A insanidade e o desprezo do presidente para com a população explica o motivo de seu veto desta quarta-feira (03) aos R$ 8,6 bilhões que o Congresso aprovou para ajudar a combater a Covid-19
Jair Bolsonaro voltou a fazer pouco caso com a morte dos brasileiros, vítimas da pandemia da Covid-19. “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, disse ele aos seus seguidores, na terça-feira (02), na porta do Palácio do Alvorada.
No dia seguinte, um novo recorde. Mais 1.349 pessoas tiveram suas vidas interrompidas em 24 horas pelo coronavírus. Este foi o “destino” traçado para essas pessoas pela negação da realidade e a sabotagem do presidente. O país já tem 32.548 mortes e 584.016 casos confirmados de Covid-19. A situação poderia ser muito mais grave do que essa caso os governadores e prefeitos não determinassem quarentena, inclusive lockdown em várias cidades, e com isso terem conseguido diminuir a curva do crescimento exponencial da Covid-19. Apesar disso, nas últimas 24 horas, foram contabilizados 28.633 novos casos da infecção respiratória provocada pelo novo coronavírus no País.
Um dia antes de vetar a destinação de R$ 8,6 bilhões, aprovados por unanimidade pelo Congresso, para a combate à pandemia, Bolsonaro disse, sem a menor base na realidade, que não faltou atendimento e respiradores aos pacientes.
“Ninguém faleceu, pelo que eu tenho conhecimento, pode ser que eu esteja equivocado, por falta de UTI ou respirador. Então o vírus é uma coisa que vai pegar em todo mundo. Não precisava ter grande parte da imprensa criado esse estado de pânico junto à população”, afirmou Bolsonaro.
O que ele queria – e quer – é que se fique indiferente à esse morticínio generalizado, fruto de uma das maiores tragédias sanitárias que o Brasil já viveu.
Esse “destino de todos”, que Bolsonaro afirma ser inevitável, poderia ser evitado sim para um número muito grande de pessoas. Pessoas que esperaram sem sucesso nas filas de leitos de UTI no Rio de Janeiro, no Pará, no Amazonas, em Roraima, e nas periferias de grandes cidades.
Ele disse que ninguém faleceu por falta de respiradores. Mentira. Bolsonaro deve estar vivendo em outro planeta. As filas de leito de UTI não deveriam existir mas elas são mostradas todos os dias. Quando um paciente tem indicação de UTI, a internação tem que ser imediata. Não pode aguardar na fila. Não pode existir fila. Se houver indicação, o leito tem que aparecer na hora, senão ele morre na emergência ou na enfermaria. E é isso o que está ocorrendo.
Se o presidente parasse de passear à cavalo, de helicóptero, de jet ski, de aglomerar seus seguidores toda semana em frente ao Palácio, e se preocupasse em analisar minimamente os dados produzidos por seu próprio ministério, ele não diria esses absurdos que disse na terça-feira.
Se ele visitasse algum hospital, em qualquer lugar do país, ele poderia ver com seus próprios olhos o drama das “filas de UTI” e das pessoas morrendo nas salas de espera, que ele disse que não existem.
Mas, sua cabeça só se dedica a criar crises quase diárias. Ele só ataca o Congresso, o STF, os governadores, o ex-ministro Moro e todos os demais desafetos políticos. Não governa.
Essa atitude de zombar da situação e do drama da população não é de hoje. Em 20 de abril, quando o país registrava mais de 2,5 mil mortes, Bolsonaro foi questionado a respeito e respondeu: “Ô, cara, quem fala de… Eu não sou coveiro, tá certo?”. Em 28 de abril, o Brasil superou a China ao ultrapassar a marca de 5 mil mortos.
Confrontado com a informação, Bolsonaro indagou: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” No dia seguinte, o presidente disse que a cobrança sobre mortes por coronavírus tinha de ser feita a governadores e prefeitos. “O Supremo decidiu que quem decide essas questões [de combate ao coronavírus] são governadores e prefeitos. Então, cobrem deles. A minha opinião não vale”, declarou na ocasião.
Por tudo isso Bolsonaro vem sendo visto no mundo inteiro como um perigo para a sua população. O Washington Post classificou o brasileiro como um negacionista irresponsável. Quando ele disse o “e daí?”, o jornal inglês, The Guardian, deu em manchete: “So What? [e daí?] Bolsonaro desdenha do crescente total de mortos pelo coronavírus no Brasil.”
A norte-americana Bloomberg assinalou que Bolsonaro se recusou a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de seu Ministério da Saúde no combate ao coronavírus. “Ele criticou os governadores que pediram quarentena […] foi pessoalmente às ruas sem máscara protetora, apertando as mãos e visitando padarias e mercados lotados”.
O jornal argentino Clarín afirmou que Bolsonaro “menosprezou a aceleração dos contágios e ironizou sobre seu segundo nome”, acrescentando que o presidente brasileiro “se recusou” a falar de comentário de Donald Trump que era ‘séria’ a crise de saúde no Brasil e poderia suspender os voos para Miami.
Para o Página 12, Bolsonaro “volta a surpreender por sua falta de sensibilidade” diante da pandemia do coronavírus. “Desde o começo da pandemia, Bolsonaro se opõe à quarentena nos Estados e minimiza o impacto do que chama de ‘gripezinha’”.
A revista britânica The Economist afirmou, em matéria publicada neste fim de semana, que Jair Bolsonaro dá sinais de que está acometido de insanidade mental. “Mesmo para seus próprios padrões, a violação de Bolsonaro de seu dever principal de proteger vidas foi longe demais. Grande parte do governo o trata como um parente difícil que mostra sinais de insanidade”, diz a revista.
“A decisão de Bolsonaro de minar os esforços de seu próprio governo para conter o vírus pode marcar o começo do fim de sua presidência”, acrescenta a Economist.
Aqui no Brasil também é crescente o número de pessoas que percebem a incapacidade de Bolsonaro para governar. As pesquisas têm mostrado isso.