O ex-presidente do BC, diferente de outros economistas, defende aumento dos gastos públicos exclusivamente através do endividamento
O ex-presidente do Banco Central (BC) e atual presidente do conselho do Credit Suisse, Ilan Goldfajn, uma dos próceres do neoliberalismo e defensor de políticas fiscais restritivas, avalia como grave a crise que se abateu na economia mundial e brasileira e passou a defender aumentar os gastos públicos e a intervenção do Estado na economia.
Ele afirmou em seminário de comissão externa da Câmara dos Deputados que a retomada da atividade econômica pós-pandemia vai depender do suporte aos mais vulneráveis por parte do Estado durante a crise.
“Esse é o momento que nós precisamos dar suporte para os mais vulneráveis. Nós precisamos dar a mão para quem precisa de ajuda para atravessar essa ponte. Isso significa priorizar”, afirmou o economista, que participou do seminário remoto presidido pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia na quinta-feira (29).
“E eu vou logo dizendo que na minha opinião tem duas áreas que são as mais importantes. A primeira é obviamente a garantia do auxílio emergencial, que essa Casa foi fundamental para o seu desenho inicial. O segundo é a ideia de chegar nas pequenas e médias empresas. E nesse ponto ainda precisamos melhorar”.
De acordo com Goldfajn, a crise atual é diferente das anteriores porque o mundo só terá condições de se recuperar quando os avanços da ciência e da medicina ou a curva de contágio diminuir. “O que a política econômica pode e deve fazer é mitigar e dar suporte enquanto passamos por essa fase”, disse.
Para ele, a única forma que temos agora de controlar o vírus é a quarentena, e isso tem um custo.
“Os governos entenderam de uma forma gral que o custo não vai ser pequeno e que é preciso gastar. No mundo todo estão gastando e fazendo intervenções”.
Sobre a polêmica sobre a abertura dos serviços não essenciais defendida pelo governo de Jair Bolsonaro, Goldfajn afirma que o prejuízo será muito maior se isso for feito de forma irresponsável.
“A quarentena não tem sido implementada com disciplina e com a liderança suficiente para nos garantir que teremos uma saída segura para a economia. Se tivermos que voltar atrás depois de abrir, a crise vai ser ainda pior”.
Com relação às medidas monetárias para enfrentamento da crise, Goldfajn ainda mantém posições tímidas. Ele admite que os bancos estão empoçando a liquidez obtida com a ajuda do Banco Central, mas não toca na proposta de emissão de moeda como uma das alternativas para garantir os recursos para a ajuda e o investimentos públicos.
Ele admitiu que a chegada do coronavírus em um momento de ajuste fiscal nos coloca “em uma situação mais frágil”. Destacou que as ações do Banco Central – especificamente as ligadas à liquidez – foram acertadas, mas que o dinheiro não está chegando na ponta.
“Agora: liquidez não é tudo. Nesse momento o estado tem que participar e dar as garantias (…) o problema é isso chegar na ponta. E se preciso teremos que assumir as perdas”, disse, insistindo na via única do mercado financeiro.
“Primeiro, antes de tudo, precisamos ter empatia, precisamos seguir a ciência, precisamos cuidar da questão do vírus e valorizar a vida. A crise é séria, mas é temporária. Sair antes da hora não vai resolver. Temos que passar desse teste de estresse com liderança. A Câmara tem dado seus passos e tenho certeza que pode liderar esse processo”.