“Uma Guerra com o Irã, seja por escolha ou erro de cálculo, produziria repercussões dramáticas em um Oriente Médio já desestabilizado e arrastaria os Estados Unidos a outro conflito armado a imenso custo financeiro, humano e geopolítico”, declaram generais da reserva e embaixadores norte-americanos na carta aberta publicada no portal “War On The Rocks”
Assim que Trump anunciou o envio de mais 1.500 soldados ao Oriente Médio, com o intuito evidente de provocar uma escalada das tensões com o Irã, nesta sexta-feira, 76 generais da reserva, embaixadores e diplomatas se manifestaram condenando tais provocações e alertando para o perigo de uma guerra contra o Irã.
“Uma Guerra com o Irã, seja por escolha ou erro de cálculo, produziria repercussões dramáticas em um Oriente Médio já desestabilizado e arrastaria os Estados Unidos a outro conflito armado a imenso custo financeiro, humano e geopolítico”, declaram na carta.
Apesar de haver dito, na mesma sexta-feira, que não quer uma guerra contra o Irã (dias antes tinha bravatado de que se tal guerra houvesse “o Irã desapareceria oficialmente”), anunciou o deslocamento de tropas, depois de já haver trazido ao Golfo Árabe seus porta-aviões e destroieres, lotados de caças e deslocado bombardeiros do tipo B-52 a bases aéreas localizadas em cidades portuárias da região.
“Na qualidade de profissionais da segurança com extensas carreiras nas Forças Armadas e no serviço diplomático, já pudemos assistir em primeira mão como é rápida a passagem em espiral de uma desavença para uma situação de descontrole”, diz a carta, que condena “a falta de comunicação direta entre os líderes políticos e militares dos EUA e do Irã, em um momento em que uma retórica aquecida aumenta a possibilidade de um erro que resulte em um conflito militar que não se queria”.
Os militares e diplomatas concluem propondo “medidas de desescalada que deveriam ser estabelecidas pelos escalões mais altos de governo como prelúdio para diplomacia exploratória começando a tratar de questões relativas a preocupações mútuas”.
É claro que os chefes militares e ‘diplomáticos’ norte-americanos não viraram pacifistas de uma hora para outra, ou abriram mão de suas pretensões de dominação, mas acham que, neste caso, o custo – devido ao poder dissuasório iraniano seria muito elevado.
É o que se pode depreender do trecho a seguir, no qual falam em “diplomacia agressiva” e “reflexão de estadista” ao invés de “conflito armado desnecessário” parecendo desconhecer ou estarem extremamente preocupados com a loucura daquele com quem estão tratando: “A proteção dos interesses nacionais dos Estados Unidos no Oriente Médio e a segurança de nossos amigos requerem capacidade de reflexão estadista e diplomacia agressiva ao invés de um conflito armado desnecessário”.
Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Americano, deu as boas-vindas à carta chamando-a de um “momento realmente grande”.
“Trump vai escutar a eles ou a Bolton, Bibi Netanyahu e os Sauditas?”, questionou Parsi.
MAIS ARMAS AOS SAUDITAS
Trump usou a tensão provocada por suas próprias iniciativas belicosas para justificar mais uma venda de armas à Arábia Saudita (estimada em US$ 8,1 bilhões) declarando que o país vive uma “emergência nacional”.
A Lei de Exportação de Armas diz que o Congresso deve ser avisado, com 30 dias de antecedência, de quaisquer vendas de armamentos ao exterior, de tal forma que possa, eventualmente, bloqueá-las.
Mas a lei tem uma brecha que permite ao presidente declarar uma “emergência” do tipo que achar conveniente e assim vender armas sem a necessária notificação ao Congresso. Mas diversos senadores já declararam que tal “emergência” não tem base suficiente para passar por cima de decisões do Congresso que já votaram contra a venda de armas à monarquia que tem bombardeado o vizinho Iêmen massacrando civis em escolas, hospitais, funerais, mesquitas e casamentos.
A mando de Trump, o vice-almirante Michael Gilday trouxe mais lenha à fogueira, dizendo a repórteres que possui “uma muito alta confiança” de que as “recentes sabotagens” a navios-tanque atingidos nos Emirados Árabes têm origem na Guarda Revolucionária Iraniana e também declarou que o foguete que atingiu, há poucos dias, o interior da fortificada Zona Verde em Bagdá, vindo a cair a pouco mais de um quilômetro da embaixada dos EUA, havia sido lançado por elementos agindo de acordo com determinações iranianas. Declarações que têm algo de parecido com o pretexto usado no Golfo de Tonkin para o ataque ao Vietnã. Tudo isso sem qualquer preocupação em exibir nem mesmo um tubinho de prova, como fizera Powell, na ONU, ao tentar convencer os demais países da produção iraquiana jamais localizada de “armas de destruição em massa”.
IRÃ DENUNCIA AMEAÇAS DOS EUA À PAZ
Neste sábado, o ministro do Exterior do Irã, Javad Zafif, reagiu ao envio de soldados norte-americanos e à tentativa de Trump de projetar sobre o Irã as suas provocações, falando em “ameaças persistentes do Irã”.
Zarif advertiu que “o aumento da presença estadunidense em nossa região é muito perigosa e representa uma ameaça à paz e à segurança internacional que precisa ser enfrentada”. Ele também alertou que um ataque norte-americano ao Irã teria “consequências dolorosas”, pois o Irã “está preparado para responder a qualquer agressão externa”.
O ministro disse ainda que tais suposições de Trump fazem parte de uma estratégia dos EUA de criar ameaças irreais para justificar dessa maneira a presença militar no Oriente Médio: “Afirmam este tipo de coisas para justificar suas políticas hostis e criar tensões no Golfo”.
PRÉ-CANDIDATA A PRESIDENTE CONDENA BELICISMO
Tulsi Gabbard, deputada pelo Havaí, ex-vice-presidente do Partido Democrata e pré-candidata a presidente pelos democratas, advertiu, este dia 25, que a “política belicista de Trump contra o Irã pode provocar uma guerra devastadora”.
Em sua entrevista à TV Fox News, Gabbard destacou o “terrível custo humano” a que pode conduzir o belicismo do inquilino da Casa Branca:
“Sei o custo de uma guerra e até aonde nos levaria este caminho. O povo norte-americano precisa entender o quão devastadora e custosa seria uma guerra deste tipo.
“Essa guerra fortaleceria grupos terroristas como o Daesh e a Al Qaeda. Teria um custo humano terrível e ainda elevaria a crise de refugiados na Europa.
“Em vez de pagar bilhões por uma guerra sem fim, se poderia usar estes recursos para a reconstrução da infraestrutura em ruínas do país”.
Gabbard prosseguiu afirmando que, se eleita presidente, voltaria ao acordo nuclear com o Irã, pois a saída do acordo e outras medidas anti-iranianas “pioraram as coisas e fizeram que o nosso país e o povo norte-americano ficassem menos seguros”.
“Temos que resolver as diferenças e eliminar as tensões que, infelizmente, nos levaram ao ponto atual em que estamos à beira de uma guerra. Temos que por fim a estas custosas guerras de mudança de regime e acabar de vez com esta nova Guerra Fria”, finalizou.