O Congresso do Diálogo Nacional Sírio (CDNS) começou no dia 30, na cidade russa de Sochi, com a participação de 1.500 delegados de diversas camadas, etnias, religiões e partidos, representando a sociedade síria.
Por iniciativa da Rússia, com apoio do Irã e da Turquia, o CDNS busca ampliar a participação nas negociações de paz que já tiveram rodadas anteriores, a exemplo de encontros apoiados pela ONU em Genebra e apoiados pela Rússia em Astana, capital do Cazaquistão. A finalidade do CDNS é gestar as propostas consensuais a serem levadas para as discussões que acontecerão em breve em Genebra sob os auspícios da ONU.
A declaração de Ghassan Qalla’a, o delegado mais velho no Congresso e presidente da Câmara de Comércio de Damasco, abriu os debates, declarando que a “Síria é o coração pulsante do arabismo e o berço das civilizações”.
Foi nessa condição, esclareceu Qalla’a, que o povo sírio passou pelos últimos sete anos de guerra “sem se enfraquecer, mas tornando-nos mais fortes”.
Foi com essa força, que “os sírios alcançaram – com grande sacrifício – as vitórias sobre os bandos terroristas Takfiri [fanáticos]”.
Ele prosseguiu destacando que “estas vitórias criaram as condições adequadas para anunciarmos ao mundo que nós, sírios, somos capazes de encontrar-nos e ouvirmos uns aos outros para afirmar que a conjuntura nacional nos une para descobrirmos como a nossa pátria se tornará mais forte e melhor, porque ninguém é mais amante da Síria do que os sírios. Poderemos dizer a quem interessar que os de fora tirem as mãos da Síria e parem de interferir em seus assuntos e parem de acender o fogo da sedição e da divisão, pois o nosso povo sofreu ultrajantes intervenções estrangeiras depois de haver sido um exemplo a ser seguido em termos de coexistência, estabilidade e segurança”.
“Síria será apenas para os leais nacionais sírios e somente eles têm o direito de decidir seu futuro”, enfatizou o delegado.
O ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, falou a seguir, destacando que somente o povo sírio é capaz de expressar o direito de autodeterminação da Síria.
“Com o apoio das forças aeroespaciais russas, a Síria foi capaz de destruir as forças terroristas, criando as condições apropriadas para o fim da crise fomentada a partir do exterior”, acrescentou.
Lavrov leu uma mensagem do presidente russo, Vladimir Putin onde declara que a “Rússia teve a iniciativa de convocar este congresso apoiado pela ONU com Irã e Turquia, vizinhos dos países árabes, como parceiros. Buscamos fazer este evento o mais representativo possível, baseado no fato de que somente o povo da Síria tem o direito de determinar o futuro de seu país”.
“Durante os muitos anos da guerra contra o terrorismo na Síria, que tirou a vida de centenas de milhares de sírios, Rússia exerceu todos os esforços possíveis para realizar uma paz firme e duradoura na Síria e para sublinhar a soberania nacional Síria”, acrescentou o presidente russo.
“Com a melhora das condições humanas e o início do processo de reconstrução, aumentou a confiança mútua entre os sírios”, o que, segundo Putin, cria as condições para um diálogo capaz de trazer a paz.
Stafan de Mistura, o enviado pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou que as resoluções do encontro irão ao debate que o seguirá em Genebra.
Uma das primeiras intervenções foi do deputado sírio, Ahmad Al-Kuzbari, que enfatizou que o congresso abre uma rodada de discussões sobre a vida social síria e que isto será reforçado pela escolha de um Comitê Constitucional, mas dentro dos parâmetros nacionais sírios.
“O papel do Comitê será o de debater ou mesmo sugerir mudanças na Constituição, mas não é sua tarefa redigir uma nova”, enfatizou Al-Kuzbari.
“As propostas serão submetidas ao presidente do Congresso Sírio que as enviará para os parlamentares eleitos, preservando a vontade expressa pelo povo sírio nas urnas do país. Qualquer modificação na Constituição será ditada pelo povo sírio e escrita em solo sírio”, finalizou.
Houve um constrangimento no aeroporto de Sochi, quando 70 delegados oposicionistas ligados aos grupos armados, mas que foram convidados, disseram que voltariam, a não ser que fossem retirados todos os símbolos nacionais sírios, mostrando a quem de fato estão conectados: à intervenção estrangeira.
Este pequeno incidente não empanou o CDNS que abriu os trabalhos.
NATHANIEL BRAIA