“Diga-me: Como é possível vir com essa conversa de Terra plana nessa altura do campeonato? Estamos no século 21”, disse ele, sobre Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro
“É inaceitável tentar envolver as Forças Armadas em uma ruptura”, disse o tenente-brigadeiro-do-ar Sérgio Xavier Ferolla, em entrevista a Marcelo Godoy, repórter especial do Estadão. “Heleno está sendo uma decepção. Ele está em uma posição em que devia pensar duas vezes antes de abrir a boca, pois deve dar o exemplo”, acrescentou Ferolla, ao falar da tentativa do ministro de vincular os atos de vandalismo de uns poucos, após a manifestação pela democracia, à maioria das pessoas que foi pacificamente protestar contra Bolsonaro.
As críticas de setores da Aeronáutica ao governo surgiram depois que Bolsonaro assinou decreto autorizando o Exército a ter o direito de possuir aeronaves de asa fixa. O decreto, que tinha sido publicado no dia 2 de junho, foi anulado nesta segunda-feira (08).
O texto dizia que os Comandos da Marinha e da Aeronáutica iriam cooperar para a reestruturação da Aviação do Exército e que este utilizaria a rede nacional de aeródromos, além de contar com o apoio de instalações e serviços aeronáuticos das outras duas Forças.
“Eu, como ministro do STM, julgava pessoas e não ideologias”, afirmou Ferolla. Para ele, um governante não pode escolher um delegado da PF porque é amigo do presidente ou do ministro, nem juiz pode se meter em política. Todos devem dar o exemplo.
O brigadeiro conhece de longa data o guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. “Diga-me: Como é possível vir com essa conversa de Terra plana nessa altura do campeonato? Estamos no século 21. E tem dois amigos dele no governo: o ministro da Educação, esse Weintraub, e o das Relações Exteriores, o Ernesto Araújo”, destacou.
Ferolla testemunhou a fala de Abraham Weintraub na posse do reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia. “Um discurso que qualquer caminhoneiro faria melhor.” Por fim, o brigadeiro conta sua impressão sobre o vídeo da reunião presidencial do dia 22 de abril: “Esse vídeo é um exemplo: dentro de um prostíbulo seria imoral.” E Ferolla explica por quê.
“Cria-se um ambiente em que ninguém respeita nada. Isso é falta de liderança. O chefe tem de dar o exemplo. É aqui onde Trump e Bolsonaro falharam miseravelmente: o exemplo. O caso de Bolsonaro seria agravado por lideranças militares que o cercam e assistem a tudo em silêncio. E, quando falam, apenas repetem o radicalismo, as bravatas e os desmandos do bolsonarismo”, completou.