As medidas de isolamento são necessárias, mas só funcionam se os governos, principalmente o Governo Federal, cumprirem seu papel e ajudar a população
ROZINA DE JESUS*
Há dois meses a cidade de São Paulo adotou medidas de isolamento social para conter a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. As escolas e o comércio permanecem de portas fechadas e apenas serviços essenciais estão funcionando plenamente. Tudo isso para enfrentar um inimigo invisível, mas muito poderoso que atinge a todos, sem distinção.
Desde então, muito já se disse sobre o novo coronavírus e as mudanças de comportamento, de hábitos de consumo e de relações sociais e com meio ambiente que podem surgir a partir desse momento. Do futuro não sabemos muita coisa. A única coisa que é certa e muito presente é que esta pandemia escancarou a desigualdade e injustiça social que existem em nossa cidade e o quanto a população que vive na periferia está desassistida.
Pois se é fato que o vírus não escolhe quem encontra pelo caminho e está em todas as regiões da cidade, também é certo que as pessoas infectadas por ele correm mais risco de morte se forem moradoras de bairros pobres, tiverem dificuldade de acesso ao sistema de saúde e condições de vida precária, pois além da idade e de doenças preexistentes, o maior fator de risco para a Covid-19 é a falta de condições dignas de vida.
Tanto é assim que a Brasilândia, bairro da periferia da Zona Norte, tem o maior número de mortes por Covid-19 em toda a capital. Já nos bairros mais ricos, onde surgiram os primeiros casos da doença, o número de óbitos é muito menor.
A ciência e a experiência vivida em outros lugares têm mostrado que as medidas de isolamento social, associadas aos hábitos de higiene são as mais eficazes para combater a doença. A lição aprendida por outros países também mostrou que o Governo deve dar todo o suporte para que as pessoas cumpram essas medidas e possam ficar em casa.
Mas o que tem acontecido em nosso país? O Governo Federal anunciou, depois de muita pressão, uma renda básica de R$ 600 (no começo ele queria pagar apenas R$ 200). Para receber a renda, as pessoas têm que ter acesso à internet e cumprir uma série de exigências burocráticas. Resultado: filas imensas nos bancos, muita gente que até hoje não conseguiu receber o auxílio emergencial e um luto cada vez maior entre as famílias que moram nas quebradas, pois pra ganhar o pão de cada dia nas ruas estão sendo obrigadas a se expor cada vez mais à doença.
As medidas de isolamento são necessárias, mas só funcionam se os governos, principalmente o Governo Federal, cumprirem seu papel e ajudar a população. O auxílio emergencial e o apoio aos pequenos empreendedores e aos trabalhadores informais é um dever do governo, não é um favor. Afinal, todos têm o direito de ficar em casa para proteger a própria vida e o principal papel de um governante deve ser proteger e melhorar a vida das pessoas.
*Rozina de Jesus é liderança do Movimento de Mulheres e do Movimento Negro na cidade de São Paulo. É assessora parlamentar e presidente da secção da Zona Norte do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).