Coprodução entre Brasil (produtora Gullane) e Itália
MARIA DO ROSÁRIO CAETANO
“O Traidor”, de Marco Bellocchio, coprodução entre Brasil e Itália, que tem Maria Fernanda Cândido no elenco e locações no Rio de Janeiro, foi o grande vencedor da sexagésima-quinta edição dos Prêmios David di Donatello, o Oscar italiano. O longa-metragem sobre o mafioso arrependido Tommaso Buscetta disputou 18 estatuetas e ganhou seis, entre elas, quatro das mais importantes: melhor filme, diretor, ator (Pierfrancesco Favino) e roteiro original.
A produtora Gullane, dos irmãos Caio e Fabiano Gullane, parceira de Bellochio, ainda não tem data definida para lançamento do filme no Brasil. Com a interdição dos cinemas, por causa da epidemia do coronavírus, o calendário de lançamentos, brasileiros e internacionais, tornou-se uma verdadeira incógnita.
A cerimônia dos Prêmios David di Donatello foi virtual e teve transmissão pela RAI Uno. Os artistas, produtores e técnicos receberam, em casa, as estatuetas atribuídas pela Academia Italiana de Cinema. Roberto Benigni, que disputava o prêmio de melhor ator coadjuvante (perdeu para Luigi Lo Cascio, de “O Traidor”), brincou com os dias de epidemia, sem esconder sua alegria triste, e Valeria Golino, melhor atriz coadjuvante, dedicou seu David “à Itália, e a todos nós, neste momento de fragilidade e potência”.
O presidente da República Italiana, Sergio Matarella, mandou mensagem encorajadora aos profissionais da indústria do espetáculo audiovisual e mostrou conhecer a poderosa história cinematográfica de seu país: “por causa desta terrível epidemia e para reconstruir nosso país, necessitamos voltar a sonhar e fazer sonhar. Nosso augúrio é que esta recuperação seja acompanhada, como aconteceu no pós-guerra com o Neo-Realismo, por uma nova explosão de criatividade e beleza”.
Dois símbolos do grande cinema peninsular foram homenageados durante a cerimônia virtual – Federico Fellini e Alberto Sordi. Se vivos fossem, eles fariam cem anos neste 2020. Já a centenária atriz Franca Valeri recebeu, em mãos, seu primeiro David di Donatelo, por sua trajetória no audiovisual. Ela estreou, 70 anos atrás, em “Mulheres e Luzes”, de Fellini e Lattuada, trabalhou com Steno, em “Totò a Cores” (1952) e com Dino Risi, mestre da comédia, em “O Signo de Vênus” (1955).
A polêmica recriação de Matteo “Gomorra” Garone para o clássico “Pinocchio”, de Colodi, ganhou cinco prêmios, mas todos técnicos. O fato de Roberto Benigni ter sido, em filme de sua autoria (realizado em 2003), o intérprete do boneco mentiroso, e, agora, dar vida ao artesão Gepetto, não comoveu os votantes. O vencedor veio do sólido elenco de apoio de “O Traidor”.
A superprodução “O Primeiro Rei – Nascimento de um Império”, dirigida por Matteo Rovere, ganhou três David di Donatello. Dois em categorias técnicas (fotografia e som) e um para o pool de empresas que assegurou o grande volume de recursos demandado pelo filme. “O Primeiro Rei” revisita o mito fundador de Roma, célula mater do poderoso Império que atravessou séculos. Ou seja, a lenda dos irmãos Rômulo e Remo, aqueles que teriam sido criados por uma loba. Este épico histórico, ignorado pelos distribuidores brasileiros, é falado em latim arcaico e dura 127 minutos.
O belo “Martin Eden”, de Pietro Marcello, que recebeu onze indicações, triunfou em apenas uma, mas significativa: melhor roteiro adaptado. O filme, lançado no Brasil pela Pagu Pictures, é uma ousada adaptação de romance homônimo (e traços autobiográficos) de Jack London. A trama, que no livro ambienta-se nos EUA, adapta-se à realidade e idioma italianos, tendo a cidade portuária de Nápoles como principal cenário.
CONFIRA OS PREMIADOS PELO 65º DAVID DI DONATELO
- “O Traidor”: melhor filme, diretor (Marco Bellocchio), ator (Pierfrancesco Favino), roteiro original (Bellocchio e colaboradores), coadjuvante (Luigi Lo Cascio), montagem (Francesca Calvelli)
- “Pinocchio” (de Matteo Garrone): melhor direção de arte (Dimitri Capuani), efeitos especiais (Theo Demeris e Rodolfo Migliari), trucagem-pós-produção (Dalia Colli e Mark Coulier), figurinos (Massimo Cantini Parrini), design de cabelos (Francesco Pegoretti)
- “O Primeiro Rei – Nascimento de Um Império” (de Matteo Rovere) – melhor produção (Roman Citizen Entertainment, Rai Cinema, Groenlandia, GapBusters), fotografia (Daniele Ciprì), melhor som
- “Martin Eden”(de Pietro Marcello) melhor roteiro adaptado (Pietro Marcello e Maurizio Braucci)
- “Il Primo Natale” (Salvatore Ficarra) – melhor filme por eleição do Público
- “Bangla” – melhor diretor estreante (Pahim Bhuiyan)
- “Selfie” (de Agostino Ferrente) – melhor documentário
- “A Deusa da Fortuna” (de Ferzan Ötzpetek) – melhor atriz (Jasmine Trinca)
- “5 é o Número Perfeito” (de Igort) – melhor atriz coadjuvante (Valeria Golino)
- “Orchestra di Piazza Vittorio” (Il Flauto Magico di Piazza Vittorio): melhor trilha sonora
- “Mio Fratello Rincorre i Dinosauri” (de Stefano Cipani) _ Prêmio da Juventude (David Giovanni)
- “Parasita” (Coreia do Sul): melhor filme estrangeiro
(Publicado originalmente em REVISTA DE CINEMA; reproduzido com permissão da autora.)