Revelação do empresário Paulo Marinho, à Folha de S. Paulo, esclarece o motivo da ideia fixa de Bolsonaro em intervir e controlar a Polícia Federal do Rio de Janeiro
A entrevista do empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Jair Bolsonaro, à Folha de S. Paulo deste domingo (17), acrescenta muita luz às investigações do STF sobre quais seriam os interesses do presidente em controlar a superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro.
Marinho conta que entre o primeiro e o segundo turno das eleições foi procurado pelo filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Que ele, Flávio afirmou que soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz, seria deflagrada. Disse também que soube antes através de um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro.
A operação Furna da Onça, que levou dez deputados estaduais para a cadeia, identificou um esquema de lavagem de dinheiro que funcionava dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Um movimentação financeira milionária foi descoberta na conta de Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro. Daí em diante foi desbaratado o esquema do gabinete de Flávio que envolvia funcionários fantasmas na Alerj e no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, pagamentos informais à futura primeira-dama do país, ligações do gabinete de Flávio com Adriano da Nóbrega, miliciano e assassino profissional morto recentemente numa operação policial na Bahia, e outras falcatruas.
Na entrevista, cujos principais trechos nós publicamos abaixo, é revelado que Flávio foi avisado antes, por agentes da PF, de que a operação seria deflagrada. Que foi orientado a demitir parentes de Fabrício Queiroz e de Adriano da Nóbrega de seu gabinete e do gabinete de seu pai. O próprio Queiroz foi afastado em outubro de 2018.
A filha de Fabrício Queiroz, Nathalia Queiroz, era lotada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara Federal, sem morar em Brasília. O delegado instruiu Flávio que orientasse Queiroz a procurar um advogado para se defender. Tudo isso mostra porque Bolsonaro tem ideia fixa de interferir na Polícia Federal do Rio. Para isso ele não vacilou nem em demitir o diretor-geral do órgão, Maurício Valeixo, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Segue o trecho da entrevista que revela o alerta a Flávio sobre a Operação Furna da Onça
Por que o senhor acha que há tanto interesse de Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro?
Eu não sei responder exatamente. Mas eu me recordo de um episódio que aconteceu antes de ele [Bolsonaro] assumir o governo que talvez ilustre um pouco melhor essa questão.
Eu vou te contar uma história que nunca revelei antes porque não tinha razão para falar disso. Eu tenho até datas anotadas e vou ser bem preciso no relato que vou fazer, porque talvez ele explique a sua pergunta.
Quando terminou o segundo turno da eleição [em 28 de outubro], o capitão Bolsonaro fez a primeira reunião de seu futuro ministério em minha casa [no Rio]. Estavam o vice-presidente Hamilton Mourão, o Onyx Lorenzoni [futuro ministro da Casa Civil], o Paulo Guedes [Economia], o Bebianno e o coronel [Miguel Angelo] Braga [Grillo], para discutir o desenho dos ministérios do futuro governo. Ela começou às 9h e terminou às 17h. Foi o último dia que vi o capitão Bolsonaro.
Nunca mais estive com ele.
No dia 12 de dezembro, uma quarta-feira, me liga o senador Flávio Bolsonaro [filho do presidente] me dizendo que queria falar comigo, por sugestão do pai.
A Operação Furna da Onça [que investigava desvio de recursos públicos da Assembleia Legislativa do Rio] já tinha sido detonada e trazido à tona o episódio do [Fabrício] Queiroz [que tinha trabalhado no gabinete de Flávio na Assembleia e é acusado de integrar o esquema].
Flávio estava sendo bombardeado pela mídia. O Queiroz estava sumido.
Ele me disse: ‘Gostaria que você me indicasse um advogado criminalista’. E combinamos de ele vir à minha casa às 8h do dia seguinte, uma quinta-feira, 13 de dezembro.
Passei a mão no telefone e liguei para o advogado Antônio Pitombo, de São Paulo, indicado por mim para defender o capitão no processo da [deputada] Maria do Rosário no STF [Supremo Tribunal Federal].
E ele me indicou um advogado de confiança, Christiano Fragoso, aqui do Rio.
No dia seguinte, quinta-feira, 13, às 8h30, chegam na minha casa Flávio Bolsonaro e o advogado Victor Alves, que trabalha até hoje no gabinete do Flávio, é advogado de confiança dele. Estávamos eu, Christiano Fragoso, Victor e Flávio Bolsonaro. Flávio começa a nos relatar o episódio Queiroz. Ele estava absolutamente transtornado.
E esse advogado, Victor, dizendo ao advogado Christiano que tinha conversado com o Queiroz na véspera e que o Queiroz tinha dado a ele acesso às contas bancárias para ele checar as acusações que pesavam contra o Queiroz.
E o que ele disse que as contas mostravam? O Victor estava absolutamente impressionado com a loucura do Queiroz, que tinha feito uma movimentação bancária de valores absolutamente incompatíveis com tudo o que ele poderia imaginar.
Já o Flávio estava ali lamentando a quebra de confiança do Queiroz em relação a ele. Dizia que tudo aquilo tinha sido uma grande traição, que se sentia muito decepcionado e preocupado com o que esse episódio poderia causar ao governo do pai.
Ele chegou até a ficar emocionado, a lacrimejar.
E Flávio então nos conta a seguinte história: uma semana depois do primeiro turno, o ex-coronel [Miguel] Braga, atual chefe de gabinete dele no Senado, tinha recebido o telefonema de um delegado da Polícia Federal do Rio de Janeiro, dizendo que tinha um assunto do interesse dele, Flávio, e que ele gostaria de falar com o senador.
O Braga disse: ‘Ele está muito ocupado e não costuma atender quem não conhece’.
Estou te contando a narrativa do Flávio e do advogado Victor para nós, Paulo Marinho e Christiano, do outro lado da mesa. O senador contou que disse ao coronel Braga que se encontrasse com essa pessoa [o delegado] para saber do que se tratava. Estava curioso.
E aí marcaram um encontro com esse delegado na porta da Superintendência da Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro.
E quem teria ido a esse encontro?
O coronel Braga, o advogado Victor e, sempre segundo o que eles me contaram, a Val [Meliga], da confiança do Flávio e irmã de dois milicianos que foram presos [na Operação Quatro Elementos].
Eles foram para a porta da Polícia Federal. O delegado tinha dito [ao coronel Braga]: ‘Você vai ver. Quando chegarem, me liga que eu vou sair de dentro do prédio da Polícia Federal’.
O delegado saiu de dentro da superintendência. Na calçada — eu estou contando o que eles me relataram —, o delegado falou: ‘Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio [o filho do presidente era deputado estadual na época]. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz [Nathalia], que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro [que ainda era deputado federal] em Brasília’.
O delegado então disse, segundo eles: ‘Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição [presidencial]’.
Foram embora, agradeceram. Estou contando o que [Flávio Bolsonaro] me falou.
E o que aconteceu depois?
Ele [Flávio] comunicou ao pai [Jair Bolsonaro] o episódio e o pai pediu que demitisse o Queiroz naquele mesmo dia e a filha do Queiroz também. E assim foi feito.
[Fabrício Queiroz foi exonerado no dia 15 de outubro de 2018 do cargo de assessor parlamentar 3 que exercia no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa. A filha dele, Nathalia Melo de Queiroz, foi exonerada no mesmo dia 15 do cargo em comissão de secretário parlamentar no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro].
Vida que segue. O capitão ganha a eleição [no dia 28 de outubro]. Maravilhoso. No dia 8 de novembro é detonada a Operação Furna da Onça, com toda a pompa e circunstância. Começa o episódio Queiroz.
Flávio contou essa história no dia 13 de dezembro de 2018. Como o senhor e o advogado Christiano Fragoso reagiram?
Eu falei [para Flávio]: ‘Está aqui o advogado Christiano Fragoso, recomendado pelo Pitombo, que vai te orientar. Até porque você está com a sua consciência tranquila e não tem o que temer. O que houve foi quebra de confiança do Queiroz em relação a você’.
O Christiano virou-se para o Flávio e disse: ‘Quem precisa de um advogado é o Queiroz’.
E Flávio tinha contato com o Queiroz?
O Flávio disse: ‘Eu não estou mais falando com o Queiroz. Não o atendo mais até para que amanhã ninguém me acuse de que estou orientando o Queiroz nos depoimentos. Quem está falando com o Queiroz é o Victor [advogado amigo da família e que estava na reunião com Paulo Marinho]’. [Na época, a família Bolsonaro dizia não ter contato com Queiroz.]
O Christiano disse: ‘Precisamos arrumar um advogado que sirva ao Queiroz. Não posso ser esse advogado. Até porque sou de uma banca, nós somos top, o Queiroz não teria condições [de contratá-lo], né?’. E ele indicou o advogado Ralph Hage Vianna, que até então eu não conhecia, para representar o Queiroz.
Na mesma quinta-feira, o Queiroz vai ao encontro desse advogado indicado pelo Christiano. E vai acompanhado pelo Victor [o advogado do gabinete de Flávio]. E eu viajei para São Paulo.
O presidente foi informado dessa reunião?
Quando ela terminou, eu liguei para o Gustavo Bebianno e relatei tudo o que ouvi. Ele estava em Brasília, no escritório da transição de governo. Eu disse que era melhor ele contar tudo o que estava acontecendo para o presidente. E assim foi feito.
E o que aconteceu depois?
Eu vou para São Paulo. Como o Antônio Pitombo estava em SP, eu disse: ‘Pitombo, é importante a gente ter uma outra reunião para tratar desse assunto, entender o que está acontecendo e não deixar o negócio desandar’.
Chamei para São Paulo o Victor, advogado do Flávio, que estava tendo contato com o Queiroz, o Ralph Hage Vianna, que se reuniu com o Queiroz, e o Gustavo Bebianno.
Eu estava hospedado no hotel Emiliano e reservei uma sala de reunião. Às 14h30 do dia 14, uma sexta-feira, estavam lá o Victor, o Ralph, o Pitombo, eu e o Gustavo Bebianno.
Os advogados conversaram o tempo todo sobre como foi a conversa do advogado Ralph com o Queiroz, as estratégias, as preocupações.
Na terça-feira seguinte, 18, ocorreu a cerimônia da nossa diplomação —Flávio como senador, e eu suplente dele. Sentamos lado a lado. E ele me disse que precisava conversar.
Eu ia almoçar no restaurante Esplanada Grill, em Ipanema. Combinamos de ele passar lá. Às 13h30, ele apareceu no restaurante e disse: ‘Paulo, eu conversei com o meu pai e ele decidiu que nós vamos montar um outro esquema jurídico, que será comandado por um outro advogado”.
Eu respondi: ‘Flávio, não tem problema, eu desarticulo tudo o que estava articulado. Desejo boa sorte. Se precisar de mim, estou à disposição, como sempre estive’. Um abraço e vida que segue.
Desde então, só fui rever o Flávio no dia em que depus na CPMI das Fake News [em dezembro]. Fui ao plenário do Senado e ele estava lá. Eu o cumprimentei cordialmente, e ele a mim. Nunca mais estive com ele. E isso é tudo.
Flávio Bolsonaro e o Queiroz estão muito envolvidos com tudo que está sendo divulgados na mídia, e é por isto que ele Flávio já recorreu nove vezes para que as invesgigações não continuem por que têm rabo preso, agora com este fato apresentado por Paulo Marinho, mostra que os dois mencionados acima, vou repetir estão híper envolvidos em vários escândalos de corrupção é só apurar que tudo será esclarecido, não pode engavetar a lei é para todos.