Com a Covid-19 rondando a Ala Oeste da Casa Branca e dois assessores próximos contagiados, o presidente Donald Trump, que não falava de cloroquina há umas três semanas, confessou aos repórteres que estava, preventivamente, tomando um derivado da droga, a hidroxicloroquina.
“Muito agentes de saúde estão tomando. Por acaso, eu estou tomando. Comecei a tomar há semana e meia. (…) Uma pílula por dia. Eu penso que é bom, Eu ouvi várias histórias tremendas”, disse Trump a jornalistas.
Assim, eram prematuros os elogios ao recuo de Trump sobre a cloroquina, ou como registrara o Washington Post, da sua “obsessão”.
A mídia já relatara como Trump ficou aborrecido por ter gente dele pegando a Covid-19, já que, se pega na Casa Branca, imagine na linha de montagem da GM ou no frigorífico da Swift.
Dificulta a campanha pela volta ao trabalho e a conclamação, “trabalhadores, contaminai-vos”.
O serviçal que está de quarentena servia a comida para Trump e, conforme os jornais de Tio Sam, o presidente bilionário está ficando meio nervoso com gente em volta dele, mas não quer saber de jeito nenhum de máscara facial.
A outra contaminada é porta-voz do vice, Mike Pence, mas esposa de um dos principais assessores de Trump para as grandes jogadas.
“EXEMPLO IRRESPONSÁVEL”
Scott Solomon, professor de medicina da Harvard Medical School, disse que a decisão de Trump de tentar a droga era dele e de seu médico. “Mas o que é irresponsável é o exemplo que ele está dando”, assinalou.
“Minha preocupação é que o público não ouça comentários sobre o uso de hidroxicloroquina e acredite que tomar essa droga para prevenir a Covid-19 não tem riscos. Na verdade, há sérios riscos”, disse o Dr. Steven Nissen, diretor acadêmico do Miller Family Heart, Vascular & Thoracic Institute da Cleveland Clinic.
Mesmo o Dr. Manny Alvarez, editor-chefe do noticiário de saúde da Fox News, disse no ar que a declaração do presidente era “altamente irresponsável”. Ele perguntou o que havia mudado desde que estudos mostraram que a droga não tinha benefícios – nem para casos leves, nem para os graves.
O anúncio de Trump sobre seu uso do derivado da cloroquina veio menos de um mês depois que a FDA emitiu um alerta de não deveria ser usada fora de ensaios clínicos ou hospitais por poder provocar arritmia cardíaca perigosa.
O médico da Casa Branca, Dr. Sean P. Conley, disse que “após inúmeras discussões que ele e eu tivemos sobre as evidências a favor e contra o uso de hidroxicloroquina, concluímos que o benefício potencial do tratamento superava os riscos relativos”. Ele acrescentou que o presidente “está muito bem de saúde e livre de sintomas”.
“Acho uma péssima ideia tomar hidroxicloroquina como medicação preventiva”, disse o Dr. Eric Topol, cardiologista e diretor do Instituto Translacional de Pesquisa Scripps em La Jolla, Califórnia.
“COM QUALQUER UM”
Topol disse que o risco de desenvolver uma arritmia potencialmente fatal por causa da hidroxicloroquina poderia vir sem aviso e não acontece apenas em pessoas com problemas cardíacos. “Não podemos prever isso. Na verdade, isso pode acontecer em pessoas saudáveis”, disse ele. “Pode acontecer com qualquer um.”
A decisão de tomar o remédio, segundo Trump, deveu-se ao seu instinto e baseado em um de seus refrões favoritos: “O que você tem a perder?”
Trump, que com 73 anos é o mais velho presidente em primeiro mandato, é conhecido também por seu amor por fast food e por não se exercitar. No seu check-up no ano passado, ele pesava 110 quilos.
Ao tomar conhecimento do anúncio da recaída de Trump na cloroquina, um apresentador da Fox News, Neil Cavuto, não se conteve: “para qualquer um com condições pré-existentes, isso vai matá-lo. Isso vai matá-lo”.
Deve ser o que está preocupando a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. A um programa de entrevistas da CNN, ela asseverou que “ele é o nosso presidente e eu preferiria que ele não aceitasse algo que não foi aprovado pelos cientistas”. “Especialmente em sua faixa etária e no seu, digamos, grupo de peso: ‘obesos mórbidos'”, acrescentou.