Os problemas econômicos sentidos em 2021 vão continuar ou se agravarão este ano
Crise econômica, inflação e desemprego são hoje os principais temores dos brasileiros em relação aos próximos 12 meses, informou pesquisa realizada pelo Instituto Travessia por encomenda do Valor Econômico.
O instituto já havia realizado o mesmo levantamento em 2020: se antes as principais preocupações da população giravam em torno do alastramento da pandemia de Covid-19, o medo de que a situação econômica permaneça como está ou piore passou a ser a resposta da maioria diante do atual cenário de inflação descontrolada e de desemprego elevado. Para 81% dos entrevistados, os problemas econômicos sentidos em 2021 vão continuar ou se agravarão em 2022.
O levantamento aponta que 45% dos entrevistados esperam que 2022 será igual ao ano passado. “Isso quer dizer que para quase metade dos brasileiros a situação do país vai continuar ruim”, afirma Bruno Soller, responsável técnico pela pesquisa e sócio do Travessia. Outros 36% mostraram-se acreditam que a conjuntura vai piorar. Somados, esses dois grupos alcançam 81% da população.
Dentre os problemas, o temor mencionado pela maior parcela dos entrevistados (25k%) foi a “crise econômica”. Em seguida, mais concretamente, 23% da população declarou ter medo da inflação. Outros 20% declararam temer o desemprego. Na quarta posição, ficou o medo da “crise política” com 15%.
Os temores da população são reais: a inflação oficial do país atingiu 10,74% nos 12 meses até novembro. Alimentos, gás de cozinha, energia elétrica e combustíveis tiveram os preços mais afetados, impactando gravemente nas condições de vida dos brasileiros. O desemprego e as rendas arrochadas como nunca contribuíram para derrubar drasticamente o poder de compra e elevar a pobreza a níveis extremos. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), há hoje no país 12,9 milhões de pessoas buscando trabalho sem encontrar, enquanto 40,7% dos ocupados estão na informalidade para conseguir algum sustento. A renda média do trabalhador, por sua vez, despencou 11,1% em outubro ante o mesmo período de 2020, para o menor nível desde 2012.
A crise econômica, portanto, já é uma realidade. De acordo com previsões do FMI, o PIB (Produto Interno Bruto) do país deve avançar 4,5% em 2021 – o que mal recupera as perdas de 2020 para um ano, que segundo o Ministério da Economia, seria de “recuperação em V”. Com o governo promovendo a política de arrocho, as perspectivas para 2022 são de crescimento perto do zero, mais inflação, desemprego e juros altos.
“Agora, com aperto monetário, juros altos e pressão inflacionária, as expectativas só tendem a piorar”, diz Renato Dorgan Filho, analista e sócio da Travessia. “Não por acaso, a necessidade de apertar os cintos virou uma espécie de mantra para 2022.”
Na pesquisa, quase oito em cada dez pessoas (79% do total) afirmaram que não pretendem ampliar gastos de nenhuma espécie neste ano. “Estes, que formam uma imensa maioria, vão prender o cinto no último botão”, diz. No mais, quando falam em algum tipo de elevação de gastos, 9% citam a alimentação, um item básico.
A enquete foi feita entre os dias 4 e 6 de dezembro, a partir de entrevistas por telefone com uma amostra de 1,2 mil pessoas e em todo o país.