Sob o impacto da ausência de medidas que reduzam os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma “prévia” do PIB, tombou -5,9% em março ante fevereiro. A queda acumulada no primeiro trimestre do ano foi de -1,95%, também causada pela política econômica já em curso e do baixo crescimento observado desde 2019.
O PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve de índice de crescimento da economia. A prévia apresentada pelo Banco Central leva em consideração a atividade da indústria, serviços, comércio e consumo, mas, o resultado oficial, é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e os números do trimestres serão apresentados no dia 31 de maio. O IBGE, também responsável pela apuração de dados dos setores econômicos, registrou quedas em março na produção industrial (-9,1%), varejo ampliado (-13,4%) e serviços (-6,9%).
Embora a retração seja inevitável diante das medidas de fechamento de serviços não essenciais e de quarentena da população, que apontam para uma recessão mundial, países pelo mundo têm adotado medidas para diminuir esse impacto. Aqui no Brasil, a ausência de um plano que garanta renda às famílias e apoio às empresas durante a pandemia reforça previsões de que a depressão no ano será acima dos 5% negativos.
A estimativa revisada do governo é que o PIB de 2020 seja de -4,9% e o boletim Focus, também do Banco Central e que reúne previsões do mercado financeiro, estima queda de -4,1%. Para o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) o tombo será, respectivamente, de -5% e 5,3%. No pior dos cenários, ou seja, sem ações do Estado para mitigar a crise, o cálculo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) prevê que a queda no PIB pode ser da ordem de 10%.
Economistas consideram que é necessário garantir renda para as famílias durante a quarentena necessária para preservar vidas, além de impedir que empresas quebrem através da adoção de programas de crédito. Além disso, o “plano de saída” da crise precisa estar pautado no investimento público e no abandono da política de ajuste fiscal de Paulo Guedes, ministro da Economia.
“Quando há uma crise grande como esta, nós temos que contar com o Estado na área da saúde e contar com o Estado na economia. Não podemos contar com o mercado de forma nenhuma, porque se deixar por conta do mercado a crise realmente será sem tamanho”, resume o professor e economista Luiz Carlos Bresser-Pereira.
“O que afeta a economia é a pandemia, não são as medidas para combater a pandemia”, diz Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, ex-presidente do Banco Central (BC) e atual secretário da Fazenda do estado de São Paulo, em resposta ao governo federal que insiste em responsabilizar a decisão de estados e municípios pela adoção da quarentena como o grande problema da economia. Enquanto faz uma campanha genocida pela abertura de serviços não essenciais “para não afundar o país”, a gestão de Bolsonaro retém ao máximo os recursos emergenciais aprovados no Congresso Nacional para auxílio às famílias, repasse à estados e municípios e medidas de crédito para acudir as empresas.
“A ação necessária é impedir um colapso total dos circuitos de renda. O governo está demorando muito para fazer isso, a demora é impressionante. Os governos dos Estados Unidos, Japão, Canadá, Reino Unido já imprimiram mais dinheiro para defender suas economias, amparar a população sem renda e as empresas sem capital”, defende o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Combinado a isso, é necessário “uma política muito ativa de gasto público.
“As pessoas não conseguem receber. Uma incompetência total dos instrumentos dos estados. As empresas que buscam financiamento para a folha, não conseguiram acessar nem 1% do crédito. Se você vai esperar que os bancos privados emprestem, não vai ser feito. O governo Bolsonaro não está conseguindo governar”, afirma o economista.
PRISCILA CASALE