE acaba de divulgar que a renda dos trabalhadores caiu 9,7%. São 12 milhões de desempregados. Na sexta-feira (25), foi divulgado o IPCA-15 de março, prévia da inflação mensal. O indicador teve alta de 0,95%, maior taxa para o período desde 2015 (1,24%) e acima das projeções. Com esse dado, o IPCA-15 acumulou inflação de 10,79% em 12 meses até março. A inflação acumulada em 12 meses está acima de 10% desde setembro de 2021.
Assim, como não se sensibilizou com os mais de 600 mil mortos na pandemia, Bolsonaro também não demonstra nenhuma preocupação com o sofrimento das famílias que não estão conseguindo se alimentar e alimentar seus filhos. Já desde setembro do ano passado a população vem demonstrando sua insatisfação. Ali o Datafolha já mostrava que 75% não estavam satisfeitos. Esse quadro se mantém até hoje. A pesquisa foi realizada na terça (22) e na quarta-feira (23) com 2.556 eleitores, em 181 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
Na comparação com o levantamento anterior o Datafolha mostra que subiu de 34% para 39% a fatia que atribui um pouco de responsabilidade. Caiu o número de brasileiros que atribuem muita responsabilidade ao governo. Essa parcela foi de 41% para 36% e houve uma ligeira queda, de 23% para 21%, no contingente que não vê nenhuma responsabilidade.
Segundo o instituto, o eleitor da chamada terceira via é mais crítico que a maioria. Segundo o levantamento, 87% dos que declaram intenção de votar em Ciro Gomes (PDT) consideram que o governo tem responsabilidade pela alta da inflação, sendo que 50% dizem que a gestão bolsonarista tem muita responsabilidade.
Entre os que declaram intenção de votar em Sergio Moro (Podemos), 82% têm a avaliação de que o governo tem responsabilidade, sendo que 42% consideram atribuem à atual gestão muita responsabilidade. No caso de eleitores de André Janones (Avante), 80% dizem que o governo tem responsabilidade e a metade avalia que a gestão Bolsonaro tem um pouco de responsabilidade.