“Se o país sair dessa situação e for direto para o ajuste fiscal, o tombo da economia vai ser maior. O governo precisa fazer o investimento público com seus meios, buscando recursos junto ao Banco Central, com o BNDES aumentando os seus desembolsos”, defende o professor da FGV, Nelson Marconi
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Nelson Marconi é mais um dos economistas que defende que a resposta à crise gerada pela pandemia do novo coronavírus – e suas consequências – seja através da firme ação do Estado e do aumento dos gastos públicos. Em entrevista concedida ao portal G1, Marconi afirma que o setor privado não terá forças para ajudar na recuperação da economia – como pretende Paulo Guedes, ministro da Economia.
“Não será o setor privado que vai conseguir tirar a economia do buraco. Nesse cenário, o único que pode investir é o setor público porque a decisão de investimento independe desse quadro todo, da quebra das empresas e do aumento do desemprego”, afirma.
“A solução de financiar (gastos) com a emissão de moeda é a menos custosa para o país e outras economia estão fazendo a mesma coisa”, diz.
De acordo com o economista, a queda do PIB será ainda mais forte esse ano diante da inércia do governo de tomar “as medidas que precisam ser adotadas”. De acordo com o IBGE, a economia do país recuou 1,5% no primeiro trimestre, fruto da política econômica que antecedeu a pandemia e de seus efeitos na última quinzena de março.
“Quanto mais tempo o governo demora para fazer um enfrentamento incisivo da pandemia no país, mais tempo leva para a economia voltar para a normalidade. Do ponto de vista social, tudo leva a crer que a crise vai ser muito maior”, afirma Marconi.
Para ele, o governo errou na demora em liberar a renda emergencial. “O que faz as pessoas irem para a rua é a necessidade de ter algum recurso”. “O segundo erro é que o governo insiste em tratar a questão fiscal dessa crise da forma tradicional. Na verdade, dado que é uma situação anormal, ele precisaria tratar isso também de forma diferente. Ele precisaria emitir moeda. Há todo um mecanismo de venda de títulos do Tesouro para o Banco Central que permitiria ao governo emitir moeda e financiar esse gasto adicional de uma forma mais fácil, sem emitir dívida no mercado”, defende.
A insistência no ajuste fiscal por parte da equipe econômica do governo como forma de sanar as contas públicas no período pós-pandemia seria, para o economista, fator que agravaria ainda mais a situação do país.
“Se o país sair dessa situação e for direto para o ajuste fiscal, o tombo da economia vai ser maior. O governo precisa fazer o investimento público por seus próprios meios, buscando recursos junto ao Banco Central, com o BNDES aumentando os seus desembolsos”, defende Nelson Marconi.
“Nós estamos numa situação sui generis”, explica o economista. “O setor privado não vai investir num cenário desse. Ele está quebrado. Não vai ter demanda no mercado. Não será o setor privado que vai conseguir tirar a economia do buraco. Nesse momento, nós vamos ter de aumentar o gasto do setor público para poder tirar a economia do buraco. Inclusive, se o governo aumentasse o investimento público na área de saúde e saneamento básico, esse investimento, além de gerar mais renda na economia, ajudaria o país a sair da pandemia porque melhoraria os indicadores de saneamento. Seria a melhor solução, mas o governo parece que não está preocupado em caminhar nesse sentido”.
“O investimento público pode ajudar a retomar a atividade econômica e, com isso, aumentar a arrecadação do governo. A relação dívida/PIB também começa a melhorar depois de algum tempo porque vai haver crescimento”, enfatiza o professor da FGV.