“O confronto não fortalece a democracia. Pelo contrário, enfraquece e justifica lamentavelmente o discurso autoritário daqueles que pretendem retomar a ditadura no Brasil e desejariam justificar por confrontos públicos em ruas, praças e avenidas a necessidade de intervenção militar”, disse o governador
“São Paulo é o lugar da democracia. Aqui começaram os atos pela Diretas Já. Aqui se preserva a democracia. Por isso, estou em acordo com a Prefeitura de São Paulo para que não tenhamos mais duas manifestações no mesmo local, horário e dia”, afirmou nesta segunda-feira (01) o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O governo de São Paulo proibirá que manifestações antagônicas aconteçam no mesmo dia e local na cidade de São Paulo. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (01) após atos realizados neste domingo terem terminado em confusão e sido dispersados pela polícia com bombas de gás lacrimogênio. “Não vamos permitir esse tipo de confronto”, assinalou Doria.
Segue a íntegra da fala do governador
“Sobre os acontecimentos na Avenida Paulista ontem, domingo. Todos têm direito a se manifestar mas ninguém tem direito a agredir.
A partir de agora não teremos mais duas manifestações no mesmo local, no mesmo horário, no mesmo dia.
Graças à intervenção da Polícia Militar ontem (domingo) na Avenida Paulista evitamos uma situação de confronto que poderia trazer resultados gravíssimos de pessoas feridas de parte a parte.
Por isso a decisão de orientar os grupos pró-governo Bolsonaro e os grupos pró-democracia para que utilizem dias distintos para suas manifestações e façam com liberdade plena e, obviamente, com acompanhamento e proteção da Polícia Militar do estado de São Paulo. A orientação é para que possam fazê-lo aos finais de semana, repito, em dias distintos e jamais no mesmo dia, no mesmo horário e no mesmo local.
O local poderá ser o mesmo, porém em dias diferentes. Poderemos alternar também, como forma de garantir o direito igual às duas diferentes faces que temos nessas manifestações pró-Bolsonaro e contra Bolsonaro.
A Polícia Militar não é a favor de um lado e nem de outro. Mas quero registrar aqui que estamos assistindo um momento muito difícil da vida do país. Manifestações ocorreram em várias capitais brasileiras, não foi apenas em São Paulo. Tudo que nós não precisamos neste momento é de confronto.
O confronto não fortalece a democracia. Pelo contrário, enfraquece e justifica lamentavelmente o discurso autoritário daqueles que pretendem retomar a ditadura no Brasil e desejariam justificar por confrontos públicos em ruas e praças e avenidas a necessidade de intervenção militar. A resposta de São Paulo é não. Aqui não!
Por isso mesmo vamos instruir para que manifestações possam ocorrer em dias distintos. E não há nenhuma razão para que qualquer movimento autoritário venha se justificar por conflitos de rua ou manifestações de parte à parte para apoiar um projeto autoritário no país.
Nós já vivemos a pior crise de saúde do século, a mais grave crise social, a mais grave crise econômica e, agora, a maior agressão à democracia desde a ditadura em 1964. Chega! O Brasil não pode suportar circunstâncias como esta no momento em que temos que, todos, estarmos unidos para combater o vírus. Não faz sentido valorizar e apoiar nenhuma medida autoritária.
E deixo aqui uma reflexão para os que estão nos assistindo ou ouvindo, lendo e acompanhando. Qual é o sentido de um presidente da República desfilar à cavalo em meio a trinta mil mortos pelo coronavírus? Qual é o sentido? Qual é a razão? O que ampara um ato desta natureza em meio a uma pandemia com mais de 500 mil brasileiros adoentados, milhares que já perderam as suas vidas?
O presidente passeia à cavalo enquanto a pandemia galopa. Bolsonaro passeia à cavalo e a crise econômica segue sem rédea. Volto aqui, como governador de São Paulo a fazer um apelo ao presidente da República para que ele assuma seu verdadeiro e real papel de Presidente da República do Brasil.
O presidente Bolsonaro não pode ser presidente apenas de bolsonaristas e daqueles que o defendem, protegem e apoiam. Ele deve ser o presidente de todos os brasileiros.
Se tiver gestos de paz, presidente, o povo saberá compreender e respeitará. Enquanto o senhor tiver gestos divisionistas, utilizando redes sociais ou outros mecanismos para hostilizar os brasileiros que não lhe apoiam, a dificuldade de vencer a pandemia e salvar vidas será ainda maior.
Volto a repetir, como governador de São Paulo, presidente Bolsonaro, a hora não é de divisão a hora é de união, união pela paz, pelo entendimento e pela vida de milhões de brasileiros.”