“Não queremos medalhas, apenas o respeito aos nossos direitos para defender a vida e proteger os brasileiros”, diz André Luiz Gutierrez, presidente da Cobrapol
Os policiais civis brasileiros também manifestaram o seu repúdio às ofensas de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro aos integrantes da categoria. Na nota intitulada ‘Mercenários’ e ‘assaltantes’ dos cofres públicos são os rentistas que sustentam o SR. Guedes no governo”, o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (COBRAPOL), André Luiz Gutierrez, exige respeito das autoridades a quem põe a vida em risco todos os dias para cumprir sua obrigação de defender a população brasileira.
Mais cedo os policiais federais organizados pela Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef) repudiaram em nota as palavras ofensivas de Paulo Guedes, ministro de Economia do governo Bolsonaro, que insinuou que os policiais se assemelhavam aos assaltantes que estariam se aproveitando da pandemia para extrair recursos públicos não merecidos. A acusação de Guedes se referia ao fato de algumas categorias terem sido excluídas do congelamento e salários imposto pelo poder executivo para a liberação dos recursos emergenciais aos estados e municípios.
Segue a íntegra do manifesto dos policiais civis:
‘MERCENÁRIOS’ E ‘ASSALTANTES’ DOS COFRES PÚBLICOS SÃO OS RENTISTAS QUE SUSTENTAM O SR. GUEDES NO GOVERNO
A COBRAPOL vem a público, mais uma vez, manifestar seu mais veemente repúdio às recentes declarações do ministro Paulo Guedes que, em entrevista à imprensa, pediu aos servidores públicos para não “assaltarem” o Brasil. E foi mais longe ao afirmar que “nossos heróis não são mercenários”, fazendo uma referência às reivindicações do funcionalismo público.
Disse, literalmente: “Nós queremos saber o que podemos fazer de sacrifício pelo Brasil nessa hora. E não o que o Brasil pode fazer por nós. E as medalhas são dadas após a guerra, não antes da guerra. Nossos heróis não são mercenários. Que história é essa de pedir aumento de salário porque um policial vai à rua exercer a sua função, ou porque um médico vai à rua exercer a sua função?”
Guedes, depois de ter chamado os servidores de “parasitas”, comete uma afronta repugnante contra os trabalhadores do Estado, chamando-os, agora, de assaltantes e mercenários, quando o que pleiteamos, os policiais civis e demais categorias que se encontram na linha de frente no combate à maior epidemia que atingiu o país em toda sua história, não é nenhum benefício, mas apenas os direitos temporais que teríamos em períodos de normalidade.
O ministro que falou em “guerra” e em “medalhas”, após seu desfecho, parece desconhecer o fato de que quem está no front são exatamente esses servidores, da saúde, da segurança pública, da assistência social, entre outros, para os quais ele simplesmente propõe cortar parte da linha de suprimento, quando está claro para todos que um fator determinador para derrotar a pandemia e defender a saúde e a vida dos brasileiros é precisamente a valorização dos trabalhadores que se encontram nessas atividades de risco.Guedes quer desarmar os soldados que estão enfrentando o inimigo 24 horas por dia sob todos os riscos, inclusive à sua vida. Estão aí os dados para provar que, proporcionalmente, o Brasil exibe, para nossa tristeza, os números mais elevados de óbitos entre esses servidores.
Portanto, mais uma vez, o ministro, além de desrespeitoso e desonesto com os servidores públicos, pratica mais um ato de covardia.
Não queremos “medalhas”, não, sr Guedes, depois de concluída a batalha, até porque, para vencê-la, precisamos antes defender as nossas vidas e as vidas dos milhões de brasileiros que dependem dos serviços essenciais que prestamos à sociedade. Para vencê-la, o governo não pode abandonar os seus soldados como o ministro pretende, fazendo, como outros, o jogo do inimigo invisível que até hoje já matou mais de 15 mil brasileiros.
É por essa e outras que ele insiste que o Presidente vete o dispositivo da lei aprovada praticamente pela unanimidade dos senadores e deputados federais que excepcionaliza esses servidores públicos da medida de congelamento salarial prevista até o final de 2021 como contrapartida ao apoio aos Estados e municípios.
Esperamos que o Presidente, entre esses servidores públicos e um ministro que sabe muito bem defender os interesses dos bancos e rentistas quando ameaçados, fique com os primeiros, pois os últimos já ganharam muito com a política de juros altos que desidrata os investimentos do país e menospreza legítimos direitos do funcionalismo.
Mercenários e assaltantes dos cofres públicos são exatamente esses rentistas que sustentam politicamente Guedes no Governo e parasitam o desenvolvimento do país.
Diante de um ministro que parece não ter limites no escárnio e nas agressões gratuitas e recorrentes contra os servidores públicos, a COBRAPOL, em nome de suas Federações e Sindicatos e de 200 mil policiais civis, na ativa e aposentados, reafirma, apenas, que a nossa luta também não tem limites para defender nossos representados e suas justas reivindicações.
Brasília (DF), 16 de maio de 2020
ANDRÉ LUIZ GUTIERREZ
Presidente