Convocada pelos sobreviventes do massacre a tiros na escola secundária Marjory Stoneman Douglas, ocorrido há 40 dias, a ‘Marcha Por Nossas Vidas’ em Washington exigiu medidas urgentes contra a violência nos EUA e a corrupção do cartel do Rifle. 800 mil participaram da maior manifestação de jovens desde o Vietnã. Insistência de Trump em afrontar as vítimas, mantendo a venda dos AR-15 e propondo armar professores, empurrou a garotada às ruas.
A neta de Martin Luther King, Yolanda Renee, com a multidão repetindo suas palavras, anunciou a Trump e ao mundo “vamos ser uma grande geração”. “Votem-nos para fora”, cantou ainda a Marcha.
Nascidos sob o ‘sangue por petróleo’ de W. Bush, e criados sob o bailout aos bancos de Obama, os jovens querem respostas. O protesto em Nova Iorque juntou 200 mil pessoas, 85 mil em Chicago, 55 mil em Los Angeles, e mais milhares e milhares espalhados de costa a costa.
Uma oradora de Los Angeles, Edna Chávez, disse que deter os tiroteios em massa exigia chegar às “causas básicas” da violência, “mudar as condições que fomentam a violência”. Incluindo o desemprego, a desigualdade, a deterioração das escolas públicas, o corte de direitos. Foi ela também que disse que aprendeu a se esquivar dos tiros nos ‘barrios’ “antes de aprender a ler”.
Em Washington, os sobreviventes da escola Marjory se encontraram com os chegados dos guetos, o pessoal do “Mãos ao Alto, Não Atire”, e todas essas formas de manifestação da “doença americana” – cujo sintoma mais agudo é a enésima Columbine de cada semana -, mas cujas raízes vão além.
Como revelado pela semana que passou, em que Trump assinou o orçamento aprovado pelo Congresso que dá US$ 700 bilhões para as guerras, golpes e ocupações do Pentágono e da CIA. Orçamento em que os imigrantes “dreamers” foram rifados.
Um ‘serial bomber’ se suicidou em Austin, depois de passar quase um mês matando e ferindo negros e latinos com caixas-bomba. Um jovem negro da Califórnia foi morto com 20 tiros no quintal da casa dos avós – algemado depois de morto – porque estava com um celular na mão. Também My Lai acabou de completar 50 anos e Abu Graib, 14.
Em um comovente depoimento, a sobrevivente Cameron Kasky assinalou como “milhares de jovens, meus colegas de turma, foram forçados a se tornarem adultos e foram alvos como adultos” na escola Marjory. “Temos que ficar ao lado daqueles que perdemos e consertar o mundo que os traiu”, conclamou.
Cameron leu o nome de cada um deles: Alyssa Alhadeff, Scott Beigel, Martin Duque Anguiano, Aaron Feis, Jaime Guttenberg, Chris Hixon, Luke Hoyer, Cara Loughran, Gina Montalto, Joaquin Oliver, Alaina Petty, Prado Pollack, Helena Ramsay, Alex Schachter, Carmen Schentrup, Pedro Wang e Nicolau Dworet”.
Continuando, ela disse que “pela primeira vez em muito tempo sinto esperança. A marcha não é o clímax desse movimento, é o começo. Hoje é um dia ruim para a tirania e a corrupção”.
Já Naomi Wadler, de 11 anos, disse estar ali para “representar as meninas afro-americanas cujas histórias não chegam ao noticiário da noite”, mas são “vítimas da violência” e se tornam “simples estatísticas”.
O estudante Trevon Bosley, de Chicago, que perdeu em 2006 um irmão que foi baleado e morto ao sair da igreja, denunciou que a epidemia de violência na cidade dele, “não começou da noite para o dia e foi causada por muitos problemas com os quais ainda não estamos lidando até hoje”.
“Quando você tem uma cidade que sente que é mais importante ajudar a pagar por um complexo universitário e esportivo, em vez de financiar escolas e comunidades empobrecidas, você tem violência armada. Quando você tem uma cidade que sente que precisamos de mais bicicletas Divvy no centro de Chicago para turistas, em vez de mais fundos para programas de força de trabalho que tiram caras das ruas, você tem violência armada”, sublinhou Trevon.
“É hora de se preocupar com todas as comunidades igualmente. É hora de parar de julgar algumas comunidades como dignas e algumas comunidades como indignas”, convocou, chamando a “parar de julgar os jovens que se parecem com meu irmão ou que vêm de comunidades empobrecidas. Chegou a hora de os Estados Unidos perceberem que os tiroteios diários são problemas cotidianos”.
Não são “diferentes violências”, são diferentes expressões da violência que a plutocracia ianque desencadeou contra seu próprio povo, e contra os povos do mundo, na insana busca de impor seu ‘excepcionalismo’, especulação e ganância – e deter a decadência.
No entanto, outra geração se levanta para “ter um sonho” e, quem sabe, ir mais longe que os que os antecederam tão honradamente. Daqui a um mês, a tragédia de Columbine completará 19 anos. Como disse o cineasta Michael Moore, “há as armas, mas o problema não é só as armas”.
Na histórica Avenida Pensilvânia, Yolanda Rennee King convocou: “Vocês podem repetir essas palavras depois de mim, por favor? Espalhem a palavra!”. Multidão, em coro: “Espalhe a palavra!” Yolanda: “Vocês já ouviram falar?”… Multidão: “Vocês já ouviram falar?”… Yolanda: “No país inteiro!”… Multidão: “No país inteiro!”… Yolanda: “Nós”… Multidão: “Nós”… Yolanda: “Vamos ser”… Multidão: “Vamos ser”… Yolanda: “Uma grande geração”… Multidão: “Uma grande geração”…
ANTONIO PIMENTA
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