Em abril, com o necessário isolamento social e o atraso nas medidas emergenciais por parte do governo, a queda será ainda maior, alertam empresários
É a primeira vez desde 2008 que a produção industrial caiu em todos os locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram apresentados hoje (14) os dados regionais de março, mostrando um recuo generalizado na produção física que, a nível geral, tombou 9,1% de fevereiro para março. Isso se deve, em partes, pela propagação da pandemia do novo coronavírus no país e a consequente necessidade de fechamento de serviços essenciais. Mas como a quarentena só começou a partir da segunda quinzena do mês em questão, os dados demonstram que a pandemia chegou ao Brasil com uma indústria já paralisada e deprimida pela política econômica em curso.
O estado de São Paulo, que concentra 34% da indústria nacional, contribuiu para o resultado nacional com queda de -5,4% – mas nota-se que esta é a segunda taxa negativa consecutiva: em fevereiro a produção industrial paulista ficou negativa em -0,4%. em relação a janeiro.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentaram recuos expressivos: de -20,1% e -17,9%, respectivamente. O Ceará, com -21,8%, foi o local que apresentou o maior queda em termos absolutos. As outras baixas na produção física foram no Pará (-12,8%), o Amazonas (-11%) Região Nordeste (-9,3%), Pernambuco (-7,2%), Espírito Santo (-6,2%), Bahia (-5,0%), Paraná (-4,9%), Mato Grosso (-4,1%), Goiás (-2,8%), Rio de Janeiro (-1,3%) e Minas Gerais (-1,2%).
Economistas projetam que os meses posteriores à pesquisa serão ainda piores: isso porque a pandemia se agravou a partir de abril, exigindo medidas mais restritivas da parte dos governos estaduais e mais recursos do Tesouro Nacional para socorrer estados, municípios, empresas e trabalhadores.
Apesar da emergência, a resposta do governo federal continua sendo a da insistência no ajuste fiscal: empresas sem caixas para pagar funcionários e manter a estrutura, pequenos negócios fechando e uma legião de desempregados sem que nenhuma ajuda efetiva, esperada do Estado em momentos como esse, tenha chegado. Como plano para enfrentamento e saída da crise, ao contrário da prática de outros países e a recomendação de economistas, o Ministério da Economia de Bolsonaro disse que manterá a receita do estado mínimo.
Para o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), “adotadas somente na segunda quinzena de março, as medidas de isolamento social, necessárias para evitar o colapso de nosso sistema de saúde, levaram à contração do consumo das famílias, em especial de bens considerados não essenciais, e colocaram grandes desafios à organização da produção de forma geral, mas sobretudo dos ramos intensivos em mão de obra”. Porém, “em abril, mês atingido integralmente pelo isolamento social e de forte incerteza, dados os problemas de implementação dos programas emergenciais do governo, a queda se aprofundou”.
“O investimento de hoje é o crescimento de amanhã. Facilitar e ampliar o capital de giro para as empresas de todos os portes, com custos compatíveis, para serem financiadas durante a travessia dessa pandemia é outro caminho para amenizar a situação das fabricantes dos setores”, defendeu João Carlos Marchesan, presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Segundo ele, o setor ouviu 8 mil empresas e apurou que 45% delas precisam de capital de giro para não fechar. E só 25% das que recorreram a bancos contrataram crédito, ao custo médio de 12,5% ao ano. “O dinheiro não está chegando aonde tem que chegar”.