Em debate das fundações partidárias, Helder Barbalho (PA), Renato Casagrande (ES), Flávio Dino (MA) e Rui Costa (BA) afirmaram que salvar vidas é salvar a economia e denunciaram a sabotagem de Bolsonaro à democracia e à quarentena contra o coronavírus
“Tenho a convicção de que se o Bolsonaro puder, ele fechará as instituições democráticas, ele intervirá nos estados, ele fechará o Congresso e o Supremo. Não creio que ele conseguirá, mas seria ingênuo nós não considerarmos que é isso que ele quer. Efetivamente, esse é o sonho do Bolsonaro, e é o pesadelo no Brasil”, alertou o governador Flávio Dino (MA), no no quarto evento do ciclo de debates “Diálogos, Vida e Democracia”.
Os governadores Helder Barbalho (MDB), do Pará, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, e Rui Costa (PT), da Bahia, defenderam a democracia e o uso da ciência no combate ao coronavírus, no evento realizado sábado (16) pelo Observatório da Democracia, com o tema “Pandemia, crise e Pacto Federativo”. As falas foram mediadas por Manoel Dias, presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, do PDT.
Para Helder Barbalho, o “coronavírus deveria ser o único adversário do Brasil”. “Me causa muita preocupação quando eu vejo se perder energia com discussões ideológicas com a tentativa de desconstruir a ciência e o conhecimento para alicerçar um discurso que possa, eventualmente, contraditar aqueles que valorizam a vida”.
Flávio Dino denunciou a tentativa de Bolsonaro de desorganizar “qualquer força de moderação da sua vocação despótica. Uma das forças de contenção de seus impulsos autoritários é a existência de governadores que defendem a existência da Federação e defenda a Democracia”.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou que a falta de “uma orientação nacional” atrapalha o combate ao vírus. “A saída do ministro Teich, ontem [sexta-feira, 15], saindo dois ministros em um mês, mostra como o país está à deriva neste momento, uma ausência completa de coordenação nacional”.
Rui Costa complementou, dizendo que Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta “preferiram ficar com a ciência do que ficar com a bravata”.
Renato Casagrande
“A gente pode até abrir muitos leitos de UTI, que salvam vidas, mas não salvam todas. O que salva vidas, mesmo, é o isolamento e o distanciamento, o uso de máscara, a não aglomeração, a prevenção”, disse o primeiro orador.
“O movimento que nós temos que fazer agora tem que extrapolar os limites ideológicos. A gente tem que ir além dos limites das eleições passadas” para lutar contra o fascismo.
Casagrande defendeu, também, o isolamento social como forma de conter o avanço da epidemia. “A gente pode até abrir muitos leitos de UTI, que salvam vidas, mas não salvam todas. O que salva vidas, mesmo, é o isolamento e o distanciamento, o uso de máscara, a não aglomeração, a prevenção”.
“Além de cuidar dessa crise, nós temos que cuidar desses ataques que sofremos diariamente e dessa dúvida, que o cidadão brasileiro tem, na hora que ouve o governador e ouve o presidente da República”.
“A dificuldade do isolamento social é enorme”, relatou.
Segundo ele, a velocidade de contágio tem que ser controlada “para que possamos salvar vidas no estado do Espírito Santo. Essa tarefa está nas mãos dos governadores, dos prefeitos, porque há ausência completa de uma coordenação nacional por parte da União”, continuou o governador capixaba.
“O momento exige uma mudança completa de prática do governo central, e eu não vejo como isso pode acontecer. A referência e a coordenação é do presidente da República, o sistema é presidencialista”.
O estado já abriu 408 novos leitos de UTI exclusivos para a COVID-19. “Estamos nesse trabalho forte de abertura de leitos, mas todo governador sabe da dificuldade para arranjar respiradores, de conseguir profissionais. Até agora nós administramos, mas podemos colapsar por conta das dificuldades que se encontram no sistema de saúde”.
Ele ainda defendeu o auxílio emergencial e os créditos “para financiar o microempreendedor, a pequena empresa e a microempresa”. “Na hora da crise, os mais pobres, os mais vulneráveis, são os que mais sofrem”, “é preciso que a gente tenha o auxílio emergencial para os mais vulneráveis”.
“O país que não tem uma política industrial eficiente perde a sua soberania. Nós somos dependentes da China, da Europa. E quando todo mundo vive uma crise ao mesmo tempo, nós ficamos a ver navios”.
Flávio Dino
Para o governador Flávio Dino, “a agenda federativa está, hoje, vinculada à agenda democrática. O objetivo do Bolsonaro é quebrar todos os segmentos que resistem à vocação autoritária que lamentavelmente ele encarna”.
“E ele identifica isso nos governadores, de modo pluripartidário, de modo multideológico, indo desde o governador de São Paulo [João Doria, do PSDB] até os governadores que estão reunidos hoje”.
“Tenho a convicção de que se o Bolsonaro puder, ele fechará as instituições democráticas, ele intervirá nos estados, ele fechará o Congresso e o Supremo. Não creio que ele conseguirá, mas seria ingênuo nós não considerarmos que é isso que ele quer. Efetivamente, esse é o sonho do Bolsonaro, e é o pesadelo no Brasil”, alertou o governador.
Para conseguir impedir com que Bolsonaro dê um golpe, “devemos manter o clima de unidade, de entendimento, mais amplo possível. Com quem queira”.
O governador citou o gesto de Marcelo Freixo em direção à construção de uma frente ampla, que foi ter desistido de sua candidatura para a Prefeitura do Rio de Janeiro. “Ele adotou um chamado à unidade política, não apenas ao Rio de Janeiro, mas, penso, que a todo o país”.
Flávio Dino também destacou a necessidade da ajuda financeira para estados e municípios e do auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais.
“Ele tenta destruir os governadores de várias formas, desde ataques constantes até medidas antipatrióticas, a exemplo de retardar a sanção de um projeto de lei que trata não do socorro a governadores e prefeitos, mas do apoio a serviços essenciais mantidos por estados e municípios, que interessa a todos os cidadãos brasileiros”.
Há a “necessidade do pagamento [do auxílio emergencial] ser feito imediatamente, com velocidade, com menos burocracia e com dignidade, e não promovendo essas aglomerações desordenadas por negligência do governo federal”. Ele também considera que o auxílio deve ser prorrogado, não encerrando nos três meses previstos, e estendido a outras categorias.
“O Congresso, corretamente, estendeu o auxílio para motoristas de aplicativos, taxistas e outras dezenas de categorias e o presidente da República vetou, de modo, a meu ver, inconstitucional, porque anti-isonômico, e contrário ao interesse público e ao interesse nacional. Creio ser importante a derrubada desse veto”.
O governador do Maranhão defendeu que a agenda econômica deve ser abraçada pelo campo democrático. “Não pertenceu ao Bolsonaro. Essa é a artimanha que ele está fazendo conosco, como se nós quiséssemos o caos econômico e o caos social, como se o campo democrático não tivesse o verdadeiro compromisso com os segmentos populares, aqui abrangidos a legião de micro e pequenos empresários, que precisam do apoio estatal. O crédito pelo mercado, apenas, não chega às mãos das empresas, nem às das grandes”.
“Devemos priorizar uma agenda econômica emergencial que trate de crédito, investimentos, fundos e bancos públicos”, continuou.
Para Dino, “Bolsonaro é aquele que mais empurra a economia a realizar mais gastos, justamente porque ele tenta impedir a adoção de medidas preventivas, notadamente aquelas recomendadas na seara internacional, referentes ao isolamento ou distanciamento social”.
“A alta dependência que o Brasil hoje tem de fornecimento de outros mercados para produtos de tecnologia simples, a exemplo dos próprios respiradores. É uma lição importante e uma temática urgente, garantir o abastecimento pleno de insumos para o mercado brasileiro”, concluiu.
Helder Barbalho
Barbalho disse que seu governo está “colocando de forma muito transparente para a sociedade de que a opção é pela vida, mas que não devemos fortalecer essa polêmica, que me parece completamente inadequada, de que vida e economia são coisas antagônicas, de que para poupar a vida precisa acabar com a economia ou para salvar a economia se faz necessário sacrificar a vida”.
“Esse é o caminho que nós escolhemos, esse é o caminho que nós continuaremos a exercer”, firmou.
“Nós temos que fazer a opção em salvar a vida da população. As medidas de isolamento social são determinantes para que isto permita com que a intensidade do contágio possa estar espaçada de forma que não colapse os sistemas públicos e privados de saúde”.
Para ele, “devemos ser gratos àqueles que estão plenamente se esforçando, ficando em casa, e sermos solidários com aqueles que estão tendo suas atividades econômicas prejudicadas. É fundamental que se faça uma escolha. A vida nós só temos uma; na economia, mesmo com todos os percalços que possam acontecer, é possível uma segunda oportunidade”.
“Já entregamos quatro hospitais de campanha e estamos entregando o segundo de Belém. Só na capital nós estamos indo para 660 leitos de hospitais de campanha”, informou.
O governador concluiu dizendo desejar que “a democracia deste país possa se fortalecer como alicerce institucional e, acima de tudo, que regule a convivência dos diferentes”.
Rui Costa
O último debatedor, o governador da Bahia, Rui Costa, disse que a credibilidade do Brasil para os outros países “foi abaixo, ao subsolo” por conta dos “sucessivos comportamentos, seja de desprezo à ciência, à democracia ou às Relações Internacionais” de Bolsonaro.
“A Organização Mundial de Saúde (OMS) sofre ataques sistemáticos do governo brasileiro, questionando a capacitação de seus membros, das suas orientações”, lembrou.
Esse desgaste internacional terá “um impacto gigantesco quando nós todos estivermos empenhados na retomada da economia, dos negócios e do desenvolvimento”, alertou.
Segundo Rui Costa, “não é fácil enfrentar uma pandemia sem uma coordenação nacional, sem unidade na orientação para a população. Enquanto a OMS e todos os países estão orientando que, enquanto não tiver vacina, se evite o contato social, o presidente [do Brasil] além de falar, tem dado demonstrações explícitas com isso, indo em padarias, em praças, cumprimentando pessoas, abraçando e beijando, colocando em dúvida a existência do vírus”.
“Isso é muito grave”, disse. Bolsonaro também “passa a ferir, agredir e caluniar, com uma milícia digital, governadores e prefeitos”.
“Essa semana o presidente não só incentiva, como propõe que os comerciantes e empresários se organizem para enfrentar, coagir e constranger os governadores. Não é fácil salvar vidas humanas nessas condições”.
Costa também disse que “motivo da saída dos dois ministros é que eles não quiseram, médicos que são, aceitar o receituário médico de alguém que não entende de saúde. Ou seja, eles não aceitaram receitar um medicamento, dar determinadas determinações médicas, dadas por quem não é especialista da área”.
“Em que país do mundo o presidente da República está obrigando seu ministro da Saúde a defender o uso de um remédio, a passar receita pela televisão? É vexatório isso”, completou.
Rui Costa diz ver “o fortalecimento da Federação através da união dos governadores. Isso é novo no Brasil. A partir de 2015 surgiu no nordeste e a partir de 2018 se intensificou no país”.
Para ele, é preciso “eliminar por completo qualquer posição de ataque de um para o outro. Uma coisa é ter discordâncias, outra é fazer ataques frontais à pessoas, lideranças, do nosso espectro político no viés de desqualificar essas opiniões ou essas pessoas. Nós só estaríamos ajudando essas visões fascistas de se fortalecer”.
“Temos que ampliar nossas visões e buscar um novo marco de convivência no Brasil. O patamar de disputa política no Brasil não pode ser esse [dos ataques]”.
O debate foi organizado pelo Observatório da Democracia, que é composto pelas fundações partidárias Astrojildo Pereira (Cidadania23), João Mangabeira (PSB), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (PDT), Maurício Grabois (PCdoB), Ordem Social (PROS) e Perseu Abramo (PT). A Fundação Cláudio Campos também participa.
Veja os demais debates programados para maio:
18/05 – Mesa 5 – Coronavírus, isolamento social e Saúde Pública 2
Coordenação: Maria Célia Vasconcellos, secretária de Saúde de Niterói
Debatedores: Glória Teixeira, professora de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; Rosa Maria Marques, professora titular do departamento de Economia da PUC-SP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e ex-presidente da Associação Brasileira de Economia de Saúde (ABRES); Lígia Bahia, médica sanitarista e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ).
22/05 – Mesa 6 – Congresso, Momento e Opções Políticas
Abertura: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados
Bloco 1 – 14h30:
Debatedores: Acácio Favacho, líder do PROS; Alessandro Molon, líder do PSB; Arnaldo Jardim, líder do Cidadania23; Carlos Sampaio, líder do PSDB; e Enio Verri, líder do PT;
Bloco 2 – 16h30:
Debatedores: Fernanda Melchionna, líder do PSOL; Joênia Wapichana, deputada da Rede; Perpétua Almeida, líder do PCdoB; Wolney Queiroz, líder do PDT.
25/05 – Mesa 7 – Crise, Comunicação e democracia
Coordenação: Henrique Matthiesen (FLB-AP)
Debatedores: Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), ex-deputada federal e presidente do Instituto E Se Fosse Você?; Humberto Costa (PT-PE), senador; Natália Bonavides (PT-RN), deputada federal; Túlio Gadelha (PDT-PE), deputado federal; David Miranda (Psol-RJ), deputado federal; Lídice da Mata (PSB-BA), senadora.
28/05 – Mesa 8 – Jornalismo, Comunicação e Política nas Redes Sociais
Coordenação: Renata Mielle (FMG – Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé)
Debatedores: Glenn Greenwald, jornalista e advogado, um dos fundadores do The Intercept Brasil; Renato Rovai, jornalista e diretor de redação da Revista Fórum; Leonardo Attuch, jornalista e diretor do portal Brasil 247.
PEDRO BIANCO
Os debates são transmitidos no Youtube do Observatório da Democracia: https://bit.ly/35oDPeh
https://www.youtube.com/channel/UCujcl6Y6-BAfsgojXkAQFRg
Pelas fundações:
Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini
Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
Fundação Instituto Cláudio Campos