O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Covid-19 (PNAD-Covid19), nesta quarta-feira (24), apontando que 9,7 milhões de trabalhadores ficaram sem remuneração alguma no mês de maio. Isso corresponde a mais da metade (51,3%) das pessoas que estavam afastadas de seus trabalhos e a 11,7% da população ocupada do país, que totalizava 84,4 milhões.
“Nós já sabíamos que havia uma parcela da população afastada do trabalho e agora a gente sabe que mais da metade dela está sem rendimento. São pessoas que estão sendo consideradas na força, mas estão com salários suspensos. Isso não é favorável e tem efeitos na massa de rendimentos gerada, que está estimada abaixo de R$ 200 bilhões”, comentou o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.
A pesquisa aponta também que caiu o rendimento efetivo dos trabalhadores, ficando cerca de 18% menor do que o habitualmente recebido. A média do rendimento habitual de todos os trabalhos no país ficou em R$ 2.320 e o efetivo em R$ 1.899, ou seja, o rendimento efetivo representava 81,8% do habitualmente recebido pelos trabalhadores.
Além disso, 19 milhões de pessoas (ou 22,5%) estavam afastadas de seu trabalho, sendo que 15,7 milhões (ou 18,6%) estavam afastadas devido à pandemia. Dentre os trabalhadores afastados 27,3% tem 60 anos ou mais.
Trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados, registrando o maior percentual de pessoas afastadas devido à pandemia (33,6%), seguidos pelos empregados do setor público sem carteira (29,8%) e pelos empregados do setor privado sem carteira (22,9%). Já entre os trabalhadores domésticos com carteira, o percentual de afastados foi de 16,6%.
“Claramente os trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados pela pandemia. Parcela expressiva deles tem renda média abaixo de um salário mínimo. Já os com carteira foram menos afetados porque têm mais estabilidade”, explicou Azeredo.
Ainda segundos os dados divulgados, mais de 28 milhões de pessoas não procuraram trabalho devido à pandemia. Em maio, havia 75,4 milhões de pessoas fora da força de trabalho no Brasil, dos quais 34,9% não procuraram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e 24,5% não procuraram principalmente devido à pandemia ou porque faltava trabalho na localidade em que residiam, mas também gostariam de trabalhar.
“Ao somarmos a população fora da força que gostaria de trabalhar, mas que não procurou trabalho, com a população desocupada, temos 36,4 milhões de pessoas pressionando o mercado de trabalho. Quando o motivo de não ter procurado foi pandemia ou a falta de trabalho na localidade, o total foi de 28,6 milhões de pessoas.”, diz IBGE.
Para Azeredo, a crise da Covid-19 inflou a força de trabalho potencial. “Esse fenômeno afeta principalmente as pessoas de nível superior, pretos e pardos e adultos de 30 a 49”, explicou.
Entre os 65,4 milhões trabalhadores que não estavam afastados (77,5% dos ocupados), apenas 8,7 milhões estavam trabalhando de forma remota (13,3%). Quanto maior o nível de instrução, maior foi o percentual de pessoas que trabalhavam remotamente. Para as pessoas com nível superior completo ou pós-graduação, 38,3% estavam trabalhando remotamente; médio completo e superior incompleto, 7,9%; fundamental completo e médio incompleto,1,7% e sem instrução ou com fundamental incompleto, apenas 0,6%.
Segundo Azeredo, “isso já era esperado, pois trabalhadores de nível superior estão envolvidos em atividades mais passíveis de serem realizadas de forma remota, como professores, analistas, técnicos de TI etc.”.
A pesquisa do IBGE também constatou que 38,7% dos domicílios brasileiros receberam algum auxílio relacionado à pandemia, como o auxílio emergencial e a complementação do governo no Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda. O valor médio pago a esses domicílios foi de R$ 847.
A PNAD COVID19 construiu um indicador síntese que conjugou os sintomas mais associados à Covid-19: perda de cheiro ou de sabor, ou tosse e febre e dificuldade para respirar, ou tosse e febre e dor no peito.
A elaboração desse indicador síntese se deu a partir de uma pesquisa recomendada pelo Control Disease Center (CDC), baseada em observação de experiências internacionais e consulta a especialistas brasileiros do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), da escola de enfermagem Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“São os sintomas relacionados à síndrome gripal. Na pesquisa de julho serão inseridos outros sintomas, entre eles, a diarreia”, explica Azeredo.
Os resultados indicaram que 4,2 milhões de pessoas (ou 2% da população) apresentaram sintomas conjugados de síndrome gripal que podiam estar associados à doença. Os sintomas foram informados pelo morador e não se pressupõe a existência de um diagnóstico médico.
A pesquisa demonstra ainda que a população negra (pretas e pardas) representaram 70% dos que apresentaram algum dos sintomas conjugados. O perfil dos hospitalizados é majoritariamente masculino (62,3%), negro (61,3%) e de idosos (40%). Ainda assim, as mulheres representaram 57,4% das pessoas que apresentaram sintomas conjugados.
Pela distribuição etária, o maior percentual foi entre as pessoas de 30 e 59 anos (55,2%), seguido pelo grupo entre 20 e 29 anos (21,1%) e pelos idosos com 60 anos ou mais (11,1%). Entre as pessoas que apresentaram sintomas conjugados, 31,3% (ou 1,3 milhões de pessoas) procuraram atendimento em estabelecimento de saúde. A maioria deles (78,2%) procurou no sistema público de saúde (postos de saúde, equipe de saúde da família, Unidade de Pronto Atendimento, Pronto Socorro ou Hospital do SUS).
Além disso, 61 mil pessoas (13,5%) que procuraram atendimento em hospitais com algum dos sintomas conjugados precisaram ficar internadas, sendo que destas 36,1% (22 mil) precisaram ser sedadas, intubadas e colocadas em respiração artificial.