Desemprego de longa duração atinge principalmente os brasileiros das classes D e E, elevando ainda mais a desigualdade no país, aponta pesquisa
Dos mais de 3,7 milhões de brasileiros que estão sem emprego há mais de dois anos, 81% são das classes D e E, é o que demonstra um levantamento feito pela Tendências Consultoria Integrada. Segundo o levantamento, divulgado nesta segunda-feira (4) pelo “O Estado de S. Paulo”, o chamado desemprego de longo prazo aumentou no país. Em 2015, o percentual de brasileiros sem emprego há mais de dois anos era de 17%. No final de 2021, representava 26% dos que estavam em busca de trabalho no Brasil.
O estudo também aponta que o desempregado de longo prazo entre os mais pobres cresce bem acima das demais classes. Entre 2015 e 2021, o número de pessoas sem emprego há mais de dois anos nas classes D e E avançou 173%, na classe C, 86%; e na classe B, 53%. Por outro lado, o desempregado de longo prazo na classe A, caiu 37%.
O economista e responsável pelo levantamento, Lucas Assis, lembra que “ficar tanto tempo desempregado significa desaprender tarefas, ficar desatualizado em relação às novas práticas e ter dificuldade em ser tão produtivo quanto antes”. Na sua avaliação, no final das contas, isso representa reduzir o potencial de crescimento da economia no médio e longo prazo.
É um realidade perversa, aumenta a desigualdade, num cenário onde tudo ficou pior: além do desemprego alto, a carestia corroendo a renda dos brasileiros e a economia estagnada, com energia, combustíveis e juros cada vez mais altos.
No trimestre móvel encerrado em fevereiro, segundo a Pnad Contínua do IBGE, faltou trabalho para 27,3 milhões de pessoas. Estes brasileiros compõem a chamada taxa de subutilização da força de trabalho, que inclui: os desempregados, os subocupados (que trabalham menos de 40 horas semanais) e a força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho, ou que procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar).
Sem grandes estímulos, a economia brasileira padece da queda histórica dos investimentos públicos com o governo Bolsonaro, do retorno da inflação e do peso dos juros altos. As últimas expectativas do “mercado” financeiro – Boletim Focus do Banco Central (BC) – para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, são de um crescimento de apenas 0,5%, com a metade das projeções apontando para crescimento negativo.
Neste cenário, a maioria dos brasileiros que conseguem retornar aos postos de trabalho conseguem ocupações sem carteira assinada, com salários menores do que recebiam quando ocupavam a mesma função no emprego anterior, ou, vivem dos populares “bicos”, trabalho precário.
“As condições se deterioraram. Quem consegue emprego, consegue com remuneração mais baixa comparado ao passado, o que explica a renda na mínima história”, destacou Lucas Assis. Segundo o IBGE, a renda média recebida pelo trabalho recuou 8,8% no trimestre encerrado em fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2021, passando de R$ 2.752 para R$ 2.511.
Com uma filha de 11 anos, Carolina Cristina dos Santos, de 30 anos, contou à reportagem do Estadão que nos últimos anos tem vivido de “bicos” para sobreviver.
A última vez que Carolina teve sua carteira assinada foi há quatro anos como promotora de vendas. Em casa, Carolina monta lanternas para motos – um trabalho que dura normalmente das 8 horas até meia noite. Para cada milheiro de peças, ela ganha R$ 80. No mês, quando tudo corre bem, acaba tirando cerca de R$ 1,5 mil. Desse valor, R$ 700 vão para o aluguel da casa.
“O problema é que essa renda é instável. Hoje você trabalha, mas amanhã pode não ter nada. Então, fica muito difícil”, relatou Carolina.