Com um sistema de distanciamento preventivo amplo e controlado, a Argentina passa pela pandemia do Covid-19 com resultados melhores que muitos países da América. Na terça-feira, 26, o país tinha 12.628 casos confirmados e 471 mortes. Já o Brasil contava com 374.898 casos e 23.473 falecidos.
Em termos de mortes por milhão, o Brasil chega a 111 e a Argentina a 10,6.
O presidente Alberto Fernández, que em 10 de dezembro, junto com Cristina Kirchner na vice-presidência, assumiu o governo do país destroçado pela política neoliberal de seu antecessor Maurício Macri, tomou medidas firmes que priorizaram a saúde da população. “Muitos me diziam que a economia ia se destruir com a quarentena. Se o dilema é a economia ou a vida, eu escolho a vida. E vamos ver como ordenar a economia”, afirmou em entrevista no canal de televisão C5N, na segunda-feira, 25.
Consciente dos problemas que sua decisão implicava, o governo foi aplicando uma série de medidas complementares direcionadas a orientar socialmente a quarentena e garantir seu cumprimento. Convocou um comitê de especialistas, integrado pelos principais epidemiologistas do país, para que o assessorasse nas diferentes decisões; seus integrantes explicaram detalhadamente as medidas nos meios de comunicação: não era o governo quem falava, era «a ciência».
Fernández destacou que “até agora as coisas saíram bem”, já que se conseguiu “conter a velocidade dos contágios e ainda reconstruir um sistema de saúde que não existia mais”. O presidente comparou com a situação da Itália e Espanha “onde os médicos se enfrentaram a um problema ético” de decidir a quem atender devido ao colapso do sistema sanitário. “Necessitávamos tempo, o ganhamos e conseguimos construir o que nós acreditamos que é necessário para poder controlar a pandemia, para que todos possam ser atendidos; não me perdoaria ter que dizer a alguém: ‘Não há uma cama para você’”, afirmou. E ressaltou “o papel da obra pública, do investimento público como motor do processo econômico no contexto de crise”.
O chefe de Estado se referiu à sugestão de incluir economistas dentro do comitê de especialistas que o assessora na hora de decidir como continuar com o isolamento social, preventivo e obrigatório. “Não posso fazer uma mesa com os economistas em geral porque sua vontade não é necessariamente salvar vidas. Para debater como retomar a produção, claro que os chamamos”, declarou.
Alberto Fernández garantiu que “não é verdade que se abrirmos a quarentena a economia se torna próspera”. Disse que o governo está pensando no “dia depois” da pandemia e disse que “vamos ajudar todos os que necessitem ajuda”.
“O problema da economia não é a quarentena, é a pandemia que afetou o mundo. Devemos desterrar a miserabilidade da política que para prejudicar o outro usa qualquer argumento, não podem dizer essas coisas, não é verdade que se abrirmos a quarentena a economia se torna próspera”, precisou Fernández.
“Na Cidade de Buenos Aires se habilitaram 60% dos pontos comerciais, dos quais abriram 40%. Nesses 40% se vendeu 30% do que era vendido antes. Não estão aí os consumidores mas, além disso, abrir os comércios é um convite a que as pessoas saiam de casa”, constatou na entrevista. Dias depois de ter flexibilizado o comércio, o prefeito da capital argentina, Rodríguez Larreta, que é de oposição, diante de um aumento de casos da doença, reconsiderou a decisão e se uniu a Fernández no combate à pandemia de forma unificada.
O governo organizou um amplo plano de assistência social: proporcionou um bônus extraordinário para os aposentados de menores ingressos (três milhões de pessoas) e para aquelas que recebem o Subsídio Universal por Filho e por Gravidez (um plano de transferência de renda às mães de baixos recursos que chega a quase quatro milhões de pessoas), reforçou o fornecimento de alimentos aos comedores escolares, que começaram a entregar a comida em porções para que as crianças as levassem a suas casas, e criou um novo programa de ajuda, a Renda Familiar de Emergência, destinado ao amplo universo dos trabalhadores informais (oito milhões de pessoas).
O objetivo é atingir esse espectro de pessoas, que inclui outras medidas até atingir cerca de 1,3% do PIB, e garantir o cumprimento do distanciamento nos bairros populares, cujos moradores necessitam sair a trabalhar para conseguir o sustento mínimo e não podem recorrer ao teletrabalho, mais comum entre membros das classes médias, assinalou o jornalista Jose Natanson, em artigo na Revista de ciências sociais, Nueva Sociedad.
“Alguém se ofendeu porque eu disse que a quarentena ia durar todo o tempo que seja necessário, também digo que vamos ajudar todos os que necessitem ajuda. A etapa do salve-se quem puder, da meritocracia, para mim está morta na Argentina porque a meritocracia é falsa, não é só o mérito o que nos faz chegar, senão a oportunidade que nos dão para chegar”, expressou o presidente depois de haver estendido o isolamento social, preventivo e obrigatório até 7 de junho.
Fernández adiantou que no seu governo estão “pensando no dia depois” e afirmou que pensa em um “novo contrato social” para “fazer um país melhor, onde a igualdade seja a regra e a solidariedade o mecanismo”. “Podemos esperar para fazer esse anúncio, mas estamos trabalhando. Temos que por em marcha um pais federal, mais justo e igualitário”, ressaltou.
Na terça-feira, 26, Alberto Fernández e o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, anunciaram uma serie de obras de infraestrutura para regiões da Grande Buenos Aires que estão com maior controle do contágio do vírus.
Trata-se de um plano de obras públicas no marco do Fundo de Infraestrutura Municipal (FIM), que “gerarão mais de 8.700 postos de trabalho, com paridade de gênero”, informou o jornal Página 12.