No último dia 19, o Senado aprovou o Projeto de Lei (PL) 1.277/2020, que prevê o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em decorrência da situação emergencial causada pelo coronavírus, até que seja concluído o ano letivo dos estudantes. A proposta foi apresentada diante da intransigência do ministro da Educação bolsonarista, Abraham Weintraub, de rediscutir o calendário da prova.
Após a derrota no Senado, o governo recuou e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), confirmou o adiamento, apontando que a prova deverá ser realizada entre 30 e 60 dias após a data prevista inicialmente, 1º e 8 de novembro.
Para o presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Lucas Chen, o adiamento da prova é necessário, mas, não pode ser uma desculpa para que o governo impeça a realização do Enem 2020.
“Precisamos garantir a entrada dos estudantes na Universidade. Em tempos como esses, não podemos dar brecha para dúvidas e margem para erros, pois o governo Bolsonaro é contra o Enem. Imagina então realizar duas provas do Enem 2020 no ano de 2021?”, disse o estudante ao defender o projeto de adiamento do Enem aprovado no Senado.
Em entrevista à Hora do Povo, Lucas Chen, critica ainda a postura do governo de ignorar a gravidade da pandemia e não oferecer nenhum apoio aos estudantes brasileiros. “O interesse é fingir que não estamos no meio de uma pandemia para forçar a volta precipitada às aulas e aos postos de trabalho”, ressaltou.
Veja abaixo:
O governo insistiu em manter o calendário do Enem, sem levar em consideração a pandemia de coronavírus que o país enfrenta. Por que o calendário não deveria ser mantido?
A situação da pandemia no Brasil é grave e ainda bastante incerta. Enquanto isso, o Presidente da República insiste em negar a ciência e sua visão obscurantista impede maiores esforços para sairmos desta crise. Bolsonaro vai na contramão do mundo inteiro desrespeitando as medidas de controle e combate ao vírus. Afinal de contas, para ele é só uma “gripezinha”.
Não sabemos ainda como o Brasil estará daqui seis meses. Por isso mesmo esticar o prazo do Enem é a garantia de poder realizá-lo.
Weintraub só recuou após o governo sofrer derrota unânime no Senado. O que o projeto determina? Isso é diferente do que propõe o governo?
A votação no Senado foi avassaladora sobre a posição do desequilibrado que se apossou da Presidência da República. Apenas certa extensão do Bolsonaro votou contra o Projeto, e deste nós já esperamos que faça de tudo para bagunçar e desorganizar o Brasil. O que eles queriam mesmo é fingir que não estamos no meio de uma pandemia e forçar às aulas retornarem.
O Senado tomou uma decisão muito importante e acertada ao definir que o adiamento deve respeitar o ano letivo. Esta é uma questão que não estava sendo suficientemente considerada pelas entidades nacionais de estudantes e, portanto uma limitação da bandeira do “Adia ENEM”.
Parabenizamos o esforço dos senadores e a clareza sobre a questão, afinal, precisamos garantir a entrada dos estudantes na Universidade. Em tempos como esses, não podemos dar brecha para dúvidas e margem para erros, pois o governo Bolsonaro é contra o Enem. Imagina então realizar duas do Enem 2020 no ano de 2021?
O governo está propondo que sejam realizados dois tipos de prova: a presencial e o “Enem digital”. Qual seria o prejuízo disso acontecer?
Essa história de Enem Digital parece uma grande sacanagem, duas provas diferentes, portanto com graus de dificuldade diferentes, para comparar candidatos à mesma vaga… Acho que compromete a avaliação e o sistema de ingresso dos estudantes, e vocês sabem que a tática de Bolsonaro e Weintraub é criar problemas para implodir o Enem. Mas, como como ninguém está falando isso, prefiro estudar melhor o assunto…
Prova única e a mesma para todos, já foi testada e retestada, não tem esse risco.
Em muitos estados os estudantes estão com aulas presenciais suspensas e se adaptando ao conteúdo à distância. Como garantir que os estudantes das escolas públicas tenham condições de prestar o Enem?
A desigualdade e a defasagem na educação ficou exposta e aguçada no momento da pandemia. Por óbvio, nossa educação que carece de professores, não teria condições de implementar um modelo de educação que garantisse o aprendizado durante a quarentena. Sem contar a falta de acesso de um terço da população à internet, espaços próprios para estudo, computadores, enfim… Quantas famílias grandes não dividem apenas um ou dois cômodos em casa?
Acho que o principal é garantir um reforço e uma recuperação de todo este conteúdo. Quando as aulas presenciais retornarem, os governos estaduais e municipais deverão ampliar o investimento nas escolas para não considerarmos 2020 um ano perdido. A ampliação da carga horária em mais uma ou duas aulas ao dia pode ser uma solução neste sentido, mas esta medida só poderá ser bem sucedida com a soma dos esforços de todas as parcelas da sociedade: estudantes, familiares, professores, direções e Estado, para definir o plano de recuperação do tempo que passamos em quarentena.
Nossa luta é sem dúvida para garantir o futuro e atender o sonho da juventude de entrar na universidade. Nem a pandemia, nem Bolsonaro podem nos impedir de conquistar o nosso lugar por direito. Não tenho dúvidas que esta juventude que sonha por um amanhã melhor e uma sociedade livre dessas e outras desigualdades sairá da quarentena muito disposta a lutar e reconstruir tudo que foi perdido e destruído pelo coronavírus. Nos colocamos à disposição dos esforços nacionais para defender a vida de nosso povo e construir o Brasil de nossos sonhos.