“O Brasil perde um grande Brasileiro, com B maiúsculo”, afirma a nota da UFRJ, universidade da qual foi reitor
Morreu na manhã desta sexta-feira (5), aos 83 anos, Carlos Lessa, um dos grandes economistas do país e um defensor do pensamento nacional desenvolvimentista. Lessa era apaixonado pelo Brasil. Por sua luta foi exilado no Chile após o golpe militar de 64.
Dedicou toda a sua vida perseguindo o objetivo político de conquistar um Brasil desenvolvido e soberano. Lessa foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do BNDES. Ele ajudou a fundar o Instituto de Economia da Unicamp e ministrou aulas no Instituto Rio Branco do Itamaraty.
O professor Carlos Lessa estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. A causa da morte foi Covid-19. A informação foi confirmada pela universidade e pelo filho Rodrigo Lessa, que publicou uma mensagem sobre o falecimento do pai em uma rede social. Ele deixa três filhos e netos.
“Meu amado pai foi hoje as 5 horas da manhã descansar. A tristeza é enorme. Seu último ano de vida foi de muito sofrimento e provação. O legado que ele deixou não foi pequeno. Foi um exemplo de amor incondicional pelo Brasil, coerência e honestidade intelectual, espírito público, um professor como poucos e uma alma generosa que sempre ajudou a todos que podia quando estava a seu alcance, um grande amigo . Que descanse em paz”, afirmou Rodrigo Lessa, em uma rede social.
A UFRJ divulgou uma nota em seu site afirmando que Carlos Lessa sempre trabalhou pela universidade, com respeito às decisões dos colegiados e às instâncias administrativas. Na posse como reitor, Lessa entregou ao então ministro Paulo Renato de Souza um plano emergencial propondo ações imediatas para revitalizar a instituição. A universidade decretou luto oficial de três dias. “A Reitoria da UFRJ lamenta profundamente a perda de Lessa e presta condolências à família e aos amigos. O Brasil perde um grande Brasileiro, com B maiúsculo”, afirma a nota da UFRJ.
Lessa foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no início do governo Lula, em 2003, sob indicação dos economistas Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares. Ele ficou de janeiro de 2003 a novembro de 2004, quando foi demitido e substituído por Guido Mantega.
Sua demissão se deu após dizer à Folha que a gestão do então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era um “pesadelo”. Na época, os dois divergiam com relação ao valor da extinta TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que indexava os contratos do banco.
“Estou absolutamente convencido de que o presidente do Banco Central faz parte de uma articulação para desmontar o BNDES. Não sei se ele é o financiador da orquestra, mas ele é o regente”, afirmou na entrevista, que foi considerada pelo governo Lula como a gota d’água para sua substituição no comando do banco.
Em nota, o ex-presidente lamentou a morte de Lessa. “O país perde hoje um grande brasileiro. Mas seu exemplo, suas ideias e suas lições permanecem, para aprendermos e nos inspirarmos para a construção de dias mais felizes”, afirmou.
Defensor intransigente dos interesses nacionais, Calos Lessa travou uma disputa bilionária com a multinacional americana de energia, a AES, que era dona da Eletropaulo e pretendia dar um calote no banco. Após a efetivação do calote da americana em dívida assumida na privatização da empresa, o banco, sob o comando de Lessa, acabou se tornando dono de ações da distribuidora.
Realmente, ele era considerado um intransigente por algumas pessoas. Principalmente quando o assunto eram os interesses nacionais e o bem estar do povo brasileiro. Ele não arredava o pé, como fez no caso AES e o BNDES.
Fausto Oliveira, do Portal Disparada fez uma homenagem pessoal a Lessa. “Para além da necessária memória biográfica deste grande brasileiro, contudo, eu contribuo aqui com pequena homenagem pessoal, recordando uma aula inaugural dada por Lessa aos alunos do campus da Praia Vermelha, da UFRJ, em algum ano da década de 90. Diante de um bando de garotos oriundos da classe média consumista e ignara a respeito de qualquer sentido profundo de nação, Lessa perguntava: “E a Alma Brasileira? Já pensaram nisso? Como vocês acham que está a Alma Brasileira?”.
O médico sanitarista e ex-Secretário de Saúde do Rio de Janeiro no governo Leonel Brizola, Eduardo Costa, lamentou a perda de Carlos Lessa para a Covid. “Estamos mais sós!”, disse ele.
“Junto-me aos economistas e nacionalistas brasileiros nessa hora triste da despedida de Carlos Lessa. Fui seu secretário-executivo quando organizamos com Joao Sicsú e muitos pensadores econômicos e sociais o INOVA RIO para analisar propostas de desenvolvimento para o Rio de Janeiro em 2014”, lembrou.
“Naquela época”, acrescentou Costa, “já com alguma dificuldade física, fez questão de ir pessoalmente à rua para protestar contra o Leilão de Libra, apesar do aparato repressivo montado pelo governo do Rio”.
“E de muitas formas, inclusive em alguns momentos divergindo, interagimos e fomos parceiros nas lutas em defesa do Brasil e na busca da verdade e do saber popular, mascarados por elites e elitistas que tem impedido o desenvolvimento autônomo do Brasil, única forma de tirar milhões de brasileiros da miséria, abandono e falta de oportunidades para se educar e trabalhar em condições decentes. A família de Carlos Lessa levo meus sentidos pêsames!”, completou Eduardo.
A família de Carlos Lessa informou que fará uma cerimônia virtual em função da pandemia. Nós, do HP, que sempre tivemos Lessa como um grande amigo, e um grande parceiro por um Brasil próspero, soberano e justo, prestamos também aqui a nossa homenagem a esse grande patriota. Nossos sentimentos aos familiares e amigos de Carlos Lessa.